Polícia vai apurar se clientes de laboratório em Jaboatão sabiam de laudos negativos de covid-19
Estabelecimento foi interditado e três pessoas, presas
Ao dar continuidade às investigações sobre o caso do laboratório de Jaboatão dos Guararapes que emitia apenas laudos negativos para testes de Covid-19, a Polícia Civil de Pernambuco vai apurar se os clientes que procuravam os exames sabiam dos resultados sem a detecção da presença do coronavírus.
Os passos iniciais da investigação foram informados pela delegada do Consumidor, Thaís Galba, em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (25), no Recife, um dia após a ação policial que resultou na interdição do estabelecimento e prisão de três pessoas - proprietário e proprietária do laboratório e a técnica de enfermagem que coletava as amostras.
O laboratório fica em uma galeria no centro do bairro de Prazeres e se chama Lab Único, informou a Agência de Vigilância Sanitária de Pernambuco (Apevisa).
“Não temos como afirmar que as pessoas sabiam. Temos fortes razões, em razão dos muitos indícios, para acreditar que os exames estavam sendo falsificados. Não tenho ainda, neste momento, como dizer essa informação, até porque as investigações surgiram a partir de denúncias que consumidores fizeram à Apevisa”, disse a delegada.
A polícia chegou ao laboratório após a denúncia de um cliente. Segundo Thaís Galba, um consumidor se sentiu lesado. “Um consumidor recebeu lá [no laboratório] o teste de RT-PCR negativo. Após uma viagem a Fernando de Noronha, quando chegou no arquipélago, foi testado de novo e recebeu o resultado positivo”, explicou.
"Era um laboratório que não tinha licença da Vigilância Sanitária de Jaboatão. Não praticava boas práticas de laboratório, não aplicava medidas de biossegurança e não tinha como rastrear as amostras", detalhou o diretor-presidente da Apevida, Josemaryson Bezerra.
Testes custavam R$ 200
A delegada Thaís Galba também ressaltou que os exames, erroneamente comercializados como de RT-PCR, custavam R$ 200: “Questionamos o preço do exame e disseram que estava sendo tabelado”, disse.
Além das irregularidades, as condições de biossegurança do laboratório também eram péssimas, segundo Galba. “Ao abrir a geladeira, nós encontramos água junto com um saquinho plástico com as amostras que haviam sido coletadas para exame de Covid-19, juntamente com uma margarina que estava aberta”, detalhou a delegada.
Irregularidades
Thaís Galba relata ainda que, quando a equipe chegou ao local, encontrou o estabelecimento com fachada e pintura indicando que era um laboratório de análises clínicas.
“Estavam no local a proprietária e uma funcionária que se disse técnica de enfermagem, apesar de não ter provado via registro, certificado, nada, a sua habilitação técnica”, falou a delegada.
O laboratório anunciava que realizava testes do tipo RT-PCR, considerado padrão-ouro para a detecção do coronavírus que causa a Covid-19. No entanto os exames feitos no local eram do tipo antígeno, mais rápido, embora menos confiável.
“Perguntamos como era esse procedimento e que demonstrassem como o teste era realizado. As duas foram incisivas, foram até uma outra sala, trouxeram os kits de testagem rápida de antígeno para Covid-19 e disseram que as pessoas realizavam esse teste e que, em 40 a 50 minutos, saía o resultado do RT-PCR. Essa primeira fala chamou a nossa atenção e questionamos quanto tempo era realizado o teste do RT-PCR e ela insistiu em dizer: 40 minutos, uma hora, o teste estava realizado”, falou Thaís Galba.
Por fim, a delegada informou que foi solicitada a visualização de laudos e todos os encontrados tinham resultados negativos.
“Foram autuadas por crimes contra relação de consumo, pela enganação ao consumidor, por se apresentar como laboratório e no momento para nós se dizerem posto de coleta e não efetivamente laboratório. Mas, principalmente, por realizar um teste rápido e dizer ser RT-PCR, que é um teste de muito maior complexidade e que o resultado não sai de forma nenhuma em 40 minutos”, finalizou Thaís Galba.
Além de apurar se os clientes sabiam que sairiam do laboratório com resultado negativo, a polícia segue as investigações para identificar se havia algum laboratório parceiro e outras questões. As três pessoas presas em flagrante serão encaminhados à audiência de custódia. A técnica em enfermagem também foi autuada por exercício ilegal da profissão, pois não apresentou registro no conselho da categoria.
A reportagem tentou ouvir a defesa do laboratórios e dos envolvidos no caso, mas sem sucesso.
A Apevisa instaurou processo sanitário e segue com investigações sobre o laboratório. "Temos outras informações que estão sendo monitoradas e vão ser investigadas", detalhou Josemaryson, ao acrescentar que outros laboratórios serão inspecionados.
A agência tem canais de denúncias em sua página na internet, no telefone (81) 3181-6425 e no e-mail apevisa@saude.pe.gov.br.