Após um mês de guerra na Ucrânia, Lviv se adapta a novo normal
Lviv permaneceu à margem da violência que inicialmente atingiu o país e agora é confrontada com as preocupações da vida cotidiana
Em Lviv, o soar das sirenes avisando sobre o bombardeio iminente não tem mais o mesmo efeito de um mês atrás, no início da guerra na Ucrânia.
A cada dia os voluntários que costuram redes de camuflagem para a guerra são cada vez mais escassos.
Agora, um abrigo antiaéreo perto de um parquinho infantil é apenas mais um detalhe da paisagem da cidade.
Lviv, no oeste da Ucrânia, havia sido relativamente poupada dos combates, mas agora, alvo do conflito, está mergulhada em um novo ritmo de vida.
O álcool é proibido, a vida noturna é prejudicada pelo toque de recolher da lei marcial e as ruas estão repletas de postos de controle militares. Mas os moradores desta cidade, famosa por seus cafés, seu amor pelo xadrez e sua cultura, adaptaram-se às restrições dos tempos de guerra.
"É difícil, temos um grande fardo nos ombros", admitiu nesta quinta-feira (24) o prefeito da cidade, Andriy Sadovyi, antes de afirmar que, apesar de tudo, "a cidade continua sua vida".
Uma grande guerra
Os primeiros dias da guerra na Ucrânia foram marcados pela incredulidade e comoção, seguidos por um espírito nacionalista desafiador, enquanto militares e civis se preparavam para repelir o ataque.
Mas à medida que o conflito entra em sua quinta semana e o avanço dos russos parece estagnado, com as tropas de Moscou nos arredores das cidades do leste, há uma sensação crescente de que esta guerra é como uma maratona.
Lviv permaneceu à margem da violência que inicialmente atingiu o país e agora é confrontada com as preocupações da vida cotidiana.
De manhã, um vendedor de café aquece o leite em seu carrinho de rua. Ao virar da esquina, um grupo de soldados sai de um ônibus carregando uma bandeira ucraniana: eles estão indo para o funeral de um soldado morto.
Brinquedos que retratam homens armados são abundantes nos mercados de pulgas e do lado de fora da livraria de ciências Vasil Stefanik a polícia ainda distribui multas de trânsito.
Às vezes, soldados armados realizam verificações de identidade.
"O que posso dizer é que há uma guerra", diz Mijailo, um homem de 70 anos que caminha pelo parque Ivan Franko.
"As pessoas se acostumaram com esse novo ritmo de vida e se adaptaram", disse.
Nos primeiros dias da guerra, cerca de 500 voluntários foram a uma galeria no centro da cidade para tecer redes de camuflagem para as instalações militares.
Agora cerca de 100 pessoas aparecem todos os dias.
Na entrada da instalação, um jovem voluntário toca ukulele e outro desenha o horizonte de Lviv em um caderno.
Em meio a essa calmaria, à direita e à esquerda há sacos de areia que os lembram que há uma semana a cidade foi atingida pela primeira vez por um bombardeio, que não deixou vítimas.
Uma nova normalidade
Lviv fica a apenas 70 quilômetros da fronteira com a Polônia, por onde passa a maioria dos refugiados, um número que, segundo a ONU, chega a 3,5 milhões.
Nos primeiros dias da guerra, a principal estação de trem ficou lotada de mulheres e crianças que chegavam de todo o país, partindo em vagões superlotados para a fronteira.
Agora, a cada dia há menos. O caos dos primeiros dias da guerra acabou, mas não foi esquecido.
Katerina Olushkevich, de 30 anos, recebe refugiados em sua última parada em seu país antes do êxodo.
“Lviv está acostumada com essa situação, está pronta para ajudar qualquer um”, diz ela, balançando o carrinho do filho. "Estou convencida de que vamos superar tudo isso", acrescenta.
Mas a dura realidade do tempo de guerra que pode se tornar uma nova realidade para seus habitantes é cheia de dificuldades.
"É uma sensação horrível", lamenta a jovem mãe. "Agora vivemos cada dia como se fosse o último."