União Brasil trava candidatura de Moro ao Senado
Ex-juiz pretende concorrer por São Paulo, mas dirigentes temem concorrência de Datena e defendem campanha à Câmara para puxar votos e eleger outros nomes
Após retirar a sua pré-candidatura à Presidência, o ex-ministro Sergio Moro (União Brasil) indicou a aliados e articuladores da terceira via que pretende disputar uma vaga no Senado por São Paulo. A ideia, no entanto, encontra resistência dentro do partido e, desta vez, não apenas da ala ligada ao ex-prefeito de Salvador e pré-candidato ao governo baiano, ACM Neto, mas do próprio diretório paulista.
De acordo com dirigentes e parlamentares do União, ter Moro como candidato ao Senado é uma estratégia arriscada, já que o ex-juiz poderia trocar de legenda durante o mandato de oito anos — diferente de uma vaga na Câmara dos Deputados, em que ficaria sujeito às regras de fidelidade partidária. Aliados do ex-ministro rebatem e argumentam que o presidente da sigla, Luciano Bivar, assegurou que ele poderá concorrer ao Senado.
O receio de um possível abandono da sigla é reforçado pela forma como o ex-ministro saiu do Podemos: repentinamente e sem avisar a aliados ou à própria presidente da legenda, Renata Abreu. Integrantes do diretório paulista avaliam também que uma disputa ao Senado, além de cara, é incerta, pois o apresentador José Luiz Datena (PSC) aparece à frente nas pesquisas de intenção de voto que os partidos tem em mãos.
Moro, por sua vez, ainda não se colocou oficialmente como pré-candidato e ainda estaria disputando em um estado que não é seu reduto eleitoral.
O nome ao Senado referendado pelo diretório do maior estado do país é o do presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, Milton Leite, que tem forte influência no estado e que, para aliados, queria disputar a vaga em Brasília apenas como forma de marcar posição na disputa.
Segundo dirigentes do União, o ex-juiz da Lava-Jato seria um importante puxador de votos para a Câmara dos Deputados e, se eleito, poderia trazer junto com ele outros candidatos — e, neste cenário, sem exigir grandes repasses financeiros da legenda.
Moro se filiou ao partido de Luciano Bivar na quinta-feira da semana passada, após quase cinco meses no Podemos. O acordo inicial com o União era de retirar a sua pré-candidatura à Presidência e restringir a atuação política ao estado de São Paulo, para onde mudou seu domicílio eleitoral.
No mesmo dia do anúncio, o deputado Alexandre Leite, dirigente do União em São Paulo, divulgou uma nota dizendo que o ex-juiz da Lava-Jato seria candidato à Câmara dos Deputados. A atitude irritou a campanha de Moro, que no dia seguinte fez um pronunciamento público dizendo que não seria candidato a deputado federal e que não havia desistido de nada.
Pessoas próximas à campanha do ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL) dizem que, apesar de descartada a hipótese de concorrer ao Palácio do Planalto, ele quer se manter ativo nas articulações da terceira via, uma forma de continuar ganhando visibilidade nacional. Por isso, Moro tem mantido agendas sobre pautas mais abrangentes, como uma reunião, hoje, com o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro, ou encontros com outros nomes da terceira via, como a senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB à Presidência, e o ex-governador Eduardo Leite (PSDB).
Procurada, a assessoria de imprensa de Moro não retornou o contato.
O ex-ministro do governo Bolsonaro e ex-juiz Sergio Moro formalizou seu embarque no Podemos no dia 10 de novembro do ano passado, durante ato em Brasília. Com rejeição entre bolsonaristas e lulistas, o ex-juiz era, à época, uma das apostas do centro
Quatro meses e meio depois de se filiar ao Podemos, Moro embarcou no União Brasil no último dia 31. Horas depois de sua filiação, o ex-ministro afirmou que abriria mão, na ocasião, da pré-candidatura à Presidência. O ex-juiz aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto. Segundo a legenda, Moro concorreria a uma vaga de deputado federal.
Na última sexta-feira, Moro afirmou que não havia “desistido de nada”, em referência às eleições para o Planalto. A declaração foi dada um dia após o ex-juiz confirmar sua filiação ao União Brasil e ver seus novos colegas de partido publicarem nota vetando sua candidatura à Presidência:
— Eu não desisti de nada. Muito menos do meu sonho de mudar o Brasil. Pelo contrário, sigo firme.