Reajuste salarial pode 'destruir' economia com indexação, diz Guedes
Servidores pressionam por aumento, mas o governo avalia no máximo 5%, metade da inflação oficial do ano passado
Num momento em que o governo Jair Bolsonaro discute reajuste para servidores públicos e que diversas categorias se mobilizam por aumentos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira (7) que um aumento para todos poderia "destruir" a economia.
Em sua avaliação, isso reviveria a lógica da indexação do período de hiperinflação, anterior ao Plano Real.
"Agora, se começar a dar reajuste para todo mundo, nós estamos empurrando o custo para filhos e netos, além de destruirmos a nossa economia também. Porque nós vamos voltar a lógica da realimentação inflacionária, de indexar tudo outra vez", disse o ministro, em evento do mercado financeiro.
Como o GLOBO mostrou na semana passada, o governo discute um aumento linear de 5% para os servidores.
Outro cenário em estudo é conceder aumento apenas para os policias federais, promessa já feita pelo presidente Jair Bolsonaro que ampliou a insatisfação de outras categorias. No entanto, a paralisação de servidores, como do Banco Central, por exemplo, fez com que integrantes do governo voltassem a reavaliar um reajuste salarial linear.
O governo bloqueou no mês passado R$ 1,7 bilhão do Orçamento deste por falta de espaço no teto de gastos (a regra segundo a qual as despesas não podem crescer acima da inflação). O espaço de R$ 1,7 bilhões para reajustes, por outro lado, foi preservado.
Portanto, um reajuste salarial tende a apertar ainda mais as contas públicas, sendo necessário fazer cortes. Diversos governadores já concederam aumentos de salários, aumentando a pressão sobre o governo federal.
"Agora tem dois campos. Um campo que partiu para o populismo, de dar aumento salarial num momento que ainda está combatendo a crise. E outro que diz 'olha, espera um pouco, espera a doença ir embora e, depois, nós vamos reavaliar e dar aumentos salariais'", disse Guedes.
O ministro também descartou qualquer movimento para repor a inflação nos reajustes salariais. A alta de preços já chega a mais de 10%.
"Durante a pandemia a gente gasta com a pandemia e depois aí sim você começa a reparar alguns que ficaram para trás. Mas não pode ter aquela lógica passada de reposição. “Ah, vou repor”. Se houve uma queda, uma perda… Nós somos uma geração que pagou pela guerra", disse o ministro.