Música

Em novo disco, Silvério Pessoa debruça-se no rock para esbanjar amor

"Sangue de Amor", disponibilizado nas plataformas e em mídia física, traz uma nova estética artística do cantor e compositor pernambucano

Silvério Pessoa, cantor e compositor - Reprodução/Instagram

Um disco em muitos outros e/ou muitos em um só. Assim é “Sangue de Amor”, trabalho recém-lançado do cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa, que há pelo menos seis anos não esbanjava sonoridades ao mercado fonográfico e com boas-novas tão audíveis quanto as que estão compiladas nas doze faixas que compõem o álbum, cuja produção assinada por Yuri Queiroga e Ricardo Fraga o consolida como um dos melhores da Música Popular Brasileira.

Disponível nas plataformas digitais e também em mídia física, o projeto foi finalizado pelas bandas de cá, mas com pontapé iniciado em ares europeus, precisamente na França, no decorrer de uma passagem de Silvério em turnê pelo país.

Era 2016/2017 e a partir de então os dias se seguiram dentro da vastidão que é o seu universo artístico, nitidamente explorado em cada uma das canções trazidas à tona e reverberadas em letra, poesia e  reflexões, todas musicadas para explicar o paradoxo que pode enquadrar sentimentos diversos, em especial o amor e o seu desembrulhar em tantos e em tudo ao redor.

 


Rock com sotaque 
Distanciando-se (um pouco) da estética enviesada pela pegada da cultura nordestina e toda a autenticidade que sempre cadenciou seus frevos e forrós – que o digam “Micróbio do Frevo” e “Cabeça Feita”, este último para celebrar Jackson do Pandeiro - em “Sangue de Amor” Silvério arrisca-se em meio ao rock, às guitarras inflamadas e a uma psicodelia setentista, embalada na faixa de abertura “Caveira de Cavalo”.

A faixa foi lançada como um dos singles do disco que viria a seguir, e que como “abre” do álbum dá as boas-vindas alternando na letra por entre infernos, mariposas, cheiro forte de enxofre e cheiro podre de lembranças, entre outras figuras que tornam-se facilmente imagináveis e instigam o cantarolar culminado no refrão percussivo “O amor morreu”. Já “Pedra Polida” vem a seguir, em letra escrita com Clarice Freire, e que ganha a participação – e suavidade quase lúdica da voz de Fernanda Takai. 

“Sal”, assinada também por Tibério Azul, dá sequência a uma lógica narrativa que se encaixa com precisão no propósito de um disco pensado para dar luz a conflitos que se extremam entre costumes que são rearranjados por alguém/alguma coisa que chega para desdizer tudo que foi dito (o amor?). Com Bruna Caram, em “Pior É Que Eu Me Lembro”, Silvério segue nas pisadas controversas do disco, em letra que remonta a sentimentos frágeis de um “amor ácido e pouco, mas que era o máximo”.

Com Felipe Catto, Silvério segue esboçando a veia no rock, em contrapartida ao aboio que rege o final da faixa que dá nome ao disco – ratificando, com propriedade, a sua (como sempre e desde sempre) efervescência nordestina em meio à estética arranjada com a predominância dos metais. Assim também se dá em “A Primeira Noite”, com participação de Aelis Loddo e Laís de Assis na interpretação.
 

 



Por lá que ouvem-se sopros e novamente o pulsar pela riqueza da cultura popular. “Poente”, em parceria com Bruno Souto, vem em seguida, antecipando a incontestável “Quando Nasceram os Deuses”, cuja participação de Paulo Miklos reforça com maestria o quanto o amor transforma e revela tudo o que vale à pena. Natascha Falcão acompanha Silvério em “Ciranda Psi” e Marco Polo (Ave Sangria) dá o tom em “Ranger dos Dentes”, música assinada por ambos. 

“Frevo Enigma” traz de volta às origens ‘Silverianas’ ao ritmo pernambucano para culminar na derradeira faixa “Ela e o Amor”, escrita por ele e pelo paraibano Ivan Santos. É nela que o desejo de um futuro mais promissor ressoa fluido e necessário, em letra que remonta a uma Amazônia como terra ninguém, passa por macas lotando corredores (de hospitais) e praças como espaço de clamor de uma multidão que, tal qual o disco, mescla agruras e anseios por (mais) amor.

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