Conamat

Conamat tem edição em Ipojuca e debate o futuro do trabalho e o trabalho do futuro

Painel "O futuro do trabalho e o trabalho do futuro' da 20ª edição do Conamat - Anamatra

Mais um dia do 20º Congresso Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat), maior evento científico da categoria e com edição no centro de convenções do Enotel Porto de Galinhas, no município de Ipojuca (PE), passou. O tema deste ano é ‘Justiça do Trabalho e Proteção Social: contemporaneidade e futuro’ e traz diversos palestrantes. Nesta quinta-feira (28), às 14:30, o destaque foi dado para o painel ‘O futuro do trabalho e o trabalho do futuro’, que foi gerido pela ministra do TST Kátia Magalhães Arruda.

Os palestrantes Silvio Meira (cientista e professor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro - RJ) e Leonardo Wandelli (juiz do trabalho e titular da 5ª Vara do Trabalho de São José dos Pinhais - PR) apresentaram e desenrolaram os conceitos envolvidos no futuro do trabalho e o que isso implica. O painel abordou temas como a revolução digital, novos trabalhos do futuro, direito do trabalho e democracia.

Meira deu início a sua apresentação questionando como a sociedade chegou ao ponto histórico onde quase tudo está conectado. A provocação ao público foi feita na intenção de instigá-lo a pensar, pois esse é um tema ainda com poucas respostas; não dá para prever o futuro. 

Silvio Meira | Foto: Anamatra

“Desde sempre, boa parte do trabalho de qualquer presente vem do futuro. Agora, ainda mais, até porque o futuro é digital, num contexto muito diferente de qualquer passado recente. É exatamente sobre isso que nós vamos falar”, disse Meira.

Meira explica que as conexões físicas passaram a ser substituídas por recursos digitais, como smartphones que, em 2006, já avançavam exponencialmente pelo mundo todo. “No final de 2011, 81% da população do planeta já possuía smartphones, ou seja, nada mais nada menos do que 6,4 bilhões de pessoas”. 

No Brasil, esse avanço também ocorreu exponencialmente: em 2010, só 6,5% da população havia aderido aos smartphones, mas no ano seguinte o número passou para 10,2%; dessa forma, o país seguiu a norma global de penetração do aparelho.

O problema é que a evolução da tecnologia, como aponta Meira, é rápida demais. A aceleração faz os negócios migrarem valor entre mercados e as plataformas não se estabilizam pois o futuro está sempre chegando. Segundo o docente, é difícil para o ser humano acompanhar a velocidade e isso pode ser visto na destruição de empregos criativa (substituição de pessoas por máquinas, criando novos empregos que não contemplam os velhos trabalhadores).

Meira encerra sua apresentação com a fala: “O futuro virá do futuro. A gente não consegue intervir no longo prazo”. Trabalho, emprego, educação e renda entram em questão com as reflexões propostas pelo docente. Mesmo sem respostas concretas, as perguntas indicam o caminho certo, pois levantam problemáticas já percebidas em sociedade.

A palestra teve continuação com a apresentação de Leonardo Wandelli, que complementou o que Meira propôs e trouxe novas reflexões, até mesmo por outra perspectiva. Ele começa chamando atenção para processos de transformações que vêm ocorrendo nas técnicas de gestão e controle do trabalho para propor uma reflexão sobre o futuro da magistratura e da democracia.

Leonardo Wandelli | Foto: Anamatra 

“A tese que vou construir é de que a democracia precisa ser reconstruída no interior das organizações de trabalho, profissões jurídicas e inclusive da magistratura. Estamos experimentando uma progressiva degradação das condições de desempenho de profissões cruciais para o estado de direito à democracia”, apresentou Wandelli.

A ótica apresentada pelo juiz parte do ponto que, à medida que as ferramentas do futuro mudam os trabalhos que as pessoas exercem, como apresentou Meira, essas mesmas condições também atuam deteriorando valores essenciais em profissões também essenciais para a sociedade. 

Segundo ele, policiais que acobertam crimes, jornalistas que espalham mentiras, juízes que têm o senso crítico afetado por valores pessoais e profissionais que exercem ações contraditórias em geral são exemplos da distorção criada nesse fenômeno.

O Conamat, realizado pela Anamatra em parceria com a Associação dos Magistrados do Trabalho da 6ª Região (Amatra 6/Pernambuco), também contaria com a professora de direito da Universidade de Brasília (UnB), Gabriela Delgado, que infelizmente não pôde comparecer, mas decerto deixa suas pesquisas e contribuições à mostra e propõe debates sobre o painel ‘O futuro do trabalho e o trabalho do futuro’. 

É importante destacar a participação de outras pessoas no congresso, também de outros painéis e palestras, a exemplo de Veena Dubal, que apresenta seu trabalho sobre “o novo e corajoso mundo de plataformas digitais, de redes financeiras globais que alimentam essas tecnologias, além da produção do extrativo e explorador trabalho de economia que as tecnologias e plataformas produzem”.

Veena Dubal, professora de direito e antropologia legal e palestrante no Conamat / Foto: Anamatra