Papa volta a condenar a guerra na Ucrânia durante visita à Malta
No sábado, o pontífice já havia condenado a invasão da Ucrânia
O papa Francisco voltou a condenar neste domingo (3) em Malta a "guerra sacrílega" em uma Ucrânia "atormentada", um dia após a descoberta de centenas de corpos de civis em uma cidade próxima a Kiev, notícia que provocou indignação internacional.
"Pensando na tragédia humanitária da atormentada Ucrânia, ainda sob o bombardeio desta guerra sacrílega. Não nos cansamos de rezar e ajudar os que sofrem", declarou o papa após uma missa a céu aberto para 12.000 pessoas em Floriana, perto da capital de Malta, Valetta.
No sábado, o pontífice condenou a invasão da Ucrânia e citou "algum poderoso, tristemente preso às pretensões anacrônicas de interesses nacionalistas, que provoca e fomenta conflitos", em uma referência velada ao presidente russo Vladimir Putin.
Ao ser questionado sobre uma possível viagem a Kiev, Francisco respondeu que uma visita à capital da Ucrânia está "sobre a mesa". A nova crítica do papa aconteceu um dia depois da descoberta de vários cadáveres, alguns deles com as mãos amarradas, na localidade de Bucha, cidade próxima de Kiev.
Na última visita da breve viagem de 36 horas, o pontífice se reuniu neste domingo com migrantes de um centro de acolhida para refugiados em Hal Far (sul), o Laboratório da Paz João XXIII, onde refugiados ucranianos se unirão em breve aos mais de 50 jovens procedentes de vários países da África.
"Naufrágio da civilização"
Em um teatro de pedra ao ar livre, e diante de um muro feito de garrafas de plástico azul e verde, coroado por um colete salva-vidas laranja, o papa ouviu os testemunhos de dois refugiados. Francisco falou da "ferida do desenraizamento" e pediu que Malta seja um "porto seguro para os que chegam a suas costas", e lembrou que "muitos homens, mulheres e crianças viveram durante estes anos uma experiência de naufrágio no Mediterrâneo".
Como em sua visita ao campo de Lesbos (Grécia) no início de dezembro, o papa fez um apelo por "humanidade" diante do "naufrágio da civilização" e que as pessoas não se deixem enganar por aqueles que dizem que "não há nada por fazer" diante da crise migratória, "que são problemas maiores do que nós".
"Suas histórias lembram as de muitas pessoas que, nos últimos dias, se viram obrigadas a fugir da Ucrânia devido à guerra", acrescentou Francisco. Desde o início da viagem de dois dias a Malta, o pontífice, de 85 anos, parece ter problemas nas articulações, uma condição que o obrigou a cancelar outros compromissos recentemente.
Pela primeira vez, o papa utilizou uma plataforma elevatória para embarcar e desembarcar do avião. "Ontem eu achei que ele estava muito cansado (...) Penso que está sofrendo, já tem idade avançada e a agenda está muito pesada", declarou à AFP Anna Balzan, de 67 anos, que compareceu à missa ao ar livre celebrada durante a manhã por Francisco diante de 12.000 pessoas nas proximidades da capital Valetta.
Antes da eucaristia, Francisco visitou a gruta de São Paulo, na cidade Rabat, um dos principais locais de peregrinação da ilha, que também foi visitado por seus antecessores João Paulo II e Bento XVI. De acordo com a tradição cristã, Paulo sofreu um naufrágio em Malta no ano 60, quando seguia para Roma, e foi responsável por vários milagres nos três meses que passou na região.
Francisco recordou como Paulo e seus companheiros de viagem foram acolhidos, embora "ninguém soubesse seus nomes, a proveniência nem a condição social". O pontífice pediu a Deus que ajude os homens a "reconhecer de longe as necessidades daqueles que lutam entre as ondas do mar, atirados contra as rochas de uma costa desconhecida".
"Fazei que a nossa compaixão não se reduza a palavras vãs, mas acenda a fogueira do acolhimento", acrescentou. A invasão russa da Ucrânia ofuscou a primeira viagem de Francisco a Malta, um país de maioria católica, e que foi adiada em dois anos pelo coronavírus.
A guerra provocou a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Uma questão que Francisco abordou em várias ocasiões desde o início de seu papado há nove anos, insistindo na necessidade de acolher os que fogem da guerra, da pobreza ou das consequências da mudança climática.