"Quis reequilibrar a história masculina da Bienal de Arte de Veneza", diz curadora
Diretora e curadora da High Line Art de Nova York convidou 80% de artistas mulheres
A italiana Cecilia Alemani, curadora da 59ª edição da Bienal de Arte de Veneza, que abre no sábado (23), admitiu nesta quarta-feira (20) que quis "reequilibrar a história masculina" do evento internacional centenário ao convidar 80% de artistas mulheres.
Em uma entrevista à AFP, Cecilia, de 45 anos, diretora e curadora da High Line Art de Nova York, considera que a edição de 2022, que foi adiada no ano passado pela pandemia, oferece um olhar novo e distinto da história da arte moderna.
"Acho que, nos últimos 125 anos de história da Bienal, nas 57 edições, exceto na última, houve uma grande preponderância de artistas masculinos. Por isso quis reequilibrar criticamente a história", confessou com satisfação, enquanto percorria os sugestivos espaços do Arsenal com enormes esculturas, muita pintura, jogo de corpos, cerâmica e muita cor.
"Como curadora de arte sempre trabalhei com muitas artistas mulheres. Acho que muitas delas são ótimas hoje, representantes da cultura contemporânea", explicou, depois de citar alguns dos 213 artistas convidados de 58 países, "80% deles mulheres".
A curadora também selecionou um alto número de artistas jovens: 180 participam pela primeira vez, e 60 deles têm menos de 40 anos.
Na lista de artistas incluídos está o brasileiro Jonathas de Andrade, com sua obra "Com o Coração Saindo Pela Boca". Também há muitos indígenas das duas Américas, africanos, um grupo criativo pertencente à cultura Sami, do norte da Escandinávia, assim como ciganos.
"Queria ampliar a forma como os artistas veem a história e oferecer um ponto de vista não ocidental, mesmo sendo ocidental. Dar espaço a diferentes visões de mundo", resume.
Algumas "cápsulas do tempo", com obras do passado e do presente, contribuem como ferramentas de reflexão e, de certa forma, propõem uma espécie de museu vivo.
Faltando poucos dias para a abertura ao público, nos dias dedicados à imprensa, Alemani conta como trabalhou para a nova edição, marcada não apenas pela pandemia, que a fez trabalhar a distância e pela Internet com os artistas, mas também pela recente guerra entre Rússia e Ucrânia, países que costumam contar com pavilhões nacionais.
"Não acho que censurar um artista russo, ou excluí-lo da Bienal, vá mudar alguma coisa no mundo. Mas, no caso do pavilhão russo, o artista representa o governo russo. Então, entendo que os artistas e o curador não queiram assumir o fardo de representar a Rússia na Bienal de 2022 e levar essa marca para o resto de suas vidas", acrescentou Alemani.