Política

Bolsonaro elogia atos contra STF, mas evita ataques a ministros em discurso por vídeo na Paulista

Em Brasília, pela manhã, presidente ficou menos de dez minutos na manifestação

Bolsonaro participou de atos de apoiadores, neste domingo (1) - Evaristo Sá / AFP

Em duas participações sucintas nas principais manifestações a seu favor neste domingo, o presidente Jair Bolsonaro elogiou a convocação de atos por seus apoiadores — vários levaram mensagens e faixas pedindo intervenção militar e com ataques ao Supremo Tirbunal Federal —, mas, em seus discursos, adotou um tom abaixo das falas com teor golpista dos atos de 7 de Setembro do ano passado.

No ato da Avenida Paulista, à tarde, convocado por deputados aliados e com participação de ex-ministros como Marcos Pontes e Ricardo Salles, Bolsonaro entrou por chamada de vídeo e fez um rápido discurso aos apoiadores. O presidente ressaltou que a manifestação era pacífica e em "defesa da Constituição, da família e da liberdade". E disse ser um chefe de um governo que "acredita em Deus, respeita seus militares, defende a família e deve lealdade a seu povo".

— Eu irei onde vocês estiverem. Estarei sempre ao lado da população brasileira. gradeço ao criador pela minha vida e a vocês por terem me ofertado essa missão de conduzir o destino do Brasil, porque o bem sempre vence o mal — disse.

Na avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro discursou por meio de uma transmissão, em um telão

Faltando meia hora para o início do evento, nas imediações do Museu de Arte de São Paulo (Masp), três quarteirões da avenida Paulista já estavam tomados pelos manifestantes.

Entre cartazes e palavras de ordem proferidas, os pedidos mais repetidos eram os de liberdade para o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) e pelo impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes. Muitos cartazes, alguns inclusive em inglês, condenam o que acreditam ser a existência de "presos políticos" conservadores e de uma "ditadura do Judiciário".

O deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e nove meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataque à democracia e incitação de violência contra juízes da Corte, e depois indultado por Bolsonaro, é aguardado e deverá subir ao palanque às 17h.

 

Ato de apoio a Bolsonaro, no Rio de Janeiro

Após uma semana marcada pelo clima de tensão com o Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro participou brevemente de manifestação na manhã deste domingo que tem entre seus motes ataques contra a Corte e defesa do governo federal. Cercado por seguranças, o presidente circulou no local onde os manifestantes se reúnem, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, mas não discursou. Ativistas também foram às ruas, em favor do presidente, outras capitais do país, como Salvador, Vitória, Goiânia, São Luís, Campo Grande, Belo Horizonte e Rio. Na Avenida Paulista, manifestantes estão reunidos pedindo a reeleição de Bolsonaro e o impeachment de ministro do STF.

A passagem durou menos de dez minutos e o trajeto foi transmitido por seu perfil nas redes sociais.

Mais esvaziada que manifestações anteriores pró-governo, o grupo se concentrou em frente ao Itamaraty e o Ministério da Justiça, no lado oposto, e não chegou a preencher todo o gramado.

"Vim cumprimentar o pessoal que está aqui na manifestação pacífica em defesa da Constituição, democracia e da liberdade. Então, parabéns a todos em Brasília, bem como todo o Brasil que hoje estarão nas ruas. Tamo junto. Brasil é nosso. Deus, pátria, família", disse Bolsonaro, no final da gravação.

Entre os participantes foi possível ver faixas contrárias ao Supremo, incluindo pedidos de destituição de ministros e cobranças ao Senado, responsável por analisar pedidos de impeachment contra os integrantes da Corte.

"Sim à liberdade, não à ditadura", dizia uma das faixas. "STF sim, mas esses ministros não", afirmava outra. Em um dos carros de som, os dizeres: "Criminalização do comunismo. Destituição dos ministros".

Ato de apoio a Bolsonaro teve cartazes de ataques ao STF

Os manifestantes começaram a se reunir a partir das 9h. Nos discursos nos carros de som, havia declarações como "Supremo é o povo" e críticas diretas ao ministro Alexandre de Moraes, principal desafeto de Bolsonaro na Corte.

O presidente chegou às 11h30, cumprimentou os presentes e foi embora em seguida. Apenas meia-hora depois foi anunciado que ele não discursaria. O motivo alegado foi de que a legislação eleitoral proibiria discursos de pré-candidatos em carros de som — apesar de outros pré-candidatos também terem discursado. Após anúncio, a maior parte dos manifestantes foi embora e o ato foi encerrado pouco depois.

O filho mais novo do presidente, Jair Renan, ficou em cima do principal carro de som, mas não discursou. Jair Renan é investigado por suposto tráfico de influência.

