MEIO AMBIENTE

Espécie rara e ameaçada de borboleta é encontrada em Brumadinho

Parides burchellanus, também conhecida como Ribeirinha, foi registrada por equipe de biólogos

Borboleta Ribeirinha ameaçada de extinção é encontrada em Brumadinho - Divulgação

Uma espécie rara e ameaçada de borboleta, registrada há mais de 10 anos na região de Brumadinho, em Minas Gerais, foi reencontrada este mês durante as atividades de monitoramento de fauna realizada por pesquisadores acadêmicos e pela equipe de biólogos da Vale. Chamada popularmente de Ribeirinha, a espécie conhecida pelos cientistas como Parides burchellanus está na lista nacional de animais brasileiros ameaçados de extinção, e na lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

Em todo o país, a borboleta é encontrada em apenas três localidades, Planaltina (DF), na Serra da Canastra (MG) e em Brumadinho. Vivendo isoladas e em populações pequenas, o crescimento urbano e as atividades rurais são os principais fatores que afetam as matas de galeria, área onde a espécie habita.

Os pesquisadores encontraram cinco populações da borboleta Ribeirinha, sendo que em três áreas elas foram documentadas pela primeira vez. Até o momento, foram identificados cerca de 60 indivíduos, sendo que 56% são machos e jovens. A espécie foi encontrada especialmente na planta Aristolochia chamissonis, uma trepadeira também conhecida como ‘jarrinha’ ou ‘papo-de-peru’, que é alimento exclusivo destas borboletas durante a fase larval.

A bióloga e especialista em borboletas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marina Beirão, alerta que borboletas ameaçadas de extinção, no geral, possuem populações reduzidas, e estão cada vez mais difíceis de serem vistas na natureza.

"A perda do habitat natural, devido ao desmatamento, poluição e outras intervenções humanas pode levar ao desaparecimento destas espécies. Por isso, o programa de monitoramento é de extrema importância para gerar conhecimento científico e subsidiar projetos para recuperação e conservação das áreas impactadas pelo rompimento e áreas do entorno onde estão sendo registrados estes animais", destaca.

Quando uma espécie é avistada, os biólogos realizam a captura com o auxílio de redes. Cada borboleta é registrada e recebe uma marcação utilizando uma caneta de tinta atóxica. Além disso, são compilados dados como sexo, idade estimada e comprimento. Após o registro fotográfico e o georreferenciamento, elas são soltas no mesmo local da captura. Todo o processo ajuda a entender o comportamento destes animais e estimar a distribuição da espécie ao longo da área.

De diferentes espécies, cores e formatos, as borboletas possuem um papel fundamental para o ecossistema. Assim como as abelhas e outros animais, elas também são polinizadoras e contribuem para a manutenção da biodiversidade e a formação de novas florestas. Elas capturam o pólen em seu corpo e espirotromba (estrutura sugadora do aparelho bucal das borboletas e mariposas) enquanto coletam o néctar da flor. Apesar de se alimentar somente de uma espécie vegetal quando lagarta, a borboleta ribeirinha se alimenta de várias flores, sendo um importante polinizador nas matas de galeria.

"A maioria das plantas precisa de polinizadores como abelhas e borboletas para se reproduzir, gerar frutos e sementes. As borboletas são indicadores biológicos e a presença de populações de diversas espécies pode indicar uma ampliação na diversidade de plantas e, de outros grupos animais, que participam de uma intrincada rede biológica. Além disso, encontrar essa espécie pela região é um importante indicativo ambiental do que deve ser feito na área impactada em termos de recuperação para eles encontrem um habit adequado para elas", explica Cristiane Cäsar, analista ambiental da Vale.

Por também serem sensíveis às alterações climáticas, pesquisadores costumam monitorar estes insetos como uma forma de observar os efeitos mais amplos da fragmentação dos habitats e das mudanças climáticas.