Diplomacia

Biden e primeiro-ministro indiano têm conversa "franca" sobre a Ucrânia

A conversa de uma hora foi "afetuosa e produtiva", declarou uma funcionária da Casa Branca

Joe Bien e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em cúpula virtual - Drew Angerer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

O presidente Joe Bien e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, tiveram nesta segunda-feira (11) uma conversa "franca" sobre a crise na Ucrânia durante uma cúpula virtual, em um momento em que Washington vê-se frustrado com a posição neutra de Nova Délhi em relação à invasão russa.

A conversa de uma hora foi "afetuosa e produtiva", declarou uma funcionária da Casa Branca, mas não houve indícios de mudanças significativas rumo a uma postura comum sobre o conflito.

A Índia anda na corda bamba para manter relações com o Ocidente e evitar isolar a Rússia, e não impôs sanções pela invasão.

Esta posição preocupa Washington, principalmente pelo fato da Índia seguir comprando petróleo e gás russo, apesar da pressão de Biden para que os líderes mundiais adotem uma linha dura contra Moscou.

Mesmo assim, a funcionária esclareceu que não houve "perguntas concretas e respostas concretas" sobre as importações de energia durante a reunião. "Não acreditamos que a Índia deva acelerar ou aumentar as importações de energia russa e os Estados Unidos estão dispostos a ajudá-la a 'diversificar' as importações", completou.

Biden começou a reunião elogiando a "profunda conexão" entre os dois países. Modi classificou a situação na Ucrânia como "muito preocupante", além de lembrar que a Índia apoia as negociações russo-ucranianas e oferece ajuda médica a Kiev.

"É importante que todos os países, principalmente todos que tenham influência" sobre o presidente russo, Vladimir Putin, "peçam que ponha um fim à guerra", declarou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, após a cúpula por videoconferência seguida de uma reunião em Washington com o colega indiano e os ministros da Defesa dos dois países.

"Também é importante que as democracias falem com uma só voz para defender os valores que compartilhamos", completou.

Diante da insistência dos jornalistas pela falta de uma condenação da Índia, o chefe da diplomacia indiana, S. Jaishankar, não escondeu sua irritação: "Obrigado por seus conselhos e sugestões, mas prefiro fazer as coisas da minha maneira", respondeu a um jornalista durante a coletiva de imprensa com Antony Blinken.

Jaishankar também foi duro ao falar das compras de petróleo: "Nossas compras em um mês são provavelmente menores que as da Europa em uma tarde".

A estatal Oil Corp. comprou pelo menos três milhões de barris de petróleo da Rússia desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, desafiando o embargo das potências ocidentais.

Biden e Modi não concordaram em condenar conjuntamente a invasão russa na última vez que conversaram no início de março em uma reunião da chamada aliança "Quad" entre Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão.

A Índia absteve-se de votar na semana passada a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos na Assembleia Geral da ONU, que acusa Moscou de promover massacres de civis na Ucrânia.

Resposta "instável"

Os Estados Unidos já alertaram que qualquer país que ajudar ativamente a Rússia a eludir as sanções internacionais sofrerá "consequências".

A ameaça não impediu a Índia de trabalhar com a Rússia em um mecanismo de pagamento de rúpias e rublos para que a Rússia possa cumprir suas obrigações comerciais existentes, apesar das sanções impostas ao Kremlin.

Biden disse em 21 de março que a Índia era uma exceção entre os aliados de Washington por sua resposta "instável" à ofensiva russa.

Durante a Guerra Fria, a Índia inclinou-se para a União Soviética, em parte devido ao apoio dos Estados Unidos ao arquirrival, o Paquistão.

Em 1962, a Índia comprou seus primeiros aviões de combate russos MiG-21 e, de acordo com especialistas, a Rússia segue sendo o maior provedor de armas para Nova Délhi, que também é o maior cliente de Moscou.

"A Índia precisa tomar suas próprias decisões diante deste desafio", declarou Antony Blinken, que preferiu não criticar o país abertamente e reconheceu que o governo indiano "condenou o massacre de civis" na Ucrânia e "presta uma importante ajuda humanitária".

Blinken insistiu que, apesar das relações indo-russas serem muito mais antigas que as existentes entre Washington e Nova Délhi, estas últimas estão desenvolvendo-se rapidamente.

Discordando sobre a guerra, líderes americanos e indianos se concentraram em seu desejo comum de mitigar os efeitos na economia mundial e em outras áreas, como a assinatura de um acordo de cooperação espacial.