PELA SEGUNDA VEZ

Presa, Flordelis não poderá acompanhar julgamento dos filhos pela segunda vez

Defesa teme que o desenrolar da sessão desta terça-feira influencie o júri da ex-deputada, marcado para daqui um mês

Flordelis dos Santos - Fernando Frazão / Agência Brasil

Acusada de ser mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, a ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza não poderá acompanhar, pela segunda vez, o julgamento de filhos que também respondem pelo homicídio. Depois de Flávio dos Santos Rodrigues e Lucas Cézar dos Santos de Souza serem condenados, em novembro do ano passado, nesta terça-feira sentarão no banco do réus Carlos Ubiraci, André Luiz de Oliveira e Adriano dos Santos Rodrigues. Já a pastora, presa na penitenciária Talavera Bruce, no Complexo de Gericinó, tem julgamento previsto para daqui um mês, em 9 de maio, na companhia de outras duas filhas e uma neta.

Apesar da ausência de Flordelis, a defesa da ex-parlamentar estará presente na sessão, marcada para começar às 9h, no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Também serão julgados o ex-PM Marcos Siqueira da Costa e a esposa dele, Andrea Santos Maia, que, assim como Adriano, respondem apenas por uso de documento falso e associação criminosa, e não pelo assassinato do pastor em si. O advogado Rodrigo Faucz, que defende a pastora — além de uma das filhas e a neta que irão a julgamento ao lado dela —, diz que estará no local para "verificar se tudo vai transcorrer da maneira adequada".

"A princípio, o que seria o adequado é que não houvesse qualquer influência de julgamentos um no outro, até porque são acusados distintos. No entanto, considerando até o julgamento do Lucas e do Flávio, em que durante todo o júri houve foco na Flordelis, então obviamente nós temos a preocupação de que novamente se crie uma situação voltada para um pré-julgamento sobre ela", pontuou Faucz, acrescetando preocupação até mesmo em relação à escolha dos jurados: "A lista da reunião de jurados (no julgamento da Flordelis), que são 170 nomes, vai ser a mesma em que acontecerá o sorteio hoje. Os sete que participarem agora não poderão estar no outro, mas, ainda assim, nós sabemos que tem uma possibilidade de conversa entre os jurados antes do julgamento, que existem outras sessões no decorrer".

A ex-deputada federal foi indiciada pelo crime em agosto de 2020, na segunda fase das investigações feitas pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). A pastora acabou presa dois dias depois de perder o cargo na Câmara, já que até então possuía imunidade parlamentar. Flordelis teve o mandato cassado após os colegas entenderem que ela cometeu quebra de decoro parlamentar. A prisão preventiva (sem prazo para terminar) foi decretada pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce.

As primeiras horas após o crime indicavam que o pastor teria sido seguido até em casa, história também contada por Flordelis a PMs naquele dia. Pouco depois, porém, uma desavença em família passou a ser a principal linha de investigação utilizada pela Polícia Civil.

"Mais uma violência, mais uma tentativa de assalto frustrada. Eu só fui dar um passeio que acabou dessa forma, com ele perdendo a vida para tentar proteger a casa, a família. Tentou evitar, mas, infelizmente, abriu o portão da garagem. Ele tentou evitar que eles entrassem. Ele sacrificou a vida dele para proteger a família", lamentou a viúva, casada durante 26 anos com a vítima, horas após o assassinato.

Horas antes do sepultamento de Anderson, a então deputada negou o envolvimento de um dos filhos no assassinato, o que já era uma suspeita da polícia, e reiterou que o pastor foi morto ao defender a família durante uma tentativa de assalto. Ela também descartou a possibilidade de existir uma arma em casa, que depois foi encontrada pela polícia.

As investigações concluíram que Flordelis foi a mandante do assassinato por conta de questões financeiras. A partir de então, a carreira política começou a desmoronar. Ela foi suspensa do partido, afastada da bancada evangélica e passou a utilizar uma tornozeleira eletrônica, até a cassação definitiva do mandato. A pastora chegou a se defender dizendo que estava sendo condenada sem direito a julgamento.

Deputada que ficou viúva após a morte de Anderson do Carmo, Flordelis, de 60 anos, tornou-se conhecida na década de 1990 por ter mais de 30 filhos entre biológicos e adotados. Lançou-se como cantora em 1998 e, em seguida, candidatou-se a cargos políticos. Na última eleição para a Câmara, obteve 196.959 votos. O casal se conheceu no início dos anos 90, quando a deputada era missionária e realizava cultos na Favela do Jacarezinho, onde morava. Com os filhos, os dois fundaram oficialmente a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis, em 1999, no Rocha.

Em 2009, a história da deputada foi lançada como filme. Com o título "Flordelis - Basta uma palavra para mudar", o longa-metragem teve produção executiva do marido e contou com a participação de estrelas como Letícia Sabatella, Cauã Reymond, Bruna Marquezine, Alinne Moraes e Deborah Secco. Os artistas participaram gratuitamente da obra, em prol da causa da missionária de montar uma casa para menores. Flordelis, na adolescência, ficou conhecida como "Missionária do tráfico" por resgatar da marginalidade crianças e jovens.