Escândalo "Partygate"

Boris Johnson pede desculpas ao Parlamento por festa durante o confinamento

Pesquisas recentes mostraram que a maioria dos britânicos considera o líder conservador um "mentiroso" que deveria renunciar

primeiro-ministro britânico Boris Johnson, dando uma declaração aos parlamentares sobre a situação na Ucrânia após sua invasão pela Rússia, na Câmara dos Comuns, em Londres, em abril 19 de 2022 - AFP / PRU

Em discurso ao Parlamento britânico, o primeiro-ministro Boris Johnson repetiu nesta terça-feira (19) o pedido de desculpas "sem ressalvas" apresentado na semana passada após ser multado por infringir a lei anticovid com uma festa que pode lhe custar o cargo.

"Com toda a humildade", disse, sob risos nas bancadas da oposição, "reitero minhas desculpas de todo coração", afirmou Johnson, no primeiro dia de sessão após o recesso de Páscoa.

Imediatamente ele mudou de assunto para a guerra na Ucrânia, provocando indignação entre seus críticos, que o acusaram de tentar minimizar o escândalo.

O nacionalista escocês Ian Blackford o acusou de retratar-se "apenas porque foi descoberto". "Se tivesse alguma dignidade não apenas pediria desculpas, mas renunciaria", acrescentou.

O trabalhista Keir Starmer convocou os parlamentares de maioria conservadora a "restituir a decência, a honestidade e a integridade à nossa política" votando contra seu líder, sobre quem "os cidadãos já têm sua opinião".

Pesquisas recentes mostraram que a maioria dos britânicos considera o líder conservador um "mentiroso" que deveria renunciar.

Johnson, sua esposa Carrie e seu ministro das Finanças, Rishi Sunak - segundo mais alto cargo do governo - foram multados há uma semana com 50 libras (65 dólares, 60 euros) por uma festa de aniversário celebrada em 19 de junho de 2020 com dezenas de pessoas na sala do Conselho de Ministros, quando as reuniões sociais estavam proibidas.

Estas são três das cinquenta sanções que a polícia de Londres impôs até agora pelo que é conhecido como "partygate", o escândalo das festas ilegais organizadas em estabelecimentos do governo durante os confinamentos de 2020 e 2021, que no início do ano colocaram em risco a permanência de Johnson no poder.

A investigação, que abrange uma dezena de eventos, desde festas de Natal a festas de despedida, continua aberta. O primeiro-ministro, cuja presença foi notada em outros eventos, pode ser multado novamente. 

O líder conservador, de 57 anos, tornou-se assim o primeiro chefe de governo em exercício a ser punido por violar a lei. Imediatamente pediu "desculpas completas" diante das câmeras de televisão, afirmando que "entende a raiva" dos britânicos, privados naquele momento de se encontrar com seus familiares.

No entanto, rejeitou os pedidos de renúncia, reiterados pela oposição que o acusa de ter mentido ao Parlamento quando afirmou, em dezembro, que as normas anticovid não foram infringidas.

Debate e votação na quinta-feira

Johnson afirmou anteriormente que sempre achou que os diferentes encontros que participou eram "eventos de trabalho", como a festa pelo seu aniversário de 56 anos que, segundo ele, não durou mais de "10 minutos", com participantes que, como Sunak, estavam ali para uma reunião de gabinete.

Sem questionar a multa, Johnson afirmou na semana passada que em nenhum momento lhe ocorreu que pudesse estar violando as regras. 

Um grande grupo de rebeldes de seu partido, o Partido Conservador, cogitou no início do ano lançar uma moção de censura interna contra ele por esse escândalo. Mas desde que a guerra eclodiu na Ucrânia em 24 de fevereiro, a ideia de mudar de líder esfriou.

Na quarta-feira, porém, alguns parlamentares da bancada conservadora pareciam novamente determinados, como o respeitado Mark Harper que considerou que Johnson é "indigno" de ser primeiro-ministro.

A oposição insiste que o dirigente mentiu conscientemente, apoiando-se em novos detalhes publicados pelo Sunday Times segundo os quais, em uma festa de despedida de seu assessor de comunicação, em 13 de novembro de 2020, o próprio Johnson serviu as bebidas.

Os opositores conseguiram a permissão da presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, para uma votação na quinta-feira que decidirá se o caso será levado a uma comissão encarregada de apurar se ele mentiu ao Parlamento, o que seria motivo de demissão.

Muitos conservadores não parecem determinados a colaborar no momento, mas este panorama pode mudar: alguns devem esperar as eleições municipais de 5 de maio para ver se os eleitores vão retirar o apoio ao homem que chegou triunfante ao poder em 2019 com a promessa do Brexit.