Colômbia

Chefe do tráfico colombiano 'Otoniel' declara inocência após extradição aos EUA

Otoniel compareceu nesta quinta-feira (5) a tribunal dos EUA

Chefe do tráfico colombiano "Otoniel", extraditado na quarta-feira da Colômbia aos Estados Unidos, declarou-se inocente - KENA BETANCUR / AFP

O chefe do tráfico colombiano "Otoniel", extraditado na quarta-feira da Colômbia aos Estados Unidos, declarou-se inocente, nesta quinta (5), das acusações feitas contra ele perante uma juíza do tribunal do Brooklyn, Nova York, que instrui seu caso por narcotráfico.

Dairo Antonio Úsuga, conhecido como "Otoniel", se apresentou algemado e vestindo o traje laranja usado por detentos nas prisões dos Estados Unidos, perante a juíza federal Vera M. Scalon.

A magistrada informou-lhe sobre seus direitos e leu as acusações de narcotráfico feitas contra ele: "empresa criminosa continuada" e "conspirar para manufaturar e distribuir cocaína".

Uma terceira acusação, de uso de armas para o tráfico de drogas, foi descartada pois não está incluída nos termos de sua extradição. Se for considerado culpado pelo júri que o julgará, pode ser condenado à prisão perpétua. A próxima audiência está prevista para 2 de junho.

Até que seja realizado o julgamento, o réu permanecerá detido devido a sua "periculosidade" e "alto risco" de fuga, indicou a juíza.

Pouco antes, seu advogado, Arturo Hernández, que estava ao seu lado servindo como tradutor, havia informado que não apresentariam um pedido de liberdade sob fiança.

"Ninguém está acima da lei"
Conhecido também pelos apelidos "Mao", "Gallo" e "Mauricio Gallo", Otoniel é um "dos capos da droga mais perigosos e mais procurados do mundo", havia dito o procurador federal do Tribunal do Brooklyn, Breon Peace, antes de seu comparecimento diante da juíza.

"Ele achava que era intocável, até agora", afirmou Peace, que alertou que "ninguém está acima da lei".

A justiça americana acusa Úsuga de atuar como líder de alto nível dentro do Clã do Golfo (CDG) desde seu início, sendo o "líder supremo" durante "os últimos 10 anos".

Esse cartel era uma "empresa criminosa responsável por exportar carregamentos de cocaína de múltiplas toneladas da Colômbia ao México e à América Central, para sua importação final aos Estados Unidos".

Peace também o acusou de "reprimir civis inocentes, impor fechamentos e greves e uma espécie de lei marcial" nos territórios que controlava em Urabá, Antioquia, obrigando os cidadãos a ficarem em casa.

"Ordenava que os soldados do Clã do Golfo executassem qualquer um que desobedecesse suas ordens", disse o procurador em coletiva de imprensa.

90 toneladas de cocaína
Após lembrar que os Estados Unidos enfrenta uma "devastadora" crise de overdoses, a chefe do DEA, a agência americana antidrogas, Anne Milgram, apontou que mais de 90% da cocaína que chega ao país vem da Colômbia.

"A DEA não se deixa deter por nada para investigar e desmantelar as redes criminais que ameaçam a segurança e a saúde do povo americano", declarou, após informar que a agência investiga Otoniel há quase 20 anos.

Ela explicou ainda que a cocaína do cartel colombiano "muitas vezes misturada com o fentanil dos cartéis mexicanos, criando uma combinação letal". 

Para dar uma ideia da gravidade, a acusação afirmou que o CDG tentou introduzir mais de "90 toneladas" de cocaína nos EUA por um valor de mais de "2 bilhões de dólares". 

A justiça da Colômbia também o acusa de homicídio, terrorismo, recrutamento de menores, sequestro e crimes sexuais, entre outros delitos que cometeu quando era guerrilheiro e paramilitar, antes de se tornar o narcotraficante mais buscado da Colômbia.

As vítimas haviam solicitado a "suspensão" de sua extradição, alegando seu direito de saber a verdade e receber reparações. Mas a justiça colombiana deu luz verde à sua transferência na quarta-feira.

Para o governo, a captura e posterior extradição de Otoniel é o golpe mais contundente contra o tráfico de drogas desde a morte de Pablo Escobar.