Chuvas no Rio

Após chuvas, demora na desobstrução da Rio-Santos isola Angra e Paraty

Governo federal reconheceu estado de emergência em Angra, uma das cidades mais castigadas pelo temporal

Estragos deixados pelas chuvas de Paraty, Rio de Janeiro - Bruno Kaiuca / AFP

Cinco dias após o início da enxurrada que atingiu as cidades da Costa Verde fluminense e deixou ao menos 16 mortos, Angra dos Reis e Paraty estão “ilhadas”, com estado de emergência decretado pelo governo federal em Angra. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), somente na Rodovia Rio-Santos (BR-101), principal via de acesso aos municípios, havia 13 pontos de interdição total ou parcial, o que impedia o acesso rodoviário das duas cidades turísticas a qualquer outro município.

Ainda segundo a PRF, o trecho da Rio-Santos entre Mangaratiba e Paraty está “totalmente instável, com queda constante de barreiras”. Enquanto que, há um mês responsável pela rodovia, a concessionária CCR é alvo de críticas pela demora na desobstrução da estrada.

"Sabemos o histórico de problemas da Rio-Santos. Graças a Deus ela foi concedida, mas a CCR ainda não disse por que veio. A chuva foi quinta-feira, e ainda estamos com a estrada obstruída. Sem ela, teremos problemas no abastecimento e também no plano de emergência das usinas (nucleares). Precisamos que a rodovia seja liberada o quanto antes. Vi pouca frente de obra na Rio-Santos. Se não aumentar a mobilização, vai continuar fechada", cobrou o prefeito de Angra, Fernando Jordão.

O único ponto com tráfego liberado é pela Serra do Piloto, mas, segundo a PRF, é extremamente perigoso passar pela via. Na tarde de ontem, de acordo com a polícia rodoviária, havia equipes da CCR atuando em dois pontos da BR-101. Já na RJ-115, que é de responsabilidade do governo estadual, e que também estava interdita, teve trechos liberados em meia pista ontem. Outra via fechada é a Estrada Paraty-Cunha.

A prefeitura de Angra chegou a pedir ao governo federal a interrupção do funcionamento das usinas nucleares da cidade, temendo que as rotas de fuga em caso de necessidade de evacuação estejam comprometidas. Em uma videochamada com o prefeito de Angra e com o governador do Rio, Cláudio Castro, o presidente Jair Bolsonaro disse que a ideia era liberar os bloqueios nas estradas ainda ontem, o que não ocorreu. Segundo Bolsonaro, “as pistas têm que estar desobstruídas para possível evacuação” nas usinas.

A Eletronuclear, responsável pelas centrais nucleares, no entanto, informou no domingo (3) que o Plano de Emergência Externo (PEE) não está comprometido por conta das barreiras nas estradas. Para Leonam dos Santos Guimarães, diretor-presidente Eletronuclear, não se justifica do ponto de vista técnico o desligamento das usinas:

A comoção com a tragédia que se abateu em Angra e Paraty é motivo para as pessoas tomarem decisões sob emoção. Mas, olhando objetivamente, não há razões técnicas para o desligamento. Além disso, não se vê benefício para a população ao desligá-las. Pelo contrário, teria que se buscar outras formas de energia que seriam mais caras.

Após a cobrança de uma ação mais contundente, a CCR afirmou, em nota, que atua na região desde a madrugada do dia 1º de abril. A concessionária ainda diz ter mobilizado máquinas e “mais de dez equipes, que atuam simultaneamente em vários pontos dos 270 quilômetros sob administração da empresa”. Sem detalhar ações e trechos em que atua, o governo federal também se pronunciou, afirmando que trabalha para garantir a “trafegabilidade na rodovia”.

Privatizada recentemente, a estrada colecionava riscos antes mesmo do atual colapso. O trecho da estrada em piores condições fica entre Itacuruçá, em Mangaratiba, e Angra dos Reis. São pistas de mão dupla sinuosas, onde asfalto irregular, marcas de antigas quedas de barreira, falta de acostamento e radares mal sinalizados podem aparecer a cada curva. Com a concessão da via, são prometidas obras como a duplicação das pistas e melhorias na segurança do tráfego.