Política

Em aceno ao STF, novo comandante do Exército convida Fux para cerimônia do Dia do Exército

General Marco Antonio Freire Gomes visitou presidente da Corte e ouviu relatos do ministro sobre o 7 de setembro de 2021

General Marco Antônio Freire Gomes ao lado do presidente Jair Bolsonaro - Divulgação/Governo Federal

No momento em que o presidente Jair Bolsonaro aumenta o tom dos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), o novo comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, convidou o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, para participar de solenidade alusiva ao Dia do Exército, marcada para o próximo dia 19. O  oficial, que assumiu o posto na semana passada, foi até o tribunal na quarta-feira para se apresentar ao ministro.

O convite foi visto como um aceno do comando militar para a presidência do Supremo. A interlocutores, o presidente da Corte tem dito que irá à solenidade, da qual participarão os comandantes de diversos outros países, como Estados Unidos.

Foi justamente no Dia do Exército de 2020 que Bolsonaro, furando as medidas de distanciamento social em razão da pandemia de Covid-19,  fez um discurso durante manifestação que defendia uma intervenção militar, o fechamento do Congresso e do próprio Supremo. Os protestos daquele dia motivaram abertura do inquérito dos atos antidemocráticos, que  mirou em aliados do presidente. A investigação foi arquivada no ano passado pelo ministro Alexandre de Moraes.

O encontro institucional entre Freire Gomes e Fux ocorreu após a impossibilidade de o presidente do Supremo comparecesse à posse do novo chefe da força militar. O Globo apurou que a conversa aconteceu em tom amistoso, mas serviu também para que os dois tratassem sobre um tema que abalou a Corte em 2021: as manifestações de caráter golpista do último 7 de setembro, com ameaças de invasão à sede do Supremo por manifestantes pró-Bolsonaro. No encontro, o ministro relatou ao general o "esquema de guerra" que montou para garantir a segurança do tribunal.

Interlocutores do Supremo ouvidos pela reportagem afirmam que Fux, em dado momento, chegou a mostrar ao novo comandante do Exército uma foto do aparato de segurança montado pela Polícia Federal e pela Polícia Judicial — e nenhum episódio grave de violência contra o STF foi produzido naquele setembro de 2021. Na missão, foram quase 150 agentes envolvidos, incluindo grupos de elite e policiais infiltrados no meio dos manifestantes.

O presidente do STF ainda teria feito um relato detalhado das dificuldades e preocupações que teve na ocasião, quando os ataques foram perpetrados pelo próprio presidente Jair Bolsonaro do alto de um carro de som na Esplanada dos Ministério. Os relatos são de que Freire Gomes ouviu atentamente.

Além de Fux e Freire Gomes, participaram da reunião, que durou pouco mais de meia hora, o general de divisão Francisco Humberto Montenegro Júnior e o coronel do Exército Deocleciano José de Santana Netto.

Nos últimos meses, as relações entre as Forças Armadas e o Judiciário passaram por atritos, como os questionamentos feitos representante militar na Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às urnas eletrônicas. A existência das 48 perguntas chegou a ser divulgada por Bolsonaro em uma live, quando disse que o ex-ministro da Defesa Braga Netto estaria "monitorando esse assunto".

Bolsonaro, por sua vez, voltou a fazer ataques diretos a ministros da Corte, a exemplo do tom adotado nos atos de 7 de setembro, quando chamou o ministro Alexandre de Moraes de "canalha" . No último dia 31, aniversário do golpe de 1964,  pediu que algumas pessoas não atrapalhem, coloquem suas togas e parem de "encher o saco". Sem citar nomes, também fez referências a Moraes, relator do inquérito que tem o próprio Bolsonaro e apoiadores como alvos, e à ministra Rosa Weber, que rejeitou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para arquivar um inquérito em que o presidente é investigado por prevaricação.

"Nós aqui temos tudo para sermos uma grande nação, para sermos exemplos para o mundo. O que que falta? Que alguns poucos não nos atrapalhem. Se não tem ideias, cala a boca. Bota a sua toga e fica aí, sem encher o saco dos outros", disse Bolsonaro em cerimônia de troca de ministros no Palácio do Planalto.