conflito internacional

Rússia anuncia cessar-fogo para retirar civis de siderúrgica na Ucrânia

País promete abertura de corredor humanitário durante três dias

Vladimir Putin, presidente da Rússia - Reprodução/ Flickr Palácio do Planalto

A Rússia anunciou nesta quarta-feira (4) um cessar-fogo na siderúrgica de Azovstal, na cidade ucraniana de Mariupol, para permitir, a partir desta quinta-feira (5), a abertura por três dias de um corredor humanitário para evacuar os civis.

"Nesse período, as Forças Armadas russas e as formações da República Popular de Donetsk irão decretar um cessar unilateral de hostilidades", informou o Ministério da Defesa russo. Os civis que se encontram na unidade serão autorizados a viajar para a Rússia ou para áreas controladas por Kiev", acrescentou.

A Ucrânia acusou a Rússia de ter lançado um "ataque potente" contra a siderúrgica de Azovstal, onde os últimos defensores de Mariupol estavam organizados, juntamente com dezenas de civis.

A ONU e a Cruz Vermelha participaram no começo da semana da evacuação de uma centena de civis.

Novas sanções contra a Rússia
Mais de dois meses após o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, a União Europeia (UE) anunciou que avalia um sexto pacote de sanções e um embargo de suas importações de petróleo russo.

"Vamos renunciar progressivamente ao fornecimento russo de petróleo em um período de seis meses e de produtos derivados do petróleo até o fim do ano", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Segundo funcionários da UE, o plano da Comissão prevê uma isenção para Hungria e Eslováquia, dois países sem litoral totalmente dependentes do fornecimento que chega através do oleoduto Druzhba e que poderão seguir comprando da Rússia em 2023.

Contudo, a Hungria rejeitou a proposta da Comissão Europeia (o órgão executivo da UE) "em sua forma atual", alegando que essa medida "destruiria completamente a segurança energética do país". 

Essa rejeição foi imediatamente condenada pelo ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, para quem os países da UE que rejeitam o embargo são "cúmplices" dos "crimes" cometidos pelos russos na Ucrânia. 

O Reino Unido, por sua vez, também anunciou uma nova rodada de sanções, que inclui a proibição de prestar à Rússia serviços de contabilidade, consultoria e comunicações. 

Já o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que esta semana discutiria com os países do G7 possíveis sanções "adicionais" contra a Rússia.

A Comissão Europeia também recomendou sanções contra o líder da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Kirill, por seus sermões de apoio à intervenção militar na Ucrânia.

Bombardeios
Na Ucrânia, as forças russas continuaram bombardeando o leste e lançaram mísseis contra vários alvos em todo o país, inclusive em Lviv, perto da fronteira com a Polônia, e na região montanhosa da Transcarpátia, perto da Hungria, que até agora não tinha sido atingida pela guerra.

"Com o objetivo de destruir a infraestrutura de transporte da Ucrânia, o inimigo disparou mísseis contra instalações nas regiões de Dnipropetrovsk, Kirovohrad, Lviv, Vinnytsia, Kiev, Transcarpátia, Odessa e Donetsk", informou o Exército ucraniano no Facebook.

No leste, a Rússia se propôs a "garantir o controle total das regiões de Donetsk e Luhansk e manter um corredor terrestre a partir da Crimeia ocupada", acrescentou.

Parada militar em Mariupol?
No sudeste foram registrados "violentos combates" na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, informou o prefeito, Vadym Boichenko.

A Rússia negou os bombardeios e garantiu que as forças russas apenas intervêm para "cortar rapidamente as tentativas" dos combatentes ucranianos de chegar a "posições de tiro".

Segundo a inteligência ucraniana, a Rússia planeja realizar uma parada militar em Mariupol em 9 de maio, dia em que Moscou comemora a vitória sobre a Alemanha nazista em 1945. 

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse que a evacuação de uma centena de civis de Azovstal esta semana, com a ajuda da ONU e da Cruz Vermelha, mostrou que "as organizações internacionais podem ser eficazes" e instou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a realizar outras para "salvar" vidas.

Tensões regionais
Em Chisinau, a capital da Moldávia, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que a UE vai "aumentar de maneira considerável" o apoio militar ao país, "entregando equipamentos militares adicionais para suas Forças Armadas", declarou.

Este anúncio acontece dias depois dos ataques no território da Transnístria, uma região separatista pró-Rússia que faz parte da Moldávia, e dos comentários feitos em abril pelo general russo Rustam Minnekaev, para quem tomar o sul da Ucrânia daria aos russos acesso direto a essa região.

Belarus, um país fronteiriço com a Ucrânia e aliado da Rússia, realizou exercícios militares "surpresa" para testar a capacidade de resposta de seu exército.

Na frente diplomática, a Rússia decidiu boicotar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU com o Comitê Político e de Segurança (PSC, na sigla em inglês) da UE nesta quarta.

A Rússia também proibiu o acesso a seu território para mais de 60 funcionários do governo japonês, entre eles o primeiro-ministro Fumio Kishida, em represália às sanções impostas pelo Japão. 

No Brasil, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que Zelensky é "tão responsável como Putin" pela guerra, em entrevista à revista Time. 

"Critiquei o Putin quando estive na Cidade do México, dizendo que foi um erro invadir. Mas creio que ninguém está buscando contribuir para que haja paz. O povo está estimulando o ódio contra Putin. Isso não vai resolver! Há que estimular um acordo", declarou Lula, favorito nas presidenciais de outubro.

Impacto nas taxas de juros
A guerra entre Ucrânia e Rússia - dois grandes produtores de matérias-primas e produtos agrícolas - impulsionou uma disparada mundial da inflação e levou os bancos centrais a aumentarem suas taxas de juros.

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou nesta quarta-feira em meio ponto percentual suas taxas de juros de referência, o primeiro aumento desta magnitude desde o ano 2000, para tentar controlar uma inflação recorde, e destacou que novas altas "se justificarão" no futuro.