Oficiais do Exército esperam que novo comandante blinde Força
Marco Antônio Freire Gomes foi nomeado para substituir Paulo Sérgio Nogueira, escolhido para Ministério da Defesa

O general Marco Antônio Freire Gomes toma posse nesta quinta-feira como novo comandante do Exército com o peso de ser a terceira pessoa a ocupar o posto em pouco mais de três anos. Ele foi nomeado como substituto de Paulo Sérgio Nogueira, escolhido como ministro da Defesa, após Walter Braga Netto deixar o cargo para ser candidato a vice do presidente Jair Bolsonaro.
Entre oficiais, a expectativa é que o novo comandante não vai impactar de forma brusca o rumo da Força, apesar de Bolsonaro ter feito a escolha por desejar um comando mais alinhado ao Palácio do Planalto, em um ano de eleição.
Em conversas reservadas, integrantes da cúpula do Exército observam que, embora seja incomum tantas trocas em um governo, a nova mudança seria menos traumática que a passagem do general Edson Leal Pujol para Paulo Sérgio, no ano passado. Na época, os comandantes das três Forças foram substituídos após a demissão do ministro Fernando Azevedo e Silva.
A troca de comando está prevista para ocorrer às 17h desta quinta-feira, em uma cerimônia para poucos oficiais e poucos convidados, sem a presença da imprensa.
Freire Gomes é o mais antigo general da ativa, portanto o critério de antiguidade coincidiu com a intenção de Bolsonaro. Até agora, ele estava à frente do Centro de Operações Terrestres . Em fevereiro, o general fez parte da comitiva que viajou com Bolsonaro para a Rússia. A viagem serviu para reforçar a aproximação com o presidente.
O novo comandante do Exército também já atuou como secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) na gestão de Sérgio Etchegoyen, no governo de Michel Temer. Também já foi Comandante Militar do Nordeste.
Antes de ser escolhido para o comando do Exército, a expectativa era que Freire Gomes passaria para reserva para assumir uma vaga no Superior Tribunal Militar (STM). Agora, o indicado deverá ser o general Lourival Carvalho Silva, que está à frente do Departamento Geral de Pessoal (DGP).
O vice-presidente Hamilton Mourão, que é general da reserva, conhece o novo comandante dos tempos de academia militar e descreveu ele como discreto, ponderado e respeitado:
— Foi meu cadete. Eu era instrutor na academia militar. Óbvio que ele é de cavalaria e eu era instrutor de artilharia. Servimos juntos na Brigada Paraquedista. É um oficial discreto, ponderado, respeitado pelo restante do Exército. Está muito bem entregue o comando.
Mourão também minimizou as sucessivas trocas no comando:
— É uma situação diferente do que vinha ocorrendo, mas como Exército, e as Forças Armadas de uma maneira geral, são instituições onde a hierarquia e a disciplina prevalecem, existe uma ordem hierárquica normal a ser seguida, normalmente não há nenhuma solução de continuidade nem nenhum sacolejo com a troca de comandante.
Em meio a temores de politização, Bolsonaro fez referência às Forças Armadas em um discurso na quarta-feira durante evento no Rio Grande do Norte, citando uma possível reação de militares contra autoridades que “podem muito” mas não podem “tudo”.
— Pouquíssimas pessoas podem muito em Brasília, mas nenhuma delas pode tudo. Porque acima dela está a vontade de vocês. E nós, que lá atrás, nós militares, que tem muitos aqui presentes, das Forças Armadas e forças auxiliares, juramos dar a nossa vida pela Pátria, nós todos agora daremos também a nossa vida pela nossa liberdade
Generais minimizam as declarações de Bolsonaro e dizem que o discurso faz um uso político da Força, mas não creem em uma interferência do presidente com a chegada de Freire Gomes ao comando. Além disso, oficias argumentam que Exército sempre acompanha as eleições e se prepara para qualquer incidente. Porém, afirmam que tudo é tratado com tranquilidade e citam como exemplo as manifestações de 7 de Setembro do ano passado.