NORDESTE

De influenciador a entusiasta de vaquejada: eleição fora de época em Alagoas tem lista inusitada

Total de candidatos, entre postulantes a governador e vice, chega a 24 nomes

Carlinhos Monteiro - reprodução/Instagram

A eleição indireta ao Governo de Alagoas, suspensa no domingo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em meio uma disputa jurídica envolvendo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), tem uma gama variada de candidatos: são 24 nomes no total, concorrendo pelos votos de 27 deputados estaduais.

As candidaturas vão desde parlamentares com mandato, como o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), favorito no pleito, até agentes de segurança, servidores municipais e um influenciador digital.

O pleito foi convocado pela Assembleia Legislativa de Alagoas por conta da dupla vacância dos cargos de governador e vice, e vale um mandato-tampão até o fim deste ano. Diferentemente de uma eleição direta, a disputa permite a candidatura de qualquer pessoa, sem a necessidade de filiação a um partido político. Basta ser brasileiro, ter mais de 30 anos e ter se inscrito até sexta-feira passada.

De acordo com o edital, os 27 deputados estaduais de Alagoas vão eleger governador e vice em votação aberta e separada para cada cargo. São 16 candidatos ao governo e oito postulantes a vice-governador.

O influenciador Carlinhos Monteiro, um dos candidatos a governador, tem transformado a disputa jurídica envolvendo a eleição indireta em material cômico nas suas redes sociais. Desde domingo, quando o presidente do STF, ministro Luiz Fux, concedeu liminar suspendendo a eleição a pedido do PP, partido de Lira, Monteiro fez uma série de publicações em seus stories com piadas sobre a troca de farpas entre Lira e Renan.

Ao lamentar o adiamento da eleição, o influenciador disse que "já estava pronto para discursar" na assembleia e ironizou o fato de ter 24 anos, abaixo da idade mínima exigida para participar: "Abra uma brecha na lei. (...) Tem quantas secretarias? Eu crio 27, para cada deputado dou uma secretaria, ninguém fica com raiva", afirmou.

Apesar de não cumprir o requisito de idade, o influenciador teve sua candidatura registrada pela assembleia. O prazo para impugnação de candidaturas se esgotou no domingo.

Com pouco mais de 25 mil seguidores, Monteiro se apresenta em seu perfil no Instagram como alguém que mostra "o lado engraçado da política". Nas redes, ele ostenta em seus posts comentários de políticos locais, como deputados estaduais e secretários municipais, e até de nomes conhecidos nacionalmente, como o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor (PTB-AL). Em publicação de 12 de abril, Carlinhos Monteiro aparece em cumprimento com o “tio Collor”, chamado pelo influenciador de “ícone da política alagoana e nacional”. “O véio tava num pique danado!”, completa, no registro.

Além de Monteiro, outros quatro candidatos ao governo têm trajetórias distantes da política partidária: o corretor imobiliário Stenio Pereira, o radialista Joselito Vasconcelos, o engenheiro civil Francisco Teixeira e o servidor municipal Erinaldo Oliveira — que se apresenta nas redes sociais como Ery da Vaquejada.

A indefinição sobre a data da eleição incomodou outros candidatos além de Monteiro. O líder comunitário e fisioterapeuta Tony Chicuta, candidato a vereador em Maceió pela Rede em 2020, alfinetou em suas redes sociais a juíza Maria Ester Fontan Cavalcanti, a primeira a suspender a eleição indireta, na semana passada, em uma ação do PSB. A liminar da magistrada foi posteriormente cassada pelo Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL), mas seus efeitos acabaram restituídos com a decisão do STF no fim de semana.

"Qual o interesse do partido político do senhor prefeito de Maceió (João Henrique Caldas, do PSB), de fazer de tudo, com apoio e decisão de uma excelentíssima  juíza, que rápida feito uma gata, suspendeu a eleição para eleger o governador tampão? (...) Com todo respeito à excelentíssima juíza, rápida feito uma gata, bem que poderia ser goleira da seleção feminina brasileira de futebol", escreveu.

Inicialmente marcada para esta segunda-feira, a eleição está suspensa até que o ministro Gilmar Mendes, do STF, se manifeste sobre a liminar obtida pelo PP -- cujos advogados são os mesmos da ação do PSB que correu na Justiça alagoana. No domingo, Gilmar deu prazo de 48h para que o governo de Alagoas e a assembleia legislativa prestassem informações sobre os trâmites da eleição.

O deputado estadual Paulo Dantas é o favorito por ter o apoio do MDB, do ex-governador Renan Filho, que tem 15 dos 27 parlamentares da assembleia. Aliados de Dantas calculam que ele possa ter cerca de 20 votos. O candidato apoiado por Lira é o também deputado estadual Davi Maia (União). Outro deputado que disputa o pleito é Cabo Bebeto (PL), ex-policial militar. Os deputados podem votar em si mesmos.

Entre os candidatos a vice, o favorito é o ex-secretário estadual de Educação, Rafael Brito, que se lançou com apoio dos Calheiros e de Dantas.