Países ocidentais aumentam sanções contra a Rússia após mortes de civis na Ucrânia
Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu medidas ainda mais severas
Os países ocidentais anunciarão nesta quarta-feira (6) novas sanções contra a Rússia após a descoberta de vários corpos de civis na cidade de Bucha, embora as medidas punitivas continuem sendo insuficientes para as autoridades ucranianas, que se preparam para defender o leste do país, alvo principal de Moscou.
Após vários pacotes de medidas em resposta à invasão da Ucrânia, os Estados Unidos planejam adotar novas sanções contra a Rússia, em coordenação com a União Europeia e o G7, destinadas particularmente a proibir novos investimentos neste país.
No entanto, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou, nesta quarta-feira ao Parlamento irlandês, que alguns líderes da UE estavam "indecisos" e pediu ao bloco que adote medidas ainda mais severas.
"Não posso tolerar nenhuma indecisão depois de tudo o que vivemos na Ucrânia e tudo o que as tropas russas fizeram", disse Zelensky.
Na terça-feira, o presidente ucraniano pediu ao Conselho de Segurança da ONU que atue "imediatamente" contra a Rússia por seus "crimes de guerra".
"Eles os desmembraram, cortaram suas gargantas, estupraram as mulheres e as mataram na frente de seus filhos", disse Zelensky à ONU.
A Ucrânia espera que os europeus imponham sanções mais fortes sobre o fornecimento de energia, embora a Rússia esteja sentindo os efeitos das medidas já adotadas.
A União Europeia terá que impor sanções ao petróleo e ao gás russos "cedo ou tarde", disse nesta quarta-feira o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
A Ucrânia também estará na agenda da reunião dos ministros das Relações Exteriores da Otan, que acontece em Bruxelas nesta quarta-feira e quinta-feira, na qual discutirão as necessidades das Forças Armadas ucranianas.
"Não quero dar detalhes, mas estamos examinando o fornecimento de armas antitanque e sistemas de defesa antiaérea", disse o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg. Embora a Ucrânia não integre a Otan, nada impede que receba ajuda da aliança.
"Crueldade horrível"
A Rússia rejeita qualquer acusação de abusos e acusa as autoridades ucranianas de preparar "montagens" para que o governo russo seja condenado e sancionado.
O Kremlin nega ter matado civis e afirma que as imagens de Bucha e outros lugares são montagens fabricadas pela forças ucranianas ou que as mortes ocorreram após a retirada das tropas russas.
Essa versão "é insustentável", disse o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestrei.
As imagens de satélite captadas quando a cidade estava sob controle russo mostram o que parecem ser corpos espalhados pelas ruas, que depois foram encontrados pelas forças ucranianas e por jornalistas.
"As últimas notícias da guerra na Ucrânia (...) mostram novas atrocidades, como o massacre de Bucha, [mostram] uma crueldade horrível", disse o papa Francisco nesta quarta-feira.
Para o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, as mortes de civis em Bucha "não parecem estar longe do genocídio".
"É uma campanha deliberada de matar, torturar, estuprar e cometer atrocidades", afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
As informações e as imagens sobre Bucha "são profundamente perturbadoras", disse por sua vez um porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
A Assembleia Geral da ONU votará, na quinta-feira, um pedido dos países ocidentais para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos do órgão.
O conflito, o pior em décadas na Europa, provocou 20 mil mortes, segundo cálculos ucranianos.
Stoltenberg disse que a Aliança acredita que a Rússia tentará controlar toda a região do Donbass, leste da Ucrânia, e criar uma ponte terrestre até a península da Crimeia, anexada por Moscou.
As autoridades ucranianas pediram aos habitantes do leste que abandonem "agora" a região, pelo risco de uma ofensiva de grande envergadura na região.
Nesta quarta-feira, jornalistas da AFP constataram bombardeios na cidade de Severodonetsk, a cidade mais ao leste controlada pelo exército ucraniano no Donbass.