Macron e Le Pen se enfrentem em debate antes de segundo turno presidencial na França
Falta apenas quatro dias para votação
O presidente centrista Emmanuel Macron e sua rival na eleição presidencial, a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, tentarão nesta quarta-feira (20) em seu único debate convencer milhões de franceses abstencionistas e atrair os eleitores de esquerda, apenas quatro dias antes da votação.
A partir das 21h00 (16h00 de Brasília), ambos detalharão no debate de duas horas e meia, que será transmitido na televisão e na Twitch, suas medidas sobre poder de compra, segurança, juventude, política internacional, meio ambiente, entre outros temas.
Embora Macron lidere por 12 pontos, de acordo com a última média de pesquisas Ipsos/Sopra Steria, apenas 69% dos franceses afirmam ter certeza que votarão, incluindo cerca de 6 em cada 10 eleitores do esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
"Há um terço do eleitorado que se sente órfão, que são os eleitores de Jean-Luc Mélenchon e da esquerda em geral, que se opõem tanto a Emmanuel Macron quanto a Marine Le Pen", diz Emmanuel Rivière, cientista político da Kantar, na rádio RFI.
Sinal do desencanto de uma parte da população obrigada a escolher entre o "perigo" da extrema-direita e o impopular presidente, o lema "Nem Macron, nem Le Pen" ressoou na semana passada na Sorbonne ocupada por estudantes.
O debate televisivo será, portanto, crucial, já que parte do eleitorado o assistirá "na esperança" de "confirmar uma escolha" ou que os ajude finalmente a tomar uma decisão, segundo Riviere.
A candidata do Reagrupamento Nacional (RN), de 53 anos, deve romper a tendência favorável de seu rival, de 44 anos, do partido A República em Marcha (LREM), que agita, como em 2017 - quando derrotou Le Pen -, o medo da chegada da extrema-direita ao poder.
O debate de 2017 representou um desastre para Le Pen, que foi criticada por sua "agressividade" e "falta de preparo". Dias depois, reconheceu um "erro estratégico", um mea culpa que reiterou na atual campanha.
Como foi o caso de seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2002, a maioria dos candidatos derrotados no primeiro turno, assim como artistas, atletas e ex-presidentes, pediram votos para o atual presidente liberal ou contra a herdeira da Frente Nacional (FN).
A candidata se esforçou para mostrar uma imagem menos radical e aparecer como defensora do poder de compra no primeiro turno. Mas os temores voltaram quando o foco recaiu sobre seu programa de governo e internacional.
Le Pen, vista como próxima da Rússia de Vladimir Putin, propõe o abandono do comando integrado da Otan, que define a estratégia militar da Aliança, e sua eleição representaria mais um revés para a União Europeia após a reeleição do húngaro Viktor Orban..
"Autoritários demais"
Ao contrário de 2017, quando com 66,1% dos votos foi proclamado presidente pela primeira vez, Macron deve agora defender sua gestão, marcada por crises: protestos sociais, pandemia de coronavírus, consequências da guerra na Ucrânia.
O 'leitmotiv' do seu programa é recuperar o impulso reformista e liberal que as crises o obrigaram a suspender, como o aumento da idade de aposentadoria de 62 para 65 anos. Para atrair os eleitores de esquerda, disse estar disposto a alterar para 64 anos.
Le Pen aproveitou essa proposta impopular e a preocupação dos franceses com o aumento da inflação para reforçar a imagem de Macron como "presidente dos ricos", que galvanizou o protesto social dos "coletes amarelos" em 2018 e 2019.
De acordo com as pesquisas Ipsos/Sopra Steria, quase metade dos franceses considera os candidatos "autoritários demais".
Le Pen é considerada como a que melhor entende os problemas do povo, enquanto Macron tem uma melhor imagem internacional.
No domingo à noite será conhecido o nome de quem vai presidir a França nos próximos cinco anos e começará a campanha legislativa de junho, que definirá com que maioria parlamentar governará, algo incerto em um tabuleiro político em recomposição.
O esquerdista Mélenchon, que com 22% chegou perto do segundo turno, pediu aos franceses na terça-feira que o tornem "primeiro-ministro" durante o "terceiro turno" da presidencial, ou seja, nas legislativas de 12 e 19 de junho.