Flordelis: julgamento de quatro réus pela morte do pastor Anderson passa de 21 horas
Segunda fase do julgamento durou mais de 20 horas e teve o depoimento de testemunhas e de réus
A segunda fase do julgamento de quatro réus da morte do pastor Anderson do Carmo entrou no segundo dia nesta quarta-feira (13) e já passa de 21 horas. Neste período, doze testemunhas foram ouvidas e os réus interrogados no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio. São julgados nessa fase os filhos da ex-deputada Adriano dos Santos Rodrigues e Carlos Ubiraci Francisco da Silva, o ex-PM Marcos Siqueira Costa e a mulher dele, Andrea Santos Maia. No momento, os sete membros do júri estão votando o veredito.
Carlos é réu por homicídio triplamente qualificado e por tentativa de homicídio duplamente qualificada, por conta de episódios em que membros da família teriam envenenado a comida de Anderson, além de ser acusado de fazer parte de uma associação criminosa que articulou a morte do pastor. Ele negou qualquer relação com o crime. Pela primeira vez, porém, ele responsabilizou a mãe pelo assassinato, afirmando que "acredita, sim" que ela teve participação direta na trama.
Já Adriano, o ex-PM Marcos Siqueira e sua mulher, Andrea, estão sendo julgados ao lado de Carlos por uso de documento falso, em virtude de uma carta forjada que inocentava Flordelis, e também por associação criminosa. Em novembro do ano passado, Lucas Cezar dos Santos e Flávio dos Santos Rodrigues, também herdeiros da pastora, foram condenados pelo assassinato do pastor.
Outro filho de Flordelis, André Luiz de Oliveira, responderia pelos mesmos crimes no julgamento, mas teve, ainda na terça-feira (12), a audiência adiada depois que o advogado passou mal.
Flordelis, que é apontada como mandante da execução a tiros do marido, duas netas e uma filha, rés no mesmo processo, tiveram o julgamento marcado para o dia 9 de maio deste ano.
Entre as testemunhas ouvidas no segundo julgamento, Alexander Felipe Matos Mendes, conhecido como Luan, uma das dezenas de filhos afetivos da ex-deputada, emocionou-se ao prestar depoimento. Com a voz embargada, o rapaz precisou interromper o depoimento ao lembrar do momento em que se deparou com o corpo do pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019.
"Eu não tinha força nem pra chorar. Parecia um choque, não sei explicar. Segurei um ferro para não cair. E comecei a contar. Eram várias perfurações. Parei quando cheguei no 14º tiro. E isso porque jamais faria na região pélvica", recordou Luan. Atingido por mais de 20 disparos, Anderson foi alvejado várias vezes próximo à genitália.
O delegado Allan Duarte foi a segunda testemunha a prestar depoimento. Ele foi ouvido por cerca de 1h15. Duarte, que assumiu a segunda fase das investigações, também afirmou que não houve comprovação de que a vítima abusou sexualmente de pessoas na casa. Questionado, o delegado disse ainda não ter constatado que Flordelis sofria qualquer violência doméstica. Duarte foi questionado também sobre informações de que Anderson e a ex-deputada frequentavam casa de suingue. As perguntas foram feitas por jurados.
"Não foi confirmada que eles foram em casa de trocas de casais. É um dado de interesse para a gente avaliar como era a conduta do casal no dia a dia, mas não se confirmou".
Ainda durante seu depoimento, Allan Duarte foi questionado se durante as investigações foi constatada a prática de "rachadinhas" na família, que consiste na devolução de parte do salário por funcionários nomeados em gabinetes de políticos. O delegado confirmou que foram encontrados indícios da prática do crime. Segundo ele, Carlos Ubiraci, réu do processo, era um dos integrantes da família que devolvia uma parcela dos seus ganhos como assessor parlamentar de Flordelis.