Internacional

Honduras extraditará ex-presidente Hernández para os EUA por tráfico de drogas

Ex-presidente será julgado por três crimes relacionados ao tráfico

Suprema Corte de Justiça (SCJ) de Honduras autorizou a extradição para os Estados Unidos do ex-presidente Juan Orlando Hernández - STR / AFP

A Suprema Corte de Justiça (SCJ) de Honduras autorizou, nesta segunda-feira (28), a extradição para os Estados Unidos do ex-presidente Juan Orlando Hernández (2014-2022), onde será processado por tráfico de drogas, crime que naquele país pode ser punido com prisão perpétua.

Após analisar todos os elementos, a SCJ "considerou inadmissível o recurso interposto [pela defesa do ex-presidente]", o que significa "que se confirma a decisão do juiz de primeira instância de conceder a extradição do cidadão Juan Orlando Hernández", informou o porta-voz do Judiciário, Melvin Duarte. A decisão é inapelável.

Hernández será julgado por três crimes. O primeiro refere-se à "conspiração para importar e distribuir uma substância controlada para os Estados Unidos". Nesse caso, os 15 magistrados da SCJ votaram por unanimidade pela concessão da extradição.

No caso dos crimes de "uso e porte de arma de fogo" durante a importação de entorpecentes e "conspiração para uso de arma de fogo", a votação foi de 13 a 2. Em caso de extradição, o acusado só poderá ser julgado pelos crimes autorizado pela justiça do país de origem.

Em 14 de fevereiro, os Estados Unidos solicitaram a extradição de JOH - suas iniciais, como é conhecido -, por conspirar para exportar cerca de 500 toneladas de cocaína para seu território desde 2004.
Um dia depois, foi capturado e aguardava a decisão sobre sua extradição em uma prisão do quartel das forças especiais da polícia, conhecido como Los Cobras.

Agora, as autoridades americanas poderão enviar seus agentes para buscar Hernández.

"Vingança dos cartéis"
Da prisão, o ex-presidente Hernández se defendeu, reiterando que é "inocente" e "vítima de vingança e conspiração".

"Tenho certeza de que Deus me fará justiça", disse ele em uma carta manuscrita divulgada na segunda-feira.

Reconheceu que está vivendo um momento "doloroso" e que é "difícil estar separado" de seus entes queridos. "Três condenações de prisão perpétua podem fazer de mim um morto-vivo."

Os Estados Unidos inicialmente o destacaram como aliado no combate ao narcotráfico e foram um dos primeiros a reconhecer sua reeleição em 2017, quando a oposição alegou fraude, em meio a protestos que deixaram trinta mortos.

Hernández voltou a classificar as acusações contra ele de "vingança dos cartéis" que seu governo ajudou a combater e que agora buscam reduzir suas próprias sentenças: "Uma trama orquestrada para que nenhum governo volte a enfrentá-los".

Droga e armas
A esposa do ex-presidente, Ana García, considerou que "se há um cidadão sendo julgado, ele precisa ser julgado em nosso país".

García chegou com uma dúzia de simpatizantes do ex-presidente ao prédio do Tribunal em Tegucigalpa, alegando a inocência do marido e rezando por ele.

Hernández, que deixou a presidência hondurenha em 27 de janeiro após oito anos no cargo, foi indiciado pelos promotores de Nova York como tendo ligações com o tráfico de drogas. Os acusadores acreditam que a atividade de Hernández e seus colaboradores transformou Honduras em um "narco-Estado".

Um ex-chefe da Polícia acusado de ser cúmplice de Hernández também espera uma decisão para o pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos.

Um irmão do ex-presidente, o ex-deputado "Tony" Hernández, foi condenado em março de 2021 à prisão perpétua nos Estados Unidos pelo mesmo crime.

No pedido, os Estados Unidos acusam o ex-presidente de "conspiração para importar uma substância controlada" e "porte de arma de fogo, incluindo metralhadoras e dispositivos destrutivos, em apoio à conspiração de importação de drogas".

Segundo o pedido, entre 2014 e 2022 "Hernández participou na conspiração violenta de tráfico de drogas para receber carregamentos de diversas toneladas de cocaína enviadas a Honduras da Colômbia e Venezuela, entre outros lugares", por via marítima e aérea.