Conquista do Twitter por Musk gera apreensão entre os empregados da rede social
Funcionários ouvidos pelo New York Times expressam frustração com a chegada de um dono imprevisível e que pode descartar a moderação dos últimos anos
Em janeiro de 2020, milhares de empregados do Twitter se reuniram em Houston, no Texas, para um evento corporativo chamado #OneTeam. Jack Dorsey, então CEO do Twitter, revelou que tinha um convidado-surpresa.
E então, com um aceno e um sorriso, Elon Musk apareceu em telas gigantes posicionadas acima do palco. A plateia aplaudiu. “Amamos você”, um dos empregados gritou. Nesta segunda-feira, nos escritórios do Twitter, o anúncio de uma surpresa relacionada a Musk caiu de forma diferente.
Empregados afirmaram ao New York Times afirmaram que eles pararam de admirar o homem mais rico do mundo desde que Musk declarou sua intenção, no início do mês, de comprar o Twitter, mudar suas regras de moderação de conteúdo e transformar a companhia de capital aberto em fechada. O negócio foi anunciado por US$ 44 bilhões.
Enquanto a batalha pelo controle do Twitter se desenrolava nas últimas duas semanas, empregados do Twitter afirmaram que estavam frustrados por terem ouvido muito pouco dos executivos da empresa sobre o que significaria para eles a aquisição, mesmo quando o negócio foi fechado.
Enviaram perguntas ao CEO da empresa, Parag Agrawal. Fizeram perguntas também ao próprio Musk, pelo Twitter. Alguns até foram à Charles Schwab, a firma financeira que administra as opções de compras de ações dos funcionários para saber sobre o impacto que a venda da companhia teria para eles.
Mas não tiveram muitas respostas antes de Musk anunciar sua vitória, disseram 11 empregados do Twitter ouvidos pelo New York Times sob condição de anonimato porque não têm autorização para falar publicamente e muitos podem terminar se reportando em breve ao bilionário.
Na tarde de segunda-feira, Agrawal, que está há apenas quatro meses no cargo, disse aos empregados que finalmente falaria com eles em uma reunião no fim do dia.
“Sei que esta é uma mudança significativa e vocês provavelmente estão processando o que isso significa para vocês e para o futuro do Twitter”, escreveu ele em um e-mail para os empregados.
O CEO tentou acalmar sua força de trabalho. Em uma reunião em que respondeu a perguntas dos funcionários no dia do anúncio da intenção de Musk de comprar o Twitter ao lado do presidente do Conselho de Administração, Bret Taylor, Agrawal se recusou a dar detalhes sobre como a companhia poderia responder à ofensiva.
Mas ele pediu aos funcionários para se manterem focados nas coisas que poderiam controlar, como o trabalho do dia a dia, segundo empregados que estiveram no encontro.
Segundo a CNN, ele apenas disse aos profissionais que não esperassem grandes mudanças. E prometeu que iria propor uma reunião na qual os empregados poderiam fazer perguntas diretamente a Musk.
"Vamos continuar tomando as decisões como temos feito sempre, guiados por princípios que sempre tivemos", afirmou o executivo aos funcionários, segundo informou a CNN. "Isso não significa que coisas não vão mudar, coisas têm mudado..."
Esse tipo de silêncio que pairou ao longo da semana de negociações é rotineiro em disputas pelo controle de empresas. Enquanto os diretores e conselheiros se reúnem com banqueiros, advogados e empresas de relações públicas que custam uma fortuna, empregados são geralmente mantidos no escuro.
Os empregados do Twitter acabaram sabendo o que está se passando em sua empresa primeira mente na própria rede social, o serviço que construíram, o que foi particularmente amargo para eles.
Após anos de disputas internas, demandas de mudanças por investidores ativistas e os tuítes irresponsáveis do ex-presidente Donald Trump, os mais de 7 mil empregados do Twitter estão acostumados a turbulências. Mas alguns deles dizem que a compra da empresa por um bilionário imprevisível os atinge como nenhuma outra crise da empresa atingiu.
Empregados se dizem preocupados com o que Musk pode desfazer no trabalho de anos que fizeram para limpar os cantinhos mais tóxicos da plataforma, reduzir seus ganhos com bônus em ações no processo de tornar a empresa de capital fechado e alterar a cultura interna do Twitter com seu estilo controverso de gestão e anúncios abruptos.
Mas Musk também tem fãs entre os funcionários do Twitter, e alguns receberam bem a sua aquisição. Em uma mensagem no sistema interno obtida pelo New York Times, cerca de dez pessoas responderam com um emoji positivo à pergunta sobre se estavam animados com o negócio.
Um porta-voz do Twitter se recusou a comentar o assunto. Muitos funcionários têm preocupações com mudanças que Musk pode promover na moderação de conteúdo. Por outro lado, concordam com a ideia de mudar o algoritmo da rede social.
Esse trabalho está em seus estágios iniciais e pode levar anos para terminar. Isso pode testar algo que Musk particularmente é conhecido por não ter: paciência.
Empregados também têm se perguntado se Musk pode transferir a sede do Twitter da Califórnia para o Texas, como fez com a Tesla. Poderia ainda acabar com a política de flexibilidade na volta aos escritórios após a pandemia.
A empresa adotou o home office como alternativa permanente, mas Musk foi um dos maiores críticos das políticas de quarentena e comprou brigas com autoridades da Califórnia para manter instalações da Tesla funcionando durante a pandemia.
O estresse dos funcionários com Musk agora contrasta com as boas-vindas que deram a ele dois anos atrás. Naquele evento, Musk deu conselhos ao Twitter, como o de que a companhia deveria reduzir sua moderação e fazer mais para combater robôs para privilegiar os usuários humanos da plataforma.
— Por acaso você quer dirigir o Twitter? — perguntou na ocasião o cofundador Dorsey a Musk.
A plateia de funcionários riu. Musk não respondeu de pronto.