Itaú Cultural

Lia de Itamaracá é tema da série "Ocupação Itaú Cultural", em São Paulo

Mostra, que será aberta nesta quarta-feira (20) e segue até 11 de julho, passeia pela trajetória de vida e de obra da cirandeira Lia de Itamaracá

"Ocupação Lia de Itamaracá" será aberta nesta quarta-feira (20), no Itaú Cultural, em São Paulo - Ytallo Barreto

Da ciranda, das cantorias, da arte, da resistência. Maria Madalena Correia do Nascimento, Lia de Itamaracá, 78, é também do mar, das festas na praia, das celebrações da Cultura Popular, de Pernambuco e de onde desejar estar/ser.

E ao menos de hoje até 11 de julho ela será também de São Paulo e de quem quiser percebê-la, na primeira edição deste 2022 da série "Ocupação Itaú Cultural" – que em sua 55ª edição reverbera uma das personagens mais relevantes da história da arte em toda sua vastidão. 

Time pernambucano
Com curadoria compartilhada pela cantora, compositora e percussionista Alessandra Leão e por Michelle Assumpção, jornalista, gestora pública de Cultura e biógrafa de Lia (“Lia de Itamaracá: nas rodas da Cultura Popular”, Cepe/2020), a mostra, presencial, tem acesso gratuito, e também pode ser contemplada em um hotsite da instituição, com programação virtual.

“A curadoria construiu a narrativa da história de Lia a partir de três eixos: Sal, Som e Sol. O território; a ciranda e todas as músicas que estão no contexto dela; e a consagração dessa artista pernambucana, brasileira, que extrapolou os limites da Cultura Popular”, conta Michelle, em conversa com a Folha de Pernambuco, que complementa afirmando que como ícone da Música Popular Brasileira, Lia tem dimensão ampla e diversa, fato que poderá ser apreciado na exposição.

“Temos cada vez mais que contar a história dos mestres e mestras que contribuíram e contribuem para a formação de nossas identidades culturais”, conclui.

Michelle, que acompanhou Lia por um bom tempo para culminar na sua biografia, também ressalta o “quebrar regras” característico da trajetória da cirandeira.



“Ela me encanta em sua determinação e força que, mesmo com todas as adversidades, construiu uma carreira sólida e de sucesso, enfrentando desde racismo até um ambiente formado por artistas, mestres homens em sua grande maioria. Lia chega quebrando regras, como a que diz que para cantar ciranda tem que saber improvisar. Ela chegou como a grande dama da ciranda, uma cantora, uma intérprete. Lia é uma força da natureza”, conclui a biógrafa. 

A "Ocupação"
Tomado por imagens, registros audiovisuais e minúcias que remontam à vida pessoal de Lia, em Itamaracá, Litoral Norte pernambucano, a exemplo de alguns detalhes da decoração da casa em que mora, e que abriga, entre outras coisas, o certificado de sua descendência (Povo Djoula, da Guiné-Bissau), a “Ocupação” - que conta também com contribuição da curadoria dos Núcleos de Música e de Comunicação do Itaú Cultural - passeia por imagens inéditas da artista pernambucana produzidas há quase duas décadas, em filmagens da diretora Karen Kerman para um longa que não chegou a ser finalizado. 

 

Crédito: Ytallo Barreto

“Lia é o mar inteiro, é o olhar que se perde no horizonte, é a ‘falta de silêncio do mar’. Esperamos que ao entrar na ‘Ocupação’, o público tenha um pouco da sensação de mergulhar naquele ‘verde louco / que eu acho pouco / dizer que é beleza’ das águas da Itamaracá de Lia. É dessa parte do mundo que vem Lia, é lá que ela vive, é o que ela leva consigo e é para lá que ela sempre volta. Que quem adentrar o espaço faça uma imersão, e se deixe levar pela circularidade do tempo, pela imensidão da arte de Lia e pela força e beleza da sua história, saindo ‘inspirades’ por essa imensidão em forma de mulher”, enaltece Alessandra Leão. 

 

Crédito: Luan Cardoso

Playlists, figurinos e sons que fazem alusão ao mar também perfazem a mostra “ocupada” pela potência que é Lia, e que remete também a outras mulheres cirandeiras como Dona Duda, do Janga, e as irmãs Baracho, Biu e Maria Dulce, filhas do Mestre Baracho (1907-1988), de Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte de Pernambuco. A ele é atribuída a popularização da ciranda, gênero festejado na mostra que como bem disse Lia, “é de todos nós”.

Serviço
Ocupação Lia de Itamaracá

Até 11 de julho, no Itaú Cultural (SP) e no site da instituição (www.itaucultural.org.br)
Acesso gratuito