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Papa Francisco pede em Malta uma resposta à "emergência migratória" agravada pela guerra na Ucrânia

Em um discurso no palácio presidencial de Valeta, o Papa lamentou o "vento glacial da guerra" procedente do leste da Europa

Papa Francisco - Alberto Pizzoli/AFP

O papa Francisco pediu neste sábado (2) na ilha de Malta respostas "compartilhadas" à "emergência migratória" agravada pela guerra na Ucrânia, um conflito fomentado, na sua opinião, por "algum poderoso" voltado para "seus interesses nacionais".

Em um discurso no palácio presidencial de Valeta, no início de uma visita de dois dias à ilha do Mediterrâneo, o sumo pontífice lamentou o "vento glacial da guerra" procedente do leste da Europa.

"Algum poderoso, tristemente preso às pretensões anacrônicas de interesses nacionalistas, provoca e fomenta conflitos", disse o líder da Igreja Católica, em uma alusão inequívoca ao presidente russo Vladimir Putin, embora sem citar qualquer nome.

Francisco denunciou ainda as "seduções da autocracia e os novos imperialismos", que provocam o risco de "Guerra Fria ampliada, o que pode sufocar a vida de povos e gerações inteiras".

Ao falar sobre o conflito na Ucrânia, que provocou a fuga de 4,1 milhões de habitantes do país, o papa solicitou "respostas amplas e compartilhadas". 

"Não podem deixar que apenas alguns países suportem todo o problema, enquanto outros permanecem indiferentes", declarou ao lado do presidente de Malta, George Vella, e do corpo diplomático.

Além da referência à Ucrânia, esta foi uma crítica à política migratória de Malta, acusada com frequência de fechar os portos às ONGs que socorrem migrantes que tentam chegar ao continente europeu em uma perigosa viagem pelo Mediterrâneo. 

Corrupção

A visita de Francisco, de 85 anos, ao pequeno país insular foi adiada em dois anos devido à pandemia de coronavírus e agora coincide com a guerra na Ucrânia, que provocou uma nova crise humanitária na Europa, com milhões de pessoas deslocadas.

Ele é o terceiro papa a viajar ao país, depois de Bento XVI em 2010 e João Paulo II em 1990 e 2001.

A história do país está impregnada de catolicismo desde a época de São Paulo, que se acredita que sofreu um acidente natal em Malta a caminho de Roma.

Quase 85% dos 516 mil habitantes de Malta se declaram católicos e esta religião é parte da Constituição. Malta é o único país da União Europeia (UE) que proíbe totalmente o aborto.

No discurso, o pontífice opôs as virtudes de "honestidade, justiça, senso de dever e transparência" à "desigualdade e corrupção" que afetam a reputação de Malta.

De fato, Malta garante parte de sua prosperidade econômica nos setores de jogos de azar online, empresas offshore e os famosos "passaportes dourados", que oferecem residência ou nacionalidade a investidores ricos cujas fortunas, às vezes, têm origem duvidosa.

O assassinato da jornalista Daphne Caruana Galizia em 2017, que provocou grande comoção no país e no mundo, provocou novas acusações ao país.

Visita a centro migratório

Francisco, que sofre dores no quadril e no joelho, teve que utilizar pela primeira vez uma plataforma de elevação para embarcar em seu avião de Roma. 

Na tarde de sábado, ele viajará de catamarã até Gozo (norte), uma das três ilhas habitadas de Malta, onde fará uma oração no santuário nacional de Ta'Pinu.

O pontífice presidirá uma missa no domingo em Floriana, perto da capital Valeta, após uma visita à Gruta de São Paulo, onde se acredita que o apóstolo buscou refúgio.

Também no domingo visitará migrantes radicados no laboratório de paz de Hal Far, centro migratório fundado por um frade franciscano em 1971 em homenagem a João XXIII.

O centro abriga atualmente 55 jovens migrantes da África e se prepara para receber refugiados da Ucrânia.

ONGs de resgate que patrulham o Mediterrâneo acusam Malta de ignorar os pedidos de ajuda de migrantes em suas águas e que se recusa a recebê-los. 

Também apontam que o país alerta as autoridades líbias para interceptá-los e levá-los para campos de detenção superlotados, onde são expostos a tortura e abusos. 

As autoridades de Malta alegam que o país recebe um número desproporcional de migrantes que chegam à Europa devido ao seu pequeno tamanho.