Emprego

Mercado de trabalho: do tradicional ao digital

A pandemia acelerou a busca virtual por uma vaga, mas uma parcela grande de trabalhadores ainda prefere o meio presencial

Carteira de trabalho - Evandro Leal/Agência Enquadrar/Folhapress

Por quais caminhos os brasileiros buscam pelo emprego? Atualmente, com 11,9 milhões de pessoas desempregadas no Brasil (dados do primeiro trimestre de 2022, segundo IBGE) pode haver dúvidas sobre onde ir buscar as vagas existentes no mercado. Após a pandemia, houve uma aceleração no mundo digital que refletiu em todos os setores, inclusive no mercado de trabalho. Mas a busca por uma vaga pessoalmente não foi totalmente eliminada. Pelos dados, ainda há um número importante que comparece aos ambientes físicos. 

Em Pernambuco, segundo levantamento da Secretaria do Trabalho, Emprego e Qualificação de Pernambuco (Seteq), os postos de atendimento continuam com demandas diárias. Para se ter uma ideia, antes da pandemia, em 2019, as agências do Estado registraram 536.562 atendimentos. Em 2020, foram 220.093 atendimentos; em 2021, foram 227.928; em 2022, até abril, já foram 82.710 atendimentos. 

“Todos os dias oferecemos vagas nas nossas agências e existe essa demanda. A grande parte dos trabalhadores que não têm acesso às tecnologias recebem esse acolhimento, como também a intermediação da mão de obra, tudo nas nossas agências, que estão se transformando em centrais de oportunidades”, registra o secretário da Seteq, Alberes Lopes.

As Centrais de Oportunidades estão reunindo os serviços da secretaria, que incluem os prestados pelo Expresso Empreendedor, pela Junta Comercial, pela Agência de Empreendedorismo de Pernambuco (AGE) e pela Agência do Trabalho. Atualmente, já são 12 Centrais em pleno funcionamento no Estado.

“Os meios digitais não anulam a necessidade de que alguns profissionais mantenham sua rede de contatos para buscar empregos de forma mais tradicional. Esse é um ambiente que vem se ampliando, mas ainda é restrito a categorias mais familiarizadas com a tecnologia”, afirma o consultor e especialista em Recursos Humanos, Alberto Borges. 

Intermediação de mão de obra

 Em 2021, a Secretaria do Trabalho e Qualificação do Recife registrou 17.137 pessoas que procuraram o serviço de intermediação de mão de obra na Agência de Emprego. “Nossa visão é que a busca por emprego de forma mais tradicional não pode ser esquecida, apesar de nossos investimentos na inovação do setor. Por isso, descentralizamos o trabalho das agências de emprego – através de postos instalados nos Compaz – e na ampla reforma da agência de Casa Amarela”, explica a secretária de Trabalho e Qualificação da Prefeitura do Recife, Adriana Rocha, ao acrescentar que as empresas também continuam oferecendo vagas através do sistema por ele funcionar como um facilitador do recrutamento.

Caminhos físicos para busca do emprego. Foto: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco 

Para os que se inserem nesse ambiente considerado tradicional, a consultora de gestão de pessoas e professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), Andréa Biazatti, indica montar um currículo com informações básicas e atrativas. “Estamos numa era em que é preciso se adaptar pelo menos ao básico, que é manter as informações dentro do banco de dados de empresas e também em agências de trabalho. A movimentação do currículo físico representa hoje, no máximo, 20%. É importante manter nos sistemas as informações básicas, como nome, e-mail e telefone, e informações atrativas, como as atividades que foram feitas, quanto tempo levou nelas, descrever os feitos e se está trabalhando”, analisa a especialista. 

