"Bandido Bom é Bandido Morto"

Em "Bandido Bom é Bandido Morto", Renato Valle discute pena de morte, política e religião

Revista traz textos assinados pelo artista, além de ilustrações de pessoas executadas ao longo da história

Renato Valle lança a revista "Bandido Bom É Bandido Morto" - Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Bradada nas redes sociais e reforçada por políticos da extrema direita, a frase "Bandido bom é bandido morto" tornou-se quase uma mantra para quem defende a execução sumária de infratores. O chavão carregado de apoio à violência dá nome à revista criada pelo artista visual pernambucano Renato Valle, cujo tema suscita discussões de naturezas política e religiosa.

"Me deparei com uma pesquisa encomendada pelo Fórum de Segurança Público, de 2016, em que 60% dos brasileiros afirma concordar com a tal frase. Enquanto isso, o último censo demográfico me diz que cerca de 90% da nossa população se diz cristã", relembra Renato, em entrevista à Folha de Pernambuco.

Ao comparar os dados das duas pesquisas, o artista quis se aprofundar na contradição de uma sociedade que defende a pena de morte e, ao mesmo tempo, abraça uma vertente religiosa cujo maior representante pregava o amor ao próximo. Para isso, ele foi buscar personagens reais que, ao longo da história da humanidade, foram mortos por regimes políticos autoritários, graças às leis vigentes.


Execuções ao longo dos séculos

"Comecei pela cena da crucificação de Jesus Cristo, que é o exemplo mais famoso de uma execução feita pelo Estado. Trago também casos do período colonial no Brasil, dos governos ditatoriais na União Soviética e na Espanha, chegando até os Estados Unidos. A ideia é mostrar que esse tipo de arbitrariedade existe há muito tempo e em diversas partes do planeta", explica.

Renato produziu 20 ilustrações, que estão impressas nas páginas da revista. As imagens de personalidades condenadas à morte, como Frei Caneca, Olga Benário, Joana D'arc e Garcia Lorca, surgem logo após um texto em que o artista reflete a relação entre a fé brasileira e o apoio da população à pena de morte. As reproduções acompanham suas respectivas fichas técnicas e breves textos que resumem a biografia do personagem e descrevem o processo de criação da obra.

Em cada uma, Renato utilizou técnicas e materiais diferentes. "Alguns são desenhos, outros são técnicas mistas ou só pinturas. Não decidia antes se faria com tinta, grafite ou outra coisa. O personagem e a história é que ditavam o caminho técnico. Tudo ia sendo determinado no decorrer do trabalho", comenta.

Pesquisa de tirar o sono

Para chegar aos resultados, o artista mergulhou em um profundo trabalho de pesquisa. Ele buscou referências imagéticas em registros de época, quadros, documentários, livros e filmes que recriam fatos históricos. Além disso, passou a mergulhar nas vidas dos personagens. "Foi uma maratona, porque eu realmente me envolvi com isso. Virei muitas noites, não só por conta do trabalho, mas também porque algumas histórias me tiravam o sono", confessa.

Os originais estão em cartaz na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife, e podem ser vistas até o dia 9 de maio. Depois do Recife, as obras seguem para Porto Alegre. Por lá, a partir de junho, elas integrarão uma mostra de Renato Valle no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul.

Realizada com apoio cultural da Cepe Editora, a revista "Bandido Bom é Bandido Morto" está disponível digitalmente, no site oficial do artista, e também em versão física. Parte das impressões estão sendo distribuídas gratuitamente para quem for conferir a exposição. Outros exemplares foram enviados para mais de 1200 pessoas, incluindo líderes religiosos e políticos de diferentes esferas de poder.

Serviço

Exposição "Bandido Bom é Bandido Morto"
Onde: Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife)
Quando: até 9 de maio