Música

Porto Musical retoma programação presencial nesta quinta (5)

Da nova MPB ao brega funk, evento abre os olhos e ouvidos para a periferia em sua 10ª edição

Martis, Afroito e Luana Flores estão entre as atrações do porto Musical 2022 - Divulgação

O Porto Musical volta a apresentar uma edição presencial em 2022, ano em que completa sua 10ª edição, homenageando Joel Datz, o saudoso “irmão evento”. Desta quinta-feira (5) a sábado (7), o evento oferece conferências, debates, pitchings e shows na Praça do Arsenal, Cais do Sertão e Paço do Frevo, no Bairro do Recife. Uma sessão online já havia sido realizada em fevereiro e agora o público poderá voltar a vivenciar as atrações e atividades de perto.

A Praça do Arsenal abrigará a maior parte da programação. Já no Paço do Frevo, o público participa das “Sessões Bolo de Rolo”, com debates sobre o mercado local, pelas manhãs, das 10h ao meio-dia. Os ingressos para participar das atividades já estão disponíveis no site Sympla e custam R$120. 

Programação escolhida a dedo
Por conta do calendário incerto, as atrações do Porto Musical deste ano não foram selecionadas através de chamada pública e curadoria, mas por escolha direta, seguindo o critério de contemplar artistas em evidência.“A base dessas escolhas foram artistas que ou lançaram discos nesses últimos dois anos ou se destacaram de alguma forma no cenário pernambucano e nacional. E que mostrasse um pouco dessa diversidade da música pernambucana e brasileira. A gente vai ter da nova MPB pernambucana - com Martins e Zé Manoel - até o brega funk com o Baile do Marley”, explica Melina Hickson, produtora da Fina Produções e curadora do Porto Musical.

Um show bastante aguardado é o do compositor e pianista petrolinense Zé Manoel, que apresentará canções do seu novo disco “Do meu coração nu”. “Faz muitos anos que eu não faço show aqui em Recife com banda. O último foi em 2015, com o ‘Canção e silêncio’. O Porto Musical sempre foi importante para o negócio da música. Já participei de duas edições fazendo show e outras vezes como ouvinte. Essa ação de incluir artistas periféricos, intermediando esses artistas com produtores do Brasil e de outros países, precisa estar ligada ao que está acontecendo. E, no geral, essas novidades vêm das periferias”, destaca Zé Manoel.
 

Zé Manoel, cantor, compositor e pianista de Petrolina



Confira a programação completa do Porto Musical 2022

Porto Musical nas periferias
Desde 2018, o Festival passou a realizar encontros nas periferias da Região Metropolitana do Recife, em visitas da curadora do evento, Melina Hickson. Esse contato com artistas e produtores nas comunidades se intensificou em 2020 e continuou na edição deste ano. “A gente ficou muito tempo esperando que a comunicação do evento fosse suficiente para chegar nessas pessoas, mas não é. E, às vezes, quando chega, esses artistas não têm condições de pagar para assistir o evento”, avalia Melina. Quem participa desses encontros ganha credenciamento gratuito para o evento. Desde 2020 esse intercâmbio democratiza o acesso e ajuda a desenvolver a carreira de artistas periféricos. 

Um deles é o pernambucano Afroito, que em 2020 esteve em um desses encontros na periferia em Camaragibe. “De lá para cá, ele estruturou a carreira, lançou disco, fez um trabalho de identidade visual muito forte e vai tocar nessa edição, no palco principal. Então, esse é um case lindo”, comemora a curadora. “Compreendi que além de possibilitar didaticamente o que é trabalhar com música, também tinha uma arregimentação de pessoas que trabalham com isso na cidade. Então, uma feira como essa deveria ser o  princípio para muitas pessoas conseguirem acessar. Percebi que o Porto Musical seria um lugar relevante para estar”, diz Afroito.