Transição para o digital

 A transição entre o mundo físico e o digital requer um processo de apoio do poder público que se aproxime do trabalhador e garanta a sua inclusão. Pelo menos, esse é o conceito que vem sendo trabalhado pela Secretaria de Trabalho e Qualificação da Prefeitura do Recife. No ano passado, o município lançou a plataforma de geração de oportunidades, denominada GO Recife. “Esse processo de transição precisa estar ao alcance de todos os recortes econômicos”, reforça a titular da pasta, Adriana Rocha. 

Em todo ano passado, pouco mais de 17 mil pessoas procuraram o serviço de intermediação de mão de obra oferecido pelas agências de emprego do Recife. Somente nos primeiros meses de 2022, o GO Recife registrou mais de 30,6 mil pessoas procurando emprego pela plataforma. A sua proposta é trabalhar em três eixos. A primeira é permitir o acesso às vagas de emprego disponíveis. Além disso, trabalhadores autônomos, como eletricistas, encanador, recreador de festa, entre outros, podem se colocar à disposição do público interessado na contratação. E, por último, oferecer vagas para cursos de qualificação gratuitos realizados tanto pela própria Prefeitura quanto por entidades parceiras. 

Mas é, justamente, para aqueles que não têm tanta facilidade com o uso da tecnologia que a Secretaria criou as Arenas GO – eventos realizados em locais específicos em que o trabalhador pode se cadastrar na plataforma, aprender a usá-la, acessa a todos os serviços voltados ao empreendedorismo e ainda recebe orientações de como se posicionar nas redes sociais para atrair clientes. “Quando falamos em recorte de gênero, é importante oferecer possibilidades de as mulheres empreenderem. A geração de renda não precisa ser feita, necessariamente, através do emprego formal. É isso que mostramos a elas”, reforça Adriana.

Segundo ela, outra preocupação da Prefeitura é que todas as secretarias estejam atentas para que o GO Recife se torne uma plataforma acessada, cada vez mais, pelos recifenses e pelas empresas. Ou seja, empreendimentos que estejam investindo na cidade, por exemplo, deverão ser informados da existência desse projeto para garantir a contratação de mão de obra dele. Foi assim, recentemente, com o grupo paraibano Bar do Cuscuz – que selecionou todos os seus funcionários pelo GO. 

Dicas para o mundo digital

Quem usa redes sociais para se colocar no mercado de trabalho precisa estar atento a alguns comportamentos e procedimentos necessários tal qual em uma entrevista de emprego. A orientação é de Alberto Borges, sócio da Lumi Consult, especialista em mercado de trabalho e gestão de pessoas. “É fato que a pandemia deixou todo mundo muito mais atento para o mundo digital. Hoje, a plataforma mais usada pelas empresas e profissionais é, com certeza, o LinkedIn – a maior rede de negócios da atualidade”, explica Borges. 

Segundo o consultor, quem está no aplicativo em busca de uma posição no mercado de trabalho, pode agir de duas formas. Uma delas seria mais ativa e leva o usuário a buscar informações sobre os setores de atuação, fazer uma radiografia de quem são os tomadores de decisão e criar links com pessoas e grupos relacionados ao seu segmento de trabalho. “Essa pessoa pode, inclusive, se colocar à disposição dos recrutadores para quando for surgir uma nova vaga”, conta ele.  

Por outro lado, quem escolhe ficar mais passivo, não pode deixar de “mostrar a cara” na rede social. De acordo com o especialista, é preciso estar sempre alimentando o perfil com textos sobre a área de atuação, colocar seu histórico de trabalho e suas competências, garantir que seus contatos possam validar essas mesmas competências, entre outros. “Quem escolhe ter uma conta premium, por exemplo, e realizar cursos oferecidos pelo próprio LinkedIn, melhora sua reputação”.  

Em todos os casos, Borges ressalta que é preciso ter cuidado com a postura em todas as redes sociais, uma vez que os recrutadores estão de olho também nas outras que existem – mesmo que sejam para lazer. Por fim, o especialista diz que, além da plataforma, existem os portais de grandes empresas de recrutamento que devem ser acessadas por quem está procurando um emprego.