RIO DE JANEIRO

Gabriel Monteiro é acusado de forjar ataque a tiro em carro

Assessor e ex-assessor procuram delegacia de Madureira para mudar versão

Gabriel Monteiro, vereador do Rio - Reprodução / Instagram

Um assessor e um ex-assessor do vereador Gabriel Monteiro (PL) foram nessa segunda (4) à 29ª DP (Madureira) retificarem os depoimentos que tinham dado no ano passado à polícia no qual afirmaram que um carro da comitiva do parlamentar tinha sido atingido por tiros durante uma agenda em Quintino, na Zona Norte do Rio.

O cinegrafista Robson Coutinho da Silva, de 44 anos, e o ex-editor Heitor Monteiro, de 22, afirmam que o político forjou o ataque. O carro pertence a Robson. Atualmente, a distrital apura o crime de tentativa de homicídio contra Monteiro e sua equipe.

Dois dias antes, Robson já havia ido à 64ª DP (São João de Meriti) prestar o mesmo depoimento contra seu chefe. Questionado por que ele havia ido tão longe, já que ele mora no Recreio dos Bandeirantes, o cinegrafista afirmou que foi chamado pelo deputado Giovani Ratinho, que tem reduto eleitoral naquela cidade da Baixada. O parlamentar acompanhou a ida dele à delegacia na madrugada de sábado. Procurado, Ratinho disse que acompanhou o depoimento porque recebeu denúncias anônimas sobre o caso.

— Sobre a questão do tiro, meu carro tinha uma perfuração pequena, que foi uma criança que caiu com o guidom da bicicleta. Não foi tiro. Mas, quando chegou na delegacia, eu fui buscar um lanche e voltei, o Gabriel já estava dando entrevista e falando que o carro tinha sido alvejado — disse Robson.

Segundo o assessor, Gabriel Monteiro teria lhe dito que era para “deixar quieto” que ele “iria resolver tudo”: — Não era um tiro de fuzil. Só denuncio hoje porque a gente tinha receio de sair daquela bolha e ser prejudicado. Eu temia que ele fizesse algo contra mim e minha família.
 

Além de Robson, Heitor Monteiro também foi à 29ª DP para mudar a versão anterior.

— Não tinha tiro. Eu posso afirmar. Ele pediu pra gente falar que teve tiros — disse o ex-assessor, que também acusa Monteiro de assédio sexual.

Na madrugada de sábado, também prestou depoimento Vinícius Hayden Witeze, de 33 anos, que contou ainda que foi orientado por Monteiro a buscar “vídeos e fotos” que pudessem “ser utilizados em prejuízo do deputado Gustavo Schmidt (Avante)”. Ao GLOBO, Vinícius afirmou que “a mando de Monteiro criou uma equipe de P2 (informantes) para investigar desafetos”. Disse que chegou a monitorar, além de Schmidt, o ex-comandante da PM Ibis Silva Pereira e o ex-secretário estadual de Saúde do Rio Edmar Santos.

— No ano passado, eu levantei a vida do deputado Gustavo Schmidt. Eu fiz relatório e tudo. Eu e outros três funcionários. A gente ia atrás dele. Íamos a festas e tal. Monitoramos ele durante um mês. Tudo isso posso provar — afirmou Vinícius ao Globo.

Sandro Figueiredo, advogado do vereador, nega as acusações e afirma que seu cliente “jamais ele utilizou de conduta ilícita e que todas suas atitudes são pautadas na mais extrema legalidade”. Já Schmidt disse que cobrará providências da Presidência da Câmara dos Vereadores.

O delegado Evaristo Magalhães Pontes, da 64ª DP, afirmou que enviará os registros feitos pelos ex-assessores para as delegacias onde os fatos estão sendo investigados:

— Não é usual alguém registrar de madrugada. Ainda mais esse caso. Mas a delegacia funciona 24 horas por dia, e o cidadão tem direito de registrar a hora que quiser.

O Globo não localizou as defesas de Ibis Silva Pereira e de Edmar Santos.

As denúncias contra Gabriel Monteiro poderá resultar num processo no Conselho de Ética da Câmara Municipal, que se reúne hoje. Após um encontro com promotores ontem, Alexandre Isquierdo (DEM), presidente da comissão, afirmou pela primeira vez que possui elementos suficientes que justifiquem a abertura de representação contra o vereador.