ONU envia comboio para tirar civis de Azovstal
A organização já conseguiu retirar mais de cem pessoas da fábrica nesta semana
A ONU anunciou nesta quinta-feira (5) o envio de um novo comboio para resgatar os civis da siderúrgica Azovstal, último reduto da resistência ucraniana em Mariupol, apesar de a Ucrânia acusar a Rússia de não ter respeitado uma trégua unilateral que tinha prometido para facilitar a evacuação.
"Ainda temos que evacuar civis dali, mulheres e crianças. Apenas imaginem (...) mais de dois meses de bombardeio constante e morte constante", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em seu discurso vespertino diário.
As informações sobre a siderúrgica nesta cidade portuária, alvo-chave da ofensiva de Moscou para unir as áreas sob seu controle no leste e no sul da Ucrânia, são contraditórias.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que "continua disposto" a garantir uma evacuação "segura" dos civis, mas instou Kiev a ordenar aos milicianos que continuam na fábrica que "deponham as armas".
O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, afirmou que os corredores humanitários "estão funcionando" para retirar os civis protegidos nos quilométricos túneis da siderúrgica que, segundo as autoridades locais seriam cerca de 200.
Peskov também assegurou que o exército russo estava respeitando o cessar-fogo, que segundo o anúncio oficial deveria durar três dias.
Mas um alto conselheiro da Presidência ucraniana, Olexiy Arestovich, informou que os russos que entraram no complexo foram repelidos, sem dar maiores detalhes, alegando que as informações de que dispunha eram contraditórias.
O subcomandante do batalhão ucraniano Azov, Sviatoslav Palamar, informou em um vídeo sobre "combates sangrentos" e acusou as tropas de "violar sua promessa de trégua".
Apesar das incertezas sobre a situação, a ONU anunciou que um comboio de veículos se dirigia a Azovstal, aonde deveria chegar na manhã de sexta-feira para efetuar a evacuação.
Planos de Putin contrariados pelo Ocidente
A conquista total de Mariupol, após dois meses de cerco e bombardeios, seria uma vitória importante para a Rússia às vésperas de 9 de maio, quando Moscou comemora com uma parada militar a vitória sobre a Alemanha nazista em 1945.
Os ucranianos temem que os russos queiram organizar uma marcha da vitória neste porto estratégico ao sul do Donbass, uma região já amplamente controlada pelos separatistas pró-russos.
O porta-voz do Kremlin admitiu que a ajuda das potências ocidentais à Ucrânia "não permite concluir rapidamente a operação" militar, iniciada em 24 de fevereiro, deixando milhares de mortos e forçando milhões de ucranianos a fugir de suas casas.
Mas, acrescentou Peskov, esta assistência estrangeira "não tem a capacidade de impedir" que a Rússia cumpra seus objetivos na ex-república soviética, que tem um governo pró-ocidental.
Até agora, Moscou só pode reivindicar o controle total de uma cidade ucraniana de envergadura, Kherson, no sul.
Ajuda à Ucrânia com um clique
Umas 344 pessoas foram evacuadas na quarta-feira de Mariupol e seus arredores para Zaporizhzhia, uma cidade sob controle ucraniano, a cerca de 230 km, segundo o presidente ucraniano Zelensky.
E uma centena de civis saíram de Azovstal no fim de semana, em uma operação organizada pela ONU e pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Mas "ainda há civis. Mulheres, crianças", afirmou Zelensky, que pediu ajuda ao secretário-geral da ONU, António Guterres, para novas missões.
O presidente ucraniano lançou também uma campanha mundial de arrecadação de fundos para ajudar seu país, através de uma plataforma especialmente criada com este fim, a United24.
"Com um único clique, você pode doar fundos para ajudar nossos defensores, salvar nossos civis e reconstruir a Ucrânia", disse Zelensky em inglês em um vídeo no Twitter.
Por outro lado, foram arrecadados mais de 6 bilhões de euros (6,3 bilhões de dólares) para a Ucrânia em uma conferência de doadores organizada em Varsóvia, anunciou o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki.
Simulações de lançamento de mísseis
As forças russas prosseguem com sua ofensiva, especialmente no leste.
O governador da região de Donetsk informou que 25 civis ficaram feridos em um bombardeio em um bairro residencial de Kramatorsk.
O exército russo disse que tinha atacado um local de comando ucraniano e dois depósitos militares do aeródromo da cidade.
Na fronteira norte da Ucrânia, Belarus, aliado de Moscou, iniciou na quarta manobras militares para testar a capacidade de reação de seu exército.
E Moscou anunciou que seu exército fez simulações de lançamento de mísseis com capacidade nuclear no enclave russo de Kaliningrado, situado entre a Polônia e a Lituânia, dois países-membros da União Europeia (UE) e da Otan.
Embargo sobre o petróleo
A Comissão Europeia propôs na quarta um embargo gradual ao petróleo importado da Rússia, mas com uma exceção para Hungria e Eslovênia, dois países totalmente dependentes do fornecimento russo, que poderiam continuar comprado petróleo da Rússia em 2023.
No entanto, a Hungria, país da UE mais próximo de Putin, rejeitou a proposta "em sua forma atual", alegando que "destruiria completamente a segurança energética do país".
O governo britânico anunciou o congelamento de ativos do grupo siderúrgico Evraz, cujo principal acionista é o milionário Roman Abramovich.
No campo diplomático, o presidente ucraniano convidou a Kiev o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e o chefe do governo, Olaf Scholz.
O Conselho de Segurança da ONU deve realizar nesta quinta uma reunião dedicada à Ucrânia.