Saúde

Aumento de casos de poliomielite em Israel alerta autoridades de saúde

Foram registrados sete diagnósticos na área de Jerusalém em pessoas não vacinadas

Vacinação de crianças contra poliomielite - Ikamahã/Sesau PCR

A campanha de vacinação contra a poliomielite em Israel aplicou doses em 16.066 crianças, segundo o Ministério da Saúde neste domingo (27). Foram registrados sete casos de pólio na área de Jerusalém em pessoas não vacinadas, sendo um sintomático e seis sem nenhum sintoma.

O primeiro caso detectado em Israel ocorreu poucas semanas depois de um surto do vírus ter sido relatado no Malawi, na África. A cepa viral detectada no Malawi está ligada a uma que circula no Paquistão, onde a doença ainda é endêmica. A pólio também é endêmica no Afeganistão. Em Israel, ainda não está clara a origem do vírus.

Embora possa parecer que esses casos estão muito longe do Brasil e não há motivo de preocupação, a pandemia de Covid-19 deixou claro que, em um mundo globalizado, a distância física entre países não é empecilho para a rápida disseminação de um vírus altamente contagioso, desde que existam pessoas vulneráveis. E isso, o Brasil tem de sobra, infelizmente. A cobertura vacinal contra a doença nunca esteve tão baixa no país. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim) estima que cerca de 30 em cada 100 crianças brasileiras não estejam completamente imunizadas contra a poliomielite.

A maioria das pessoas infectadas pelo vírus transmissor da poliomielite é assintomática e atualmente, não é exigido certificado de vacinação contra a doença para entrar no país. O que significa que uma pessoa contaminada pode trazer o vírus, que é eliminado pelas fezes. Se a taxa de vacinação estivesse acima de 95%, meta estipulada pelo Ministério da Saúde, não haveria problema. Entretanto, ela está muito abaixo disso.

Em 2015, o índice brasileiro era de 98%. Desde então, a taxa vem caindo gradativamente e, como já era de se esperar, se agravou com a pandemia.

Em 2020, o índice ficou em 76%. Segundo dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a cobertura vacinal com três doses contra poliomielite foi de 67,66%, no ano passado. Mas para a imunização completa, com dois reforços aos 4 anos de idade, foi de apenas 51,84%. Dependendo da região, o cenário é ainda mais grave. No Nordeste e Norte, por exemplo, o percentual para a imunização completa é de 42% e 44%, respectivamente.

Os motivos para a queda na cobertura vacinal incluem os movimentos antivacina, mas em especial outros fatores, como a hesitação vacinal; a falta de confiança motivada pelas notícias falsas; problemas de acesso, incluindo o horário restrito de vacinação das unidades de saúde; e de comunicação, como a ausência de campanhas de vacinação em massa.

O esquema de vacinação contra a pólio no Brasil é composto de cinco doses. As três primeiras são feitas com a vacina de vírus inativada, também chamada de vacina Salk, em homenagem ao seu inventor, o americano Jonas Salk. Ou ainda VIP, sigla para "vacina inativada poliomileite". Ela é aplicada via injeção aos 2, 4 e 6 meses de idade e protege contra os três tipos conhecidos desse vírus.

Para completar, devem ser dadas duas doses de reforço com a vacina atenuada, a famosa gotinha. A primeira, entre os 15 e os 18 meses de idade e, a última, aos 4 anos idade. A questão é que, em casos raros, o vírus atenuado é capaz de se replicar no intestino humano, sofrer mutações e se propagar por meio das fezes. Não há risco para a criança que toma a vacina, já que ela foi previamente imunizada com a vacina inativada. Entretanto, há risco para a população não vacinada à sua volta. Em especial em regiões com problemas de saneamento e moradia.