Uana Mahin, outra artista de origem periférica, participou do pitching do Porto Musical em 2020. Depois disso, lançou singles e está entre as convidadas do Baile do Marley, no sábado (7). “Foi bem importante a visibilidade que me trouxe e inclusive me instigou a modificar meu trabalho, a fazer essa reinvenção que eu tenho feito desde a pandemia. E estou bem feliz de estar junto com o Baile do Marley”, comemora a cantora e compositora.

 

A cantora e compositora pernambucana Uana

Shows
Na agenda de showcases desta edição, sempre à noite no Cais do Sertão, estão previstas, entre sexta e sábado, apresentações de Orquestra de Bolso (PE), Bixarte (PB), Afroito [PE] (part. Tássia Reis [SP]), Luana Flores (PB), Martins (PE), Dani Carmesim (PE), Zé Manoel (PE), Rachel Reis (BA), Baile do Marley [PE] (part. Uana, Rayssa Dias [PE] e Gui da Tropa (PE]). E no primeiro dia da convenção, as atenções se voltam para a conferência Sons do Nordeste: de onde vem e pra onde vão essas ondas de sucesso?, que será mediado pelo jornalista e pesquisador GG Albuquerque junto a convidados como Julian Lepick, Lívia Paupério e Jorge Music.

Já o segundo dia do Porto Musical, entre manhã e tarde, levará para o Cais do Sertão o Papo Sincero, Seminário, Pitchings e a conferência Terra Arrasada: a reconstrução da circulação no Brasil. Ana Garcia, Eddu Porto, Daianne Dias e Nicole Balestro são os convidados da mesa. Na parte noturna, o público desfruta da primeira noite de showcases.

A convenção musical se encerra no sábado (7), trazendo na parte matutina e vespertina uma nova rodada de Papo Sincero, Seminário e Pitchings. O destaque fica para a conferência Vida Entre Fraturas: como garantir políticas públicas para a música? Mediada por Jaqueline Fernandes com as participações de Fabricio Noronha, Luciana Adão, Gabi Apolonio e Luisa Cela.

O Porto Musical é realizado pela Fina Produção com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo do Estado de Pernambuco, Sistema de Incentivo à Cultura, Fundação de Cultura da Cidade do Recife, Prefeitura do Recife, apoio do Sebrae e apoio institucional da British Council e Oi e Oi Futuro e colaboração da Tidelli, Smartlink, Ferreira Costa, Porto Digital, Paço do Frevo, Museu Cais do Sertão e EMPETUR. 

Homenagem a Joel Datz
A 10ª edição do Porto Musical fará uma homenagem ao "irmão evento", Joel Datz. Melina conta que na segunda-feira seguinte ao término do Porto Musical 2020 chegou ao escritório e seu Joel estava na porta. “Perguntei se ele estava perdido e ele disse que não, que tinha vindo atrás de uma camisa do Porto Musical.  Entramos e conversamos durante horas. Foi a primeira vez que parei para realmente conversar com ele. Esse papo rendeu um texto meu que emocionou muita gente, afinal, quantos de nós realmente conheciam a sua história? Vi que poucos. Assim como eu, estávamos acostumados à presença do velhinho em nossos eventos, dávamos um oi e só”.  

“Duas semanas depois deste encontro entrávamos em quarentena. Durante a pandemia, enviei carta pra ele e algumas coisinhas que foram deixadas na portaria do seu prédio. E fiquei, claro, esperando nosso próximo encontro, que não ocorreu. Joel morreu ano passado sem que eu e os recifenses, presos em casa, o reencontrassem. E eu fiquei com aquele único momento e a sensação de ter perdido um amigo que havia acabado de conhecer”, lamenta. 

"O Porto tem que deixar um registro daquele senhor que saía todos os dias para vários eventos e quando não tinha nada na cidade, ia para a porta das rádios, afinal, aquilo também era um evento onde ele encontraria gente entrando e saindo. Hoje, pensando bem, acho que o que importava para Joel era menos os eventos e mais as pessoas. Por isso o pôster oficial do Porto Musical deste ano é seu Joel, o irmão evento, numa ilustração linda de Heitor Moreira", completa Melina.