'Sem acordo, teremos duas candidaturas', diz França sobre aliança com Haddad ao governo de SP
PSB e PT tentam encontrar solução para uma candidatura única para a eleição, reflexo da união em nível nacional
O ex-governador e pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PSB, Márcio França, afirmou nesta segunda-feira (2) que, caso o PT não tope sua sugestão para definição de candidatura única para a disputa eleitoral, ele e Fernando Haddad devem concorrer ao mesmo cargo no pleito de outubro. A declaração foi dada durante sabatina da "Folha de S. Paulo" e "UOL".
França disse ter sugerido ao PT que a decisão sobre o candidato único se desse a partir de uma pesquisa, feita por instituto contratado especificamente com esse objetivo, que medisse as intenções de voto e rejeição para seu nome e o de Haddad. O ex-presidente Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, teriam aceitado a proposta do acordo, segundo ele, mas o diretório estadual do PT não.
"Se não houver acordo, nós vamos as duas candidaturas até o final. E vamos torcer para que a gente possa estar os dois. Se fosse um corte hoje, estaríamos os dois no segundo turno. Existe essa chance, desde que eles topem a pesquisa. Se não toparem a pesquisa, nós teremos as duas candidaturas".
Como reflexo da aliança entre PT e PSB em nível nacional, que resultou no encaixe de Geraldo Alckmin como vice de Lula, os grupos de França e Haddad vêm tentando encontrar uma solução para a disputa ao Palácio dos Bandeirantes, já que os dois aparecem à frente das pesquisas eleitorais — e nenhum deles quer abrir mão da candidatura. Ex-prefeito de São Paulo, Haddad tinha 29% das intenções de voto de acordo com o último Datafolha, enquanto França marcava 20%, na segunda posição.
França tem defendido que seu nome é melhor que de seu aliado para o governo pois seria capaz de "entrar um pouco mais no campo adversário", isto é, arrebatar votos bolsonaristas que um candidato do PT não conseguiria. Enquanto governador, ele fez diversos acenos à classe policial. Na eleição municipal de 2020, quando disputou a Prefeitura, ele evitou fazer críticas ao presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo assim, ele nega que vá esconder Lula de seu programa eleitoral neste ano. Ele respondeu fazendo o sinal de L com os dedos, gesto clássico de eleitores do ex-presidente.
"Não vou esconder o Lula. Sou Lula facinho. Para derrotar o Bolsonaro, sou Lula dez vezes. O que importa é que Bolsonaro não se reeleja".
França prometeu "acabar" com a Cracolândia, tema de campanha há décadas em São Paulo, em dois anos, caso seja eleito governador. Ele sugeriu até internar compulsoriamente pessoas com dependência química que vivam na região do centro da capital, "se for necessário".
Questionado por que não fez isso quando esteve à frente da gestão estadual, ao assumir a cadeira no lugar de Alckmin entre abril e dezembro de 2018, ele afirmou que não tinha orçamento previsto para a ação, que deve envolver realocação e tratamento para usuários de drogas, e que o tema não era de sua atribuição.
Ele também defendeu promover mudanças no Programa Olho Vivo, que instalou câmeras corporais no uniforme de policiais militares com o intuito de reduzir a violência por parte dos agentes. O pessebista afirma ser contra monitorar policiais por 12 horas ininterruptas, o que poderia invadir a intimidade dos profissionais.
Ele sugeriu que as câmeras fossem ligadas apenas se os agentes "puxarem a arma ou o cassetete". A retirada das câmeras é uma pauta que tem a simpatia de bolsonaristas, apesar de estudos mostrarem redução das mortes por policiais em batalhões em que houve a adoção do equipamento.
Um levantamento inédito conduzido por pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que cerca de 88 mortes podem ter sido evitadas em um período de seis meses em razão da instalação das câmeras corporais.