Saúde

Viciado em café? Pesquisas revelam que bebida protege o coração e previne diabetes; saiba as medidas

Estudos analisaram o efeito na saúde do consumo de uma a seis doses da bebida por dia

Foto: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco

Tomar uma xícara de café para começar bem o dia é um hábito da maioria dos brasileiros. Pesquisas recentes sugerem que a bebida traz benefícios para além do efeito estimulante. Ele ajuda a reduzir o risco de uma série de doenças graves, como diabetes tipo 2, doença hepática gordurosa e alguns tipos de câncer. E os resultados de um estudo de dez anos recentemente publicado mostram que o consumo moderado de café está associado a uma menor chance de doenças cardiovasculares e morte precoce por qualquer causa.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Axxus sobre o consumo do café no Brasil mostra que 30% dos brasileiros tomam 6 xícaras ou mais de café diariamente. Quase metade dos entrevistados (45%) informou consumir um pouco menos — de 3 a 5 xícaras todos os dias. O café é bebido principalmente ao acordar, durante a manhã e depois do almoço, informaram os voluntários que participaram do levantamento feito em 2021.

Além da cafeína, o café contém minerais que auxiliam na manutenção da saúde. Dentre eles, destacam-se o magnésio (que ajuda a manter os ossos e a função muscular saudáveis), o potássio (que desempenha um papel na pressão arterial) e a vitamina B3 (necessária para liberar energia dos alimentos e um sistema nervoso saudável).

Alguns estudos, no entanto, associaram o café ao aumento de colesterol. Uma pesquisa publicada no European Journal of Preventive Cardiology demonstrou que cafés que não são filtrados ou coados possuem contém substâncias — cafestol e kahweol — que aumentam o colesterol no sangue. No entanto, o filtro é suficiente para remover estes compostos e, consequentemente, prevenir de problemas assoaciaos ao colesterol alto, como ataques cardíacos e morte prematura. 

E o efeito estimulante do café também não é prejudicial para a saúde do coração. Um estudo recente publicado na revista JAMA Internal Medicine descobriu que cada xícara diária adicional de café estava associada a um risco 3% menor de ocorrência de qualquer problema de ritmo cardíaco.

Segundo a Agência Europeia de Segurança Alimentar, uma ingestão diária de 400mg de cafeína, o equivalente a quatro xícaras de café, é boa para a maioria dos adultos.

Mas a sensibilidade individual à cafeína varia. Algumas pessoas podem tolerar muito bem seis ou mais xícaras por dia, e outras ficam agitadas depois de uma ou duas. E nem todo mundo pode tomar altas doses do líquido estimulante. As mulheres grávidas são aconselhadas a manter 200mg de cafeína por dia (cerca de duas xícaras de café filtrado), pois o excesso de cafeína tem sido associado ao baixo peso ao nascer. A explicação é que a bebida pode afetar o fluxo sanguíneo para a placenta.

De uma a seis xícaras, veja abaixo os benefícios do consumo do café para a sua saúde.

- Ingerir 100mg ou mais de cafeína em uma xícara de café forte aumenta o estado de alerta, bloqueando temporariamente a ação da adenosina, uma substância química faz o corpo ficar sonolento.

- Uma xícara de café ingerida no meio de uma simulação de direção de uma viagem de carro de quatro horas por uma autoestrada ajudou os condutores a se sentirem menos cansasdos, reduziu os movimentos desnecessários na pista e auxiliou os motoristas a manterem uma velocidade mais constante devido ao maior nível de atenção. Os resultados são de um estudo publicado na revista Psychopharmacology.

- Uma xícara de café também pode estimular o intestino. Em um estudo importante de 1990 na revista Gut, 29% dos bebedores de café disseram que seu café da manhã lhes dava vontade de ir ao banheiro — e, de fato, sua atividade intestinal refletia isso, com café regular e descafeinado causando contrações no intestino grosso.

Uma teoria é que a cafeína e outros produtos químicos no café estimulam a liberação de hormônios digestivos que estimulam as contrações intestinais. Curiosamente, beber um café consistentemente todos os dias tem sido associado a um microbioma intestinal mais saudável, com mais espécies bacterianas anti-inflamatórias.

- Algumas xícaras de café forte podem aumentar o desempenho do exercício, de acordo com a Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva nos EUA.

Os pesquisadores descobriram que a quantidade necessária para ajudar a melhorar a resistência e a velocidade, bem como o desempenho em esportes com picos de corrida intermitentes, como futebol, é de 3mg a 6mg de cafeína por kg de peso corporal — isso é um mínimo de 195mg (cerca de dois cafés) para alguém pesando 65kg.

