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'Abro mão, neste momento, da pré-candidatura presidencial', diz Moro em filiação ao União Brasil

Ex-ministro foi pressionado a não impor sua participação na disputa como condição para ingressar na nova legenda

Sergio Moro assina filiação ao partido União Brasil em evento em São Paulo ao lado do vice-presidente do partido, Junior Bozzella - Arquivo Pessoal

O ex-ministro Sergio Moro confirmou, em nota, que abriu mão da pré-candidatura à Presidência para se filiar ao União Brasil. O ex-ministro de Bolsonaro, no entanto, deixou em aberto a possibilidade de eventualmente retomar o projeto político. Mas integrantes do União Brasil trabalham com o nome do ex-juiz como deputado federal por São Paulo.

Segundo Moro, ele aceitou o convite do presidente do União, Luciano Bivar, para "facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única".

"O Brasil precisa de uma alternativa que livre o país dos extremos, da instabilidade e da radicalização. Por isso, aceitei o convite do presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, para me filiar ao partido e, assim, facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única", escreveu Moro.

"A troca de legenda foi comunicada à direção do Podemos, a quem agradeço todo o apoio. Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor", emendou.

Moro resistia em aceitar a possibilidade de abrir mão da sua candidatura para dar espaço a outro nome da terceira via e insistia que seguiria na disputa até o fim. Na última terça-feira, ele afirmou que não poderia renunciar "para alguém que tem 1% ou 2% nas pesquisas".

"Não posso renunciar minha candidatura para alguém que tem 1% ou 2% nas pesquisas, quando a gente tem 10%, 9%, 8% a depender das pesquisas. Não tenho essa vaidade, mas tenho o sonho de mudar o país", declarou, na ocasião.

Em fevereiro, durante evento com empresários, Moro ressaltou: "Vou até o fim".

Antes da comunicação oficial de Moro, integrantes do União Brasil também divulgaram uma outra nota para ressaltar que o ingresso do ex-ministro ao partido "não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência".

"Deixamos claro que o seu eventual ingresso ao UniãoBrasil não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência daRepública", diz o texto sobre o ex-ministro.

"Caso seja do interesse de Moro construir uma candidatura em SãoPaulo pela legenda, o ex-ministro será muito bem-vindo. Mas, nestemomento, não há hipótese de concordarmos com sua pré-candidaturapresidencial pelo partido", reforçou o grupo.

O documento é assinado por integrantes do União que antes faziam parte do DEM. Entre eles, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador Davi Alcolumbre (AP).

Apesar de abrir mão momentaneamente da pré-candidatura para ingressar no União, Moro relatou a aliados que ainda quer tentar entrar na corrida presidencial. Ele aposta que em junho será a opção mais viável da terceira via.

"Ele comunicou agora que vai se filiar (ao União) na busca de uma estrutura maior para tentar viabilizar a candidatura à presidência. Essa é a razão da mudança, tentar abrir espaço nessa discussão do centro democrático que busca convergência", disse o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), ao GLOBO.

E acrescentou:

"Ele acha que com União Brasil terá mais chance de prevalecer nessa discussão. O objetivo é preservar candidatura à presidência, e não o contrário", falou.

Um dos principais aliados de Moro, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) afirmou que respeita a decisão do ex-ministro, mas "infelizmente não crê que ele terá apoio em seu novo partido para ser candidato a Presidente com a missão de resgatar,  sobretudo, os princípios e valores , especialmente no que se refere ao enfrentamento à corrupção e impunidade".

"Pretendo continuar trabalhando, no limite de minhas forças,  para que tenhamos uma opção a fim de evitar a maior tragédia para o Brasil que seria o retorno do PT e seus aliados ao poder após tantos desvios demonstrados pela operação  Lava jato, patrimônio e símbolo internacional positivo da nossa nação, que foi desmantelada pelos três Poderes da República", acrescentou.

Conforme mostrou o GLOBO, o ex-ministro já vinha deixando o partido distante das decisões estratégicas da campanha.

A pessoas próximas, Moro relatou que se sentia "boicotado" pela sigla, já que a presidente do Podemos, Renata Abreu, deixou claro a prioridade em eleger as bancadas no Congresso na eleição deste ano.

Na visão de aliados do ex-ministro, o Podemos não tem estrutura e nem recursos necessários para uma campanha presidencial.

O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) disse que "já imaginava" que Moro pudesse deixar o partido, porque o Podemos é uma legenda pequena e tem pouca verba para investir numa campanha presidencial.

"É natural que o candidato busque uma possibilidade melhor para concorrer à Presidência, vai ter mais tempo de televisão. Podemos continuar apoiando Moro. Não sei qual o acerto que ele fez, mas espero que seja para disputar a Presidência", afimou Oriovisto, ao GLOBO.  .

Nos últimos dias, Moro procurou outros nomes da terceira via para tentar apoio para sua candidatura à presidência pelo Podemos. Ele ligou para Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB, com quem fala frequentemente,  com o objetivo de defender que seria o nome ideal por ser, entre as opções postas, aquele que está melhor colocado nas pesquisas.

O ex-ministro ouviu de Simone que o critério a ser escolhido ainda vai ser definido em conjunto com todos os presidentes de partido e é complexo, no sentido de que provavelmente vão ser considerados outros fatores além das pesquisas, como tempo de TV, fundo partidário e número de prefeitos pelo país.

A pré-candidata do MDB à Presidência deixou claro que, para entrar no grupo, Moro vai ter que aceitar as regras do jogo e inclusive a possibilidade de abrir mão da sua candidatura.

A conversa com Bivar também foi no sentido de que ele não poderia ter a garantia de que seria o candidato à presidência da República e que o partido tem intenção de fechar uma aliança com o MDB.

Soma-se a isso o fato de Moro enfrentar resistência há semanas dentro do próprio Podemos, que estava incomodado com o uso do fundo partidário para uma campanha presidencial e com a estagnação de Moro nas pesquisas no momento.