Felipe Castanhari publica desabafo após ser chamado de nazista nas redes; entenda
Criador do canal Nostalgia, youtuber brasileiro fez referência ao Holodomor em vídeo sobre Guerra na Ucrânia: 'Ódio destruiu minha saúde mental'
O nome do influenciador digital Felipe Castanhari se tornou um dos assuntos mais comentados na internet, nesta terça-feira (5), devido à publicação do vídeo "Entenda a guerra entre Rússia e Ucrânia", no canal Nostalgia, no YouTube.
Paulista de Osasco, de 32 anos, Castanhari é um dos youtubers mais populares no Brasil, com mais de 14 milhões de inscritos em seu canal na plataforma. Idealizado há mais de uma década para comentar programas, jogos e elementos da cultura pop, o canal passou a se debruçar sobre fatos históricos e científicos há cerca de seis anos.
De maneira didática — "mas sem substituir o trabalho de um professor", como ele já ponderou —, Castanhari já discorreu sobre temas como nazismo, coronavírus, ditadura militar, Segunda Guerra Mundial, abolição da escravatura no Brasil, Guerra Fria e Guerra na Síria. O lema do canal é "ensinando e divertindo".
A omissão das referências bibliográficas que embasam os vídeos, no entanto, costuma ser motivo para críticas recorrentes de parte do público. Presente no top 10 das produções em alta no YouTube, o vídeo "Entenda a guerra entre Rússia e Ucrânia" — que tem consultoria do historiador Caio Mattos e do jornalista Nivaldo Souza — impulsiona agora uma nova discussão nas redes.
No Twitter, internautas acusam Castanhari de espalhar informações falsas acerca da Guerra na Ucrânia. Parte dos usuários chama o youtuber de nazista devido a uma referência ao regime stalinista. "Você deveria ter um mínimo de responsabilidade com o trabalho. Documentário sem fontes é o mesmo que fantasia", escreveu uma pessoa no microblog. A onda de críticas fez com que o youtuber publicasse um desabafo na rede social.
"Esse ódio direcionado ao meu trabalho é uma coisa que destruiu completamente a minha saúde mental nos últimos anos. Eu juro que queria fingir que simplesmente não me importo, mas quando você dedica sua vida a uma coisa, é muito difícil não ser afetado por tudo isso", afirmou o Castanhari.
O principal motivo da atual polêmica tem a ver com a referência ao Holodomor, episódio na história da Ucrânia que ainda é analisado sem consenso pela historiografia. O próprio youtuber ressalta, no vídeo, que o "Holodomor ainda é alvo de muita discussão no meio acadêmico", apresentando, em seguida, as duas interpretações mais comuns entre historiadores.
Tema para filmes como "Colheita amarga" (2018), Holodomor — que poderia ser traduzido por Fome-Terror ou Grande Fome —, foi uma crise generalizada de fome que atingiu a Ucrânia durante o regime comunista soviético liderado desde 1922 por Joseph Stalin (1878-1953).
Alguns historiadores, como Timothy Snyder, da Universidade de Yale, nos EUA, estimam o número de mortos em cerca de 3,3 milhões. Outros dizem que o número foi muito maior, avaliado em 12 milhões.
Muitas pessoas acreditam as causas dessa crise humanitária foram intencionais. E, segundo elas, o homem por trás disso tinha nome e sobrenome: o então líder soviético, Joseph Stalin. Em 2006, a Ucrânia declarou o Holodomor um ato de genocídio.
De acordo com essa interpretação, Stalin queria submeter o campesinato ucraniano rebelde à fome e forçá-lo a integrar suas propriedades em fazendas de exploração coletiva. Outrose estudiosos, porém, rejeitam tal definição e consideram a comparação entre Holodomor e Holocausto inadequada, apesar de reconhecerem a dimensão humana da tragédia.
Em meio a visões distintas, as redes sociais acabaram por acirrar ainda mais essa discussão, tornando-se plataforma de vozes exaltadas contra e favor do comunismo.
A Rússia, em particular, se opõe ao rótulo de genocídio, classificando-o como uma "interpretação nacionalista" da fome. Autoridades do Kremlin insistem que, embora o Holodomor tenha sido uma tragédia, não foi intencional, e outras regiões da União Soviética também sofreram com o mesmo problema na época — e isso, de fato, aconteceu, como comprovam relatos históricos.
Atualmente, além da Ucrânia, pelo menos 15 países — entre os quais Portugal e Canadá, e Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador e México na América Latina — consideram o Holodomor um genocídio. O Brasil não faz parte desse grupo. Em 2018, o Senado dos Estados Unidos adotou uma resolução que definiu o Holodomor como genocídio.