As manifestações no país ocorrem após a condenação do deputado Daniel SIlveira (PTB-RJ), por ameaças de violência contra ministros do Supremo e ataques às instituições democráticas. Numa afronta à Corte, Bolsonaro concedeu indulto individual (graça) ao parlamentar no dia seguinte ao julgamento.

Outros bolsonaristas participaram do ato em Brasília. Nas redes sociais, a deputada Bia Kicis (PL-DF) afirmou que a manifestação também é um ato em apoio ao indulto concedido pelo presidente a Silveira , condenado pelo STF.

"Hoje é dia de irmos para a rua apoiar o nosso presidente Bolsonaro, seu decreto de indulto, de apoiar a liberdade que não é do Daniel Silveira só. É de todos nós", disse Kicis.

No evento, a deputada afirmou que Silveira é um "símbolo" do que ela chamou de luta pela liberdade.

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, Augusto Heleno, discursou no ato e afirmou que não é um dia de "revanche".

"Hoje não é um dia de revanche, não é um dia de malcriação, não é um dia de expressar raiva. É Dia do Trabalhador".

Com críticas indiretas ao PT, Heleno também afirmou que o "bem" precisa vencer o "mal":

"Nós precisamos que o bem vença o mal. Aqueles que sabidamente já demonstraram que são o mal não têm direito de tomar o lugar daqueles que trabalham pelo bem".

A ex-ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que é pré-candidata ao Senado pelo Distrito Federal, chegou ao fim do protesto e não chegou a discursar. Damares afirmou que o ato representou apoio e confiança em Bolsonaro.

Em outro ponto da cidade, centrais sindicais organizaram outro ato pelo Dia do Trabalho, em apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contra Bolsonaro.

"Fora Bolsonaro fascista! Chega de fome e corrupção" dizia uma das faixas.

Aos gritos de "Daniel para Senador" e do hino nacional, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) se reuniu com apoiadores na manhã deste domingo nas praias de Icaraí, em Niterói, e de Copacabana, na capital fluminense, em atos pelo dia 1º de maio. As duas manifestações foram marcadas por falas e músicas sexistas cantadas pelos manifestantes, além de críticas à vacinação contra a Covid-19 e aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Silveira, no entanto, não comentou sobre a sua condenação a 8 anos e 9 meses de prisão por ataques à democracia e por incitar violência física contra ministros da Corte. 

Em falas breves nos dois eventos, Silveira evitou citar o seu mandado de prisão e pediu apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que o concedeu indulto após a condenação. Silveira também afirmou que pretende defender a "liberdade de expressão" e citou uma suposta "ameaça comunista", sem se explicar a que se referia ou apresentar qualquer prova.

"O presidente disse que a liberdade tem que ser maior que a própria vida. Nós vamos colocar o presidente na liberdade que a gente tanto busca. Limpar o Brasil do socialismo, estamos muito próximos de uma ameaça comunista. Se não fosse o Bolsonaro a cor não seria verde e amarela, mas sim vermelha".

Silveira também defendeu o porte de armas, em uma fala que foi interpretada como endereçada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"O de nove dedos disse que ia acabar com a família, com o armamento. Eu tô armado, quem tiver armado não é bandido não, quer se proteger", completou.

Apesar de a mobilização nas redes sociais ter crescido na manhã deste domingo com as hashtags #PatriotasNasRuas e #BolsonaroReeleitoEm2022, a mobilização em Icaraí não conseguiu superar o ato antidemocrático do 7 de Setembro. Com paródias que exaltavam o presidente e apontam uma suposta ameaça comunista, os bolsonaristas marcharam até o final da praia.

As paródias tocadas por manifestantes também difamavam "mulheres esquerdistas", em tom sexista, ao dizer que elas não se depilam e se vitimizam. A comunidade LGBTQIA+ também foi criticada, seguido de gritos de que "meninas usam rosa e meninos azul".

Um manifestante com vestimenta indígena chegou a levar uma placa de rua com nome de Daniel Silveira, em substituição à placa em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) quebrada pelo deputado federal em 2018, após o assassinato da parlamentar.

Em Copacabana, o ato reuniu milhares de pessoas e seguiu o mesmo tom. Os manifestantes se identificaram através de roupas verde e amarelas e carregavam cartazes contra o STF e bandeiras do Brasil.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro protestaram contra a vacinação contra a Covid-19, especialmente em crianças, alegando que o imuzante causa doenças e a morte, afirmação que já foi negada inúmeras vezes pela OMS.

"Vacinar uma criança é condena-la a morte. Não se sabe do futuro, se as crianças serão inférteis, porque não é lido o que está escrito na bula da vacina. também quero saber qual foi o mendigo que morreu. Mendigo lava a mão? — questionou uma manifestante em cima do carro de som".