Chefe da diplomacia da UE afirma que Rússia 'provoca fome no mundo'
As preocupações são especialmente agudas para o Oriente Médio e a África
A Rússia é responsável por uma escalada da crise alimentar global devido à guerra na Ucrânia, especialmente por ter bombardeado reservas de trigo e impedir a saída dos carregamentos de grãos, assegurou, nesta segunda-feira (11), o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
"Estão provocando escassez. Estão bombardeando as cidades ucranianas e provocando fome no mundo", disse Borrell em uma coletiva de imprensa após se reunir com os ministros das Relações Exteriores dos países da União Europeia (UE)
A autoridade espanhola advertiu que além dos combates na Ucrânia, "há outra batalha: uma batalha narrativa".
Em sua visão, enquanto a Rússia apresenta as sanções da UE como as "responsáveis pela escassez de alimentos e pelo aumento dos preços", é a Rússia que "provoca fome no mundo bloqueando os portos, o trigo e destruindo as reservas de trigo na Ucrânia".
"Deixem de culpar as sanções. O exército russo é que está provocando a escassez de alimentos", afirmou.
Borrell fez essas declarações depois que o Escritório da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO) advertiu, na semana passada, que os preços mundiais dos alimentos alcançaram um nível máximo histórico em março, após a invasão da Rússia à Ucrânia, uma potência agrícola.
A FAO apontou que a interrupção das exportações como resultado da invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro, junto com as sanções internacionais decretadas em represália a Moscou, haviam aumentado os temores de uma crise mundial de fome.
As preocupações são especialmente agudas para o Oriente Médio e a África, onde já são percebidos os efeitos colaterais da guerra.
A Rússia e a Ucrânia possuem vastas regiões produtoras de cereais que se encontram entre os principais celeiros do mundo.
Suas colheitas representam uma grande parte das exportações mundiais de vários produtos básicos importantes, incluídos o trigo, o óleo vegetal e o milho.
Nos últimos três anos, a Rússia representou em torno de 30% das exportações mundiais de trigo e de milho e a Ucrânia 20%, segundo estimativas da FAO.
O escritório da ONU também estima que a carestia na África ocidental e nas regiões do Sahel - altamente dependente dos cereais russos e ucranianos - poderia piorar e afetar mais de 38 milhões de pessoas até junho.