"Fala, Glaidson": mesmo preso, "faraó dos bitcoins" cria perfil no instagram para responder clientes
A iniciativa configura, de acordo com o material divulgado, um 'canal de transparência' da GAS Consultoria, empresa que tem o ex-garçom como CEO
Glaidson Acácio dos Santos, o "faraó dos bitcoins", tem um novo perfil no Instagram, no qual já soma cerca de 17 mil seguidores. Até o momento, há na página uma única postagem, feita há quatro dias, na qual uma atriz anuncia que o canal é destinado a "todos que por algum motivo tenham uma dúvida ou queiram enviar algum recado diretamente" ao CEO da empresa GAS Consultoria. Um detalhe, porém, é omitido do comunicado: o ex-garçom está preso desde agosto do ano passado, acusado de lavagem de dinheiro, organização criminosa e crimes contra o sistema financeiro nacional. Ele responde ainda pela tentativa de homicídio de um concorrente, que também atuava oferecendo investimentos com criptomoedas em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos que era a base das operações do grupo.
Batizada de "Fala, Glaidson", a iniciativa configura, de acordo com o material divulgado, um "canal de transparência" da empresa. "A partir de hoje, você terá todas as suas perguntas respondidas diretamente pelo Glaidson Acácio dos Santos, CEO da GAS Consultoria", informa o texto declamado pela atriz, que, entretanto, não explica como os esclarecimentos serão prestados mesmo com o "faraó" estando atrás das grades.
Em outro momento da mensagem, que tem duração de 54 segundos, a narradora repete a menção a Glaidson: "Em breve ele mesmo estará respondendo sua pergunta", assegura ela. "Então, aproveite este espaço. Você pode enviar através do nosso direct, por vídeo, áudio ou texto", prossegue a mulher. "Isso é válido e aberto para todos. Por isso, não perca tempo. Fale com o Glaidson", arremata o vídeo.
A foto do perfil traz o próprio Glaidson sorridente, com um microfone na mão e camisa social de mangas dobradas. Na descrição, a mesma frase de efeito que encerra a gravação: "Verás que um filho teu não foge à luta", extraída diretamente do hino nacional. Há ainda menus destinados a postagens no YouTube, no Facebook e no Twitter, mas todos vazios até o momento.
Os comentários se dividem entre elogios e questionamentos a Glaidson, com ampla vantagem para o primeiro perfil de mensagem. "Espero ansiosa e creio em Deus no retorno da empresa. Mudou a minha vida e de muitos que conheço", diz uma internauta. "Torço para que volte tudo ao normal", afirma outro. "Organize o plano de pagamento", cobra um terceiro.
A GAS Consultoria atuava prometendo rendimentos mensais de 10% sobre o capital investido, muito acima dos praticados pelo mercado convencional. A lucratividade era garantida, segundo o grupo, mediante supostas transações com criptoativos, embora a empresa não comprovasse essas movimentações junto aos clientes nem fosse sequer habilitada por órgãos competentes para oferecer esse tipo de serviço. A natureza das atividades gerou nas autoridades a suspeita de que se trataria, na verdade, de uma pirâmide financiera.
Glaidson encontra-se preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Em março, ele foi transferido de unidade e trocou a Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza pela Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, mais conhecida como Bangu 8. O novo local onde encontra-se Glaidson é considerado uma "penitenciária especial", onde, de acordo com as normas que gerem o sistema, só poderiam ser alocados detentos com curso superior, o que não é o caso do dono da GAS.
Na resolução que rege a distribuição de presos entre as cadeias fluminenses, consta que, para ingressar em Bangu 8, é preciso "apresentar documentação comprobatória de curso de nível superior, devidamente publicada em Diário Oficial". Está lá, por exemplo, o ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o doutor Jairinho. Réu pela morte do enteado, o menino Henry Borel, de 4 anos, Jairinho é formado em Medicina. Outro vizinho de Glaidson é o delegado Mauricio Demetrio, acusado de cobrar propinas de comerciantes. A unidade também já abrigou figuras como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-deputado federal Roberto Jefferson, entre outros nomes de vulto na política nacional, inclusive alvos da Operação Lava-Jato.
Na ocasião da transferência, a Secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap) argumentou que a "realocação de presos foi implementada considerando os perfis dos presos e as condições estabelecidas nas ordens judiciais de cada custodiado, atendendo assim às necessidades identificadas na rotina das unidades prisionais". Segundo a pasta, detentos idosos foram transferidos para a unidade onde Glaidson estava até então, com "o objetivo de estarem mais perto do hospital penitenciário, uma vez que necessitam de mais atenção em saúde". Ainda de acordo com a Seap, para que este remanejamento fosse feito, presos federais que ocupavam vagas na Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza foram realocados em Bangu 8, que já abrigava presos com nível superior.
Essa não foi a primeira transferência pela qual o "faraó dos bitcoins" passou desde que foi parar atrás das grades. No fim de setembro do ano passado, cerca de um mês após ser preso, o ex-garçom trocou a mesma Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza por uma cela individual em Bangu 1, presídio de segurança máxima no Complexo de Gericinó. Naquele momento, a mudança ocorreu depois que a Corregedoria da Seap encontrou quatro celulares, picanha e linguiça na galeria onde Glaidson se encontrava, flagrante que motivou a exoneração do diretor, do subdiretor e do chefe da segurança da unidade. Uma semana depois, o "faraó" retornou à unidade anterior.