"Vocês precisam acreditar nas instituições", diz enviada dos EUA sobre crise política no Brasil
Em visita a Brasília, Victoria Nuland diz que o Brasil precisa 'mostrar ao mundo como a democracia brasileira é forte'
Em meio ao agravamento da crise entre o presidente Jair Bolsonaro com a concessão do indulto a Daniel Silveira (PTB-RJ), a ala militar do governo e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a subsecretária para Assuntos Políticos dos Estados Unidos, Victoria Nuland, afirmou, nesta segunda-feira (25), que o povo brasileiro precisa acreditar nas instituições do país. Segundo ela, Brasil e EUA são democracias fortes, que devem servir de exemplo para o mundo.
— Somos democracias fortes. A mensagem que transmitimos é que os EUA estão confiantes nas instituições democráticas brasileiras. Vocês têm um histórico muito bom de eleições justas e transparentes. Temos confiança nas instituições, esperamos que os brasileiros também tenham confiança nas instituições e que o voto seja livre, justo e com ampla participação popular — afirmou.
Junto com o subsecretário de Estado para o Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, José W. Fernandez, Victoria Nuland foi enviada pelo presidente americano Joe Biden ao Brasil, para tratar de assuntos de interesse da agenda bilateral, como segurança alimentar, fertilizantes, comércio, investimentos e meio ambiente. Ela disse que o tema das eleições deste ano surgiu nas conversas, mas evitou citar nominalmente as instituições às quais se referia, como STF ou Forças Armadas.
— O que é mais importante na democracia são as instituições. O debate sempre faz parte das eleições, com um processo justo e livre. Suas instituições são fortes e oferecem um bom exemplo para o hemisfério. É importante que vocês mostrem ao mundo como a sua democracia é forte — enfatizou.
Nuland disse que, por outro lado, a democracia está sob ameaça no mundo. Citou como exemplo a Rússia, que tem uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, "mas viola diariamente a soberania, o território e a integridade do vizinho, tentando mudar as fronteiras à força", em uma referência à Ucrânia. Ela também falou sobre a região e, veladamente, sobre países que são alvo de críticas dos EUA, como Venezuela, Cuba e Nicarágua.
— A democracia está sob ameaça. Estamos vendo muitas coisas acontecendo nesse hemisfério.
Perguntada sobre como os EUA avaliam as posições dos brasileiros em relação à guerra na Ucrânia, Nuland reafirmou que o governo americano está "muito satisfeito" em ter o Brasil como parceiro no Conselho de Segurança e na Assembleia-Geral da ONU, quando vários países votaram pela condenação da agressão russa. Ela também mencionou a concessão de visto humanitário para os ucranianos.
Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário das Américas do Itamaraty, foi uma das pessoas do governo que se reuniu com Nuland e Fernandez. Ele confirmou que a eleição presidencial no Brasil entrou na conversa e ressaltou que a subsecretária se manifestou de forma "positiva e respeitosa" sobre a confiança que tem nas instituições brasileiras.
Os EUA vão ajudar o Brasil a resolver o problema de desabastecimento de fertilizantes e, com isso, reduzir a ameaça de insegurança alimentar, disse a subsecretária para Assuntos Políticos. Nuland informou que o governo americano vai enviar uma missão a Brasília, para discutir, com o Ministério da Agricultura, saídas para o problema.
Costa e Silva disse que a missão que virá ao Brasil, ainda sem data certa, é do USDA, agência americana que cuida de agricultura. Ele afirmou que os EUA têm manifestado a intenção de colaborar com o governo brasileiro, para garantir a segurança alimentar.
— Os EUA sabem como é importante a questão dos fertilizantes para o Brasil — disse o diplomata.
Já o subsecretário para Assuntos Econômicos disse que há várias opções sobre a mesa e uma delas é esse trabalho conjunto. Fernandez mencionou a tentativa de se fazer um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) para garantir o livre fluxo de fertilizantes e afirmou que há desinformação sobre o tema que precisa ser esclarecida:
— Há muita desinformação dizendo que nossas sanções atingem segurança alimentar. Não é verdade.