Secretário-executivo do MEC, Victor Godoy assume pasta interinamente e é o mais cotado para o cargo
Quadro da Controladoria-Geral da União, Godoy chegou ao ministério em 2020
Com a queda de Milton Ribeiro do comando do Ministério da Educação, o secretário-executivo da pasta, Victor Godoy Veiga, assumiu o posto interinamente e é o mais cotado para assumir a função. A opção seria uma forma de dar continuidade à gestão de Ribeiro, o que seria um argumento para conter o ímpeto de integrantes do Centrão interessados em emplacar um nome para o posto. O presidente deve bater o martelo até o fim desta semana.
Além disso, pesa em favor de Godoy o fato de ele ser servidor de carreira da Controladoria Geral da União (CGU), o órgão responsável por apurar irregularidades dentro do governo. A efetivação serviria para reforçar o discurso do Palácio do Planalto de que não será tolerante com mal feitos. Ribeiro caiu após denúncias de que pastores evangélicos cobravam propina de perfeitos para destravar recursos do MEC. A própria CGU abriu um procedimento para apurar as suspeitas de ilegalidades na pasta.
Nesta terça-feira (29), no primeiro dia na cadeira de ministro-interino, Godoy passou o dia em reuniões com a equipe da secretaria executiva. Antes de chegar ao MEC, levado por Milton Ribeiro em julho de 2020, Godoy foi chefe da Diretoria de Acordos de Leniência da CGU e trabalhou diretamente com ministro da controladoria-geral da União, Wagner Rosário. Na função, ele também se aproximou do atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, no período em que o magistrado era o titular do Ministério da Justiça. Ao manter Godoy, Bolsonaro estaria agradando a Mendonça e a Milton Ribeiro, por quem o presidente ainda nutre apreço, mesmo após os indícios de irregularidades no MEC.
Formado em Engenharia de Redes de Comunicações de Dados pela Universidade de Brasília (UnB), Godoy afirma em seu currículo que tem 15 anos de experiência em auditoria. Entre outros feitos, o secretário cita que "foi membro de vários comitês de leniência responsáveis por apurar casos de corrupção, incluindo alguns relacionados a suborno transnacional".
Com perfil gerencial, a avalição inicial de parlamentares da bancada da Educação é que ao menos Godoy está por dentro das políticas públicas em curso no ministério.
Em meados deste mês, poucos dias antes das primeiras notícias sobre a influência de pastores evangélicos em liberações de recursos do MEC, Godoy assinou um protocolo de intenções com a Secretaria de Controle Interno da Secretária-geral da Presidência da República.
— Nós damos transparência aos mais de 15 bilhões que estavam disponíveis nas contas correntes de estados e municípios de recursos repassados pelo Governo Federal — disse o secretário-executivo na ocasião.
A expertise alardeada por Godoy na área de combate à corrupção não impediu, entretanto, que pastores se infiltrassem no MEC, sem cargo público, e passassem a intermediar o contato de perfeitos com a pasta. O movimento dos líderes religiosos levou a uma escalada de suspeições sob Milton Ribeiro, que pediu demissão.
Apesar de manter perfil discreto nas redes sociais, com postagens de caráter institucional na maior parte das vezes, o secretário-executivo retuitou uma mensagem da deputada Bia Kicis (PSL-DF) prestando apoio a Wagner Rosário, quando ele se envolveu em um embate com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), a quem chamou de "descontrolada".
"Meu apoio ao Ministro @WRosarioCGU . Profissional técnico, competente e íntegro com quem tive a oportunidade de trabalhar por vários anos. Sempre serviu o povo brasileiro combatendo a corrupção e o desvio de verbas públicas", escreveu Godoy.
Victor Godoy registra no currículo que tem pós-graduação em Altos Estudos em Defesa Nacional pela Escola Superior de Guerra, e em Globalização, Justiça e Segurança Humana pela Escola Superior do Ministério Público em parceria com instituições estrangeiras.
Enquanto o governo não se pronuncia sobre a sucessão do MEC, outro nome além de Godoy circula nos bastidores. O reitor do Instituto Tecnológico Aeroespacial (ITA), Anderson Correira, conversou por telefone com parlamentares do Centrão, como o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), e o presidente do Republicanos, Marcos Pereira. A interlocutores Correia teria dito que aceitaria o cargo, caso fosse convidado para assumir o MEC. O líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), teria feito a ponte com o líder do PL.
No passado, quando Abraham Weintraub deixou o MEC, o nome de Correia chegou a ser cotado para a vaga. Na época, o reitor recebeu o apoio da bancada evangélica e do pastor Silas Malafaia, mas acabou sendo preterido para a vaga, que ficou com Milton Ribeiro. A visão desta vez é de que o nome de Correia, que também já foi presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), poderia unir tanto a ala mais operacional do governo quanto a bancada evangélica.