Avaliação

Brasil é contra sistema próprio de pagamentos no Brics, como pede a Rússia

Segundo secretário da equipe da Economia, o sistema Swift tem falhas

Ministério da Economia - Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

O pedido feito pelo ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, na última sexta-feira (8), pela ampliação do uso de moedas nacionais e a integração dos sistemas de pagamentos entre os membros do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não conta com o apoio do Brasil.

De acordo com o secretário de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia, Erivaldo Gomes, embora o governo brasileiro concorde que existem problemas, qualquer mudança ou ajuste deve ocorrer no âmbito multilateral. Ou seja,não há como cada país, ou cada grupo de países, desenhar suas próprias soluções.

Alvo de sanções econômicas adotadas por vários países, com destaque para os Estados Unidos e os integrantes da União Europeia, a Rússia está praticamente isolada no sistema financeiro internacional. Como consequência da invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente Vladimir Putin, as reservas em ouro e moedas estrangeiras do país despencaram e os maiores bancos russos perderam acesso ao sistema bancário financeiro global Swift.

— O sistema Swift não tem a agilidade que a gente precisa. O pagamento leva dois a três dias para chegar à conta. O processo é burocrático, caro, demorado e não é compatível com as demans da economia de hoje. A gente faz PIX e é instantâneo. Faz sentido uma discussão sobre uma nova plataforma. Mas o Brasil entende que isso e deveria ser feito no âmbito multilateral — disse Gomes.

Outro pedido de Moscou, feito diretamente ao ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta semana, foi o apoio do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Mundial e no G20. Segundo o documento, redigido  pelo ministro das Finanças da Rússia, ao qual O Globo teve acesso, a ideia é evitar acusações políticas e tentativas de discriminação em instituições financeiras internacioinais e fóruns multilaterais.

"Supomos que agora, mais do que nunca, é crucial preservar um clima de trabalho construtivo e a capacidade de promover o diálogo no FMI, no Banco Mundial e no G20”, diz um trecho da carta.

Guedes participará em Washington, nos próximos dias, de reuniões com autoridades de países que fazem parte desses três fóruns. Segundo fontes  da área econômica do governo, o Brasil defende o princípio de que "não se destruir pontes" — que, no campo econômico-financeiro, são os organismos internacionais.

"Essas pontes têm que ser preservadas", disse esse interlocutor, afirmando que fóruns como o FMI, o G-20 e outros fóruns multilaterais são essenciais para o diálogo neste momento de estresse na economia mundial.

Não está claro sobre como Paulo Guedes vai se posicionar em relação ao pedido de Moscou em Washington. A expectativa é que o ministro defenda o diálogo como solução para a guerra na Ucrânia e critique as sanções, como têm feito membros do governo brasileiro.