Bolsonaro culpa guerra e pandemia pela alta no preço dos alimentos
Em discurso feito a apoiadores, presidente buscou dissociar do governo os resultados da inflação divulgados pelo IBGE
Um dia após o IBGE informar que a inflação medida pelo IPCA foi de 1,62% em março, a maior para o mês desde o início do Plano Real, em 1994, o presidente Jair Bolsonaro (PL) reconheceu o avanço dos preços dos alimentos no Brasil, mas tentou se descolar dos efeitos negativos no bolso do consumidor ao defender que o fenômeno ocorre em todo mundo.
"O mundo todo está agora com uma inflação de alimentos grande, fruto da pós-pandemia, do 'fique em casa e a economia a gente vê depois’, e também a questão da guerra da Ucrânia e Rússia", afirmou Bolsonaro.
A declaração foi dada a apoiadores durante viagem ao Santuário São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes (PR), e compartilhada nas redes sociais de Bolsonaro neste sábado (9). Segundo o presidente, outros fatores contribuíram para a alta dos preços dos alimentos, como os períodos de seca e geada registrados no ano passado. Apesar disso, o presidente manteve o tom de otimismo e afirmou que atualmente o Brasil desponta “como melhor país para investimento”.
Como tem feito em outras ocasiões, o presidente tentou dissociar do seu governo a alta dos preços dos combustíveis, que, conforme os dados de sexta-feira (8) do IBGE, também subiram em ritmo acelerado (O óleo diesel subiu 13,65% em março, enquanto a gasolina teve alta de 6,95% e o gás de botijão, de 6,57%). Segundo o presidente, a inflação dos preços dos combustíveis é algo que tem afetado o mundo todo.
"Hoje em dia, a inflação dos combustíveis no Brasil está cara? Está. (mas) vejam a cadeia, a composição dos preços. Procure saber quanto é o ICMS, que é imposto dos estados, quanto é a margem de lucro dos banqueiros, se é justa ou não, e a margem de lucro dos donos de postos de combustíveis", justificou Bolsonaro, acrescentando: "Quanto é o imposto federal no diesel do Brasil? É zero. Eu zerei".
Bolsonaro chegou a culpar até mesmo a oposição pela alta no preço do combustível, por, segundo o presidente, não ter construído refinarias no passado. Em meio ao discurso feito a simpatizantes, o presidente defendeu que mais refinarias sejam construídas no Brasil, pois, segundo ele, por causa dos governos do PT o país se tornou importador de diesel e gasolina, apesar de ser autossuficiente em petróleo. "É um problema que nós temos. Isso não é desculpa, é a realidade. Já estamos investindo, potencializando algumas refinarias, para aumentar a produtividade, mas o ideal é fazer o quê? Refinaria", emendou.
Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o IPCA acumula alta de 11,30% em 12 meses, maior índice desde outubro de 2003. O número veio acima do esperado pelo mercado. Analistas econômicos esperavam alta de 1,28% no mês de março, segundo mediana da Reuters. Pesou sobre o indicador no mês de março o reajuste nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha, concedido pela Petrobras nas refinarias e repassado pelas distribuidoras.
Segundo os dados do IBGE, oito dos nove grupos pesquisados registraram alta em março. Os principais impactos vieram do grupo Transportes, com avanço de 3,02%, e de alimentação e bebidas, com alta 2,42%. Juntos, estes dois grupos contribuíram com cerca de 72% do índice do mês.