Otto lança seu novo álbum 'Canicule Sauvage', nesta sexta-feira (29)

Em seu sétimo álbum, o cantor e compositor pernambucano se rende ao GarageBand e retoma parceria com seu primeiro produtor, Apollo Nove

Apostando na experimentação e em influências setentistas de Serge Gainsbourg - inclusive interpretando a música de abertura do disco em francês - e em outras referências estéticas que acumulou ao longo da carreira, o cantor e compositor pernambucano Otto lança, nesta sexta-feira (29), em todas as platafortmas digitais, seu sétimo álbum, 'Canicule Sauvage', o primeiro em que assina a produção musical.

O termo “Canicule” faz alusão ao fenômeno chamado “canícula”, conhecido por períodos de ondas de calor em geral associadas à presença de circulações atmosféricas anticiclônicas estacionárias. A música que dá nome ao disco apresenta teclados que assobiam, sussurros e os vocais femininos de Kenza Said e Anais Sylla. É um convite ao seu novo laboratório sonoro.

Após a experiência vivida com o ex-baterista da Nação Zumbi, Pupillo Oliveira, com quem lançou "Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos" (2009), "The Moon 1111" (2012) e "Ottomatopeia" (2017), Otto passou a experimentar a composição digital e um software que já o acompanhava há anos para rascunhar canções: o GarageBand. “Isso aqui é o meu pandeiro”, ele explica apontando para o celular, ligado no aplicativo.

O artista rapidamente abre o programa e começa a mostrar as possibilidades sonoras que ele mesmo alcançou, inclusive tocando instrumentos que não sabe tocar, emulados perfeitamente pelo software. Gesticula sobre o aparelho mostrando como o toque na tela foi crucial para que ele se entendesse com a interface do programa, provocando situações inusitadas, como quando foi abordado por um comissário de bordo durante um voo noturno sobre o Atlântico para saber se ele estava passando bem. Otto diverte-se contando como tirou os fones de ouvido e mostrou que estava apenas tocando uma guitarra digital em seu celular.

O contato com a produção digital na gravação de "Ottomatopeia" fez o artista sentir que poderia ele mesmo produzir seu trabalho. 

Reencontro
No meio dos anos 90, ao encontrar com o produtor Apollo Nove, Otto passou a se interessar por música eletrônica. O olhar de Apollo ajudou a transformar as músicas que Otto fazia apenas no pandeiro em seu primeiro disco solo, Samba Pra Burro, de 1998. Agora, mais de 20 anos depois, os dois se reencontram. Apollo passou a receber tanto os rascunhos de Otto para seu próximo disco quanto a carta branca para mexer como quisesse naquelas canções. E assim  foi revestindo as ideias iniciais de Otto com seu arsenal de instrumentos e teclados, ao mesmo tempo em que os dois convocavam convidados para o
novo projeto. 

Ao contrário dos álbuns anteriores, que tinham conceitos mais fechados, Canicule Sauvage reúne uma série de experimentos musicais em que Otto, numa espécie de volta às raízes de sua carreira solo, mas no universo da música eletrônica, mesmo que em alguns momentos soe como se estivesse fazendo rock, reggae ou samba.

No álbum, vários amigos bons de Otto tocam diferentes instrumentos, com percussões de Michelle Abu e Malê, baterias de Samuel Fraga e Pupillo, violões de Juliano Hollanda e baixo de Douglas Couto. Apollo, que coassina a produção do disco com Otto, além de ajudar a colocar este laboratório em pé, equilibra-se entre teclas e synths, pilotando pianos, Korgs, Rhodes, Arps, DX5, Hammond, Minimoogs e tantos outros instrumentos eletrônicos, além de baixos, gaitas e guitarras.