PESQUISA

Uso inadequado do binder pode comprometer a saúde de homens trans, alerta estudo do HC-UFPE

Queixas de desconforto na respiração e dores na região do tórax são maiores em homens trans que fazem uso do acessório

Robyn Beck/AFP

É muito comum o uso de binder por homens trans como recurso para diminuir a disforia de gênero. Mas, se usado de forma inadequada, pode gerar problemas de saúde.

Pesquisadores do Hospital das Clínicas da UFPE identificaram que queixas de desconforto na respiração e dores na região do tórax são maiores em homens transexuais que fazem uso do acessório. O estudo “Uso de binder e queixas respiratórias em homens transexuais” foi publicado na Revista Fisioterapia em Movimento.

O binder é uma peça de roupa, um tecido ou acessório, para achatar a região dos seios, amenizando a aparência das mamas. É bastante utilizado por homens trans para aliviar a disforia de gênero, que é a sensação de incômodo e angústia em relação às características físicas do próprio corpo que não correspondem à sua identidade de gênero. 

Mais da metade dos entrevistados pela pesquisa (53,3%) fazem uso da faixa. As principais queixas relatadas foram dores na região e dificuldade de respirar. “Outros estudos apontaram também hematomas e escoriações de pele, podendo causar até problemas de coluna. Contudo, o sofrimento psíquico dos mesmos é tão grande que eles suportam todos desconfortos físicos”, comenta o fisioterapeuta Washington Santos.  

Washington é um dos autores da pesquisa e explica que “a  intensidade da compressão e o tempo de uso podem acarretar dificuldades na respiração, devido à restrição na mobilidade da caixa torácica”. Para evitar complicações com o uso do binder, o indicado é usar do tamanho exato do tórax da pessoa e que não cause desconforto ao ponto de gerar sequelas.

No último sábado (9), o HC realizou um mutirão de masectomia em homens trans que são acompanhados pelo Espaço de Acolhimento e Cuidado Trans do próprio hospital. O HC-UFPE é um dos cinco centros que realizam cirurgias de transsexualização no Brasil. O pesquisador também afirma que o hospital faz, em média, uma cirurgia de mastectomia em homens trans por mês. 

“É importante a celeridade do tratamento pois, além dos problemas físicos que o binder pode provocar, tem o lado psicológico destes homens. Para a maior parte, este procedimento de mastectomia é o procedimento mais importante para se sentirem confortáveis. O uso do binder é o procedimento mais importante enquanto a cirurgia não acontece”, explica. 

O pesquisador reforça também a necessidade de políticas públicas e incentivos do governo para assegurar o direito de pessoas trans terem acesso aos procedimentos necessários, que ainda são muitos restritos, no processo de transsexualização e no acompanhamento de saúde. 

Além de Washington, outras profissionais do HC também assinam o artigo: as fisioterapeutas Renata Baltar e Daniele Rodrigues e a docente do Departamento de Medicina Social da UFPE Albanita Ceballos. De outras instituições, cooperam o psicanalista e docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Geraldo Moura, e a ex-residente da Secretaria de Saúde do Recife Lara Rocha.