Seu efeito estimulante sobre o sistema nervoso reduz a fadiga e a percepção de esforço.

- Beber duas xícaras de café por dia também pode diminuir o risco de insuficiência cardíaca, condição caracterizada pela dificuldade de o coração bombear sangue de forma eficiente pelo corpo.

Uma xícara não fez diferença, mas as pessoas que bebiam duas ou mais xícaras por dia tiveram uma redução de 30% no risco de insuficiência cardíaca, de acordo com um estudo feito em 2021 por pesquisadores da Universidade do Colorado. O trabalho sugeriu que essa proteção está possivelmente associada ao efeito da cafeína na sensibilidade à insulina e o equilíbrio hídrico do corpo.

Uma pesquisa publicada em janeiro no European Journal of Preventive Cardiology, envolvendo quase meio milhão de britânicos, descobriu que beber cerca de três xícaras de café moído diariamente reduz o risco de derrame em 21%, em comparação com os abstêmios de café.

Os consumidores de três xícaras por dia também eram 17% menos propensos a morrer de doenças cardiovasculares em geral e 12% menos propensos a morrer prematuramente por qualquer causa.

Acredita-se que os antioxidantes e outros compostos nos grãos sejam fundamentais, protegendo contra danos nas artérias, o que pode levar a problemas cardíacos e derrames.

- A cafeína no café também pode ajudar a prevenir e controlar a doença de Parkinson, ajudando a manter os níveis de dopamina — a substância química do cérebro envolvida no controle do movimento apresenta concentrações mínimas em quem é diagnosticada com a doença.

Um estudo de 2014 da Universidade de Shandong e da Universidade de Qingdao, ambas na China, descobriu que o efeito protetor do café contra o Parkinson atingiu o pico (com risco 28% menor) em cerca de três xícaras por dia.

- Um estudo feito em 2021 descobriu que pessoas que bebem de três a quatro xícaras de café por dia tinham um risco 19% menor de desenvolver doença hepática gordurosa não alcoólica — condição na qual a gordura se acumula no fígado e pode causar sérios danos à saúde.

A pesquisa, das universidades de Southampton e Edimburgo, ambas no Reino Unido, descobriu que três a quatro xícaras diárias também estavam ligadas a um risco 21% menor de desenvolver câncer de fígado.

Todo o café era benéfico, mas o café moído era um pouco mais. Isso pode ser devido aos efeitos anti-inflamatórios do líquido. E em pessoas com doença hepática, uma substância química chamada paraxantina (produzida quando a cafeína é metabolizada no fígado) retarda a formação de tecido cicatricial no órgão.

- Quatro xícaras de café por dia oferecem até 1150mg de potássio — mais da metade da quantidade diária recomendada e mais potássio do que quatro bananas pequenas. Estas doses fornecem também 100mg de magnésio — cerca de um quarto da ingestão diária recomendada — e 9mg de niacina, mais da metade da quantidade indicada para consumo diário.

- Um estudo com mais de um milhão de pessoas pelo Instituto Karolinska, na Suécia, descobriu que aqueles que bebiam cinco xícaras por dia tinham um risco 29% menor de diabetes tipo 2, em comparação com os não bebedores.

O ácido cafeico e os ácidos clorogênicos são dois compostos do grão de café que podem ajudar a prevenir os depósitos de uma proteína, o polipeptídeo amilóide, que pode se acumular no pâncreas e destruir as células que produzem insulina. O café descafeinado pode ter o mesmo efeito protetor, sugeriu o estudo.

- A maior ingestão de café está ligada à menor chance de desenvolver gota — problema causado pelo acúmulo de um resíduo chamado ácido úrico nas articulações — de acordo com dados do estudo Health Physicians Follow-Up, publicado pela Universidade de Boston.

Nos homens, a chance de desenvolver gota ao longo de 12 anos foi 59% menor para aqueles que bebiam seis ou mais xícaras por dia em comparação com os homens que não bebiam. O risco foi 40% menor para os homens que bebiam de quatro a cinco xícaras por dia.

O café com cafeína teve o efeito mais forte, mas o descafeinado ainda era benéfico, levando os pesquisadores a sugerir que componentes como o ácido clorogênico podem funcionar para diminuir os níveis sanguíneos de ácido úrico.

Resultados semelhantes foram encontrados em mulheres pelos mesmos pesquisadores; quatro xícaras de café regular por dia foram associadas a um risco reduzido de gota em 57%.