Eleições

Na reta final por terceira via, Doria e Tebet apostam em empresariado e viagens

Contra ceticismo de partidos, pré-candidatos do MDB e PSDB aceleram estratégias 12 dias antes de reunião que discutirá eventual chapa

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A 12 dias da reunião marcada para decidir qual será — ou se haverá — a chapa da terceira via à Presidência, os pré-candidatos Simone Tebet (MDB) e João Doria (PSDB) concentram suas agendas em contatos com o empresariado. Enquanto o impasse fica cada vez mais longe de ser resolvido, aliados de ambos já acenam com a possibilidade de postergar a decisão.

Na quarta-feira, o União Brasil desembarcou de vez da coalizão da chamada "terceira via", quebrando o compromisso firmado com PSDB, MDB e Cidadania ao anunciar que teria "chapa pura" à Presidência. O recuo carimbou o enfraquecimento do grupo que buscava uma aliança mais ao centro.

Amargando baixo percentual de intenções de voto nas pesquisas, os presidenciáveis tentam se cacifar na reta final do prazo, com agendas ligadas a representantes de alto poder econômico. Ao GLOBO, Tebet disse que vai reservar os dias antes da reunião para rodar o Brasil, conversar com lideranças locais e dar entrevistas à imprensa, numa tentativa de tornar-se mais conhecida. Viagens a Goiás e Tocantins estão no planejamento.

Nesta sexta-feira, Tebet almoçou com o ex-presidente Michel Temer (MDB), apoiador de sua candidatura, num boulevard de marcas de luxo em São Paulo. Depois de exaltar o legado do governo Temer, Tebet fez um discurso voltado a empresários, com forte apelo social. Defendeu a criação de um programa de transferência de renda robusto para erradicar a miséria no país e investimentos em educação. Ela disse que a cara do Brasil é a de uma mulher, negra e nordestina. Propôs também uma reforma administrativa e outra tributária, mas os convidados presentes queriam, na verdade, saber se ela manteria ou não a reforma trabalhista, que virou alvo do pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Prometeu assertivamente que sim.

A senadora considera que o impasse para uma chapa única da terceira via não seja resolvido antes das convenções partidárias, entre julho e agosto.

"Se essa frente não for possível (no dia 18), cada um vai provavelmente iniciar sua caminhada para que, lá na frente, no período da convenção, nós possamos voltar a conversar. A política tem o seu tempo, a sua dinâmica", declarou.

Enquanto isso, Doria tem marcada, entre os dias 8 e 12 de maio, uma viagem para Nova York, onde deve se encontrar com investidores, empresários e bancos durante a Brazilian Week. Ele planeja ir ao evento "Person of the Year", promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que nesta edição homenageia a empresária Luiza Trajano.

Nas próximas semanas, a equipe do tucano vai intensificar os esforços para humanizar sua imagem a fim de se aproximar do eleitorado popular e reduzir sua alta rejeição.  Nos últimos dias, ele foi ao Pará e conversou com mulheres que sustentam suas famílias em comunidades ribeirinhas. Nas imagens, Doria aparece de camisa de malha azul marinho e calça no mesmo tom. Na tentativa de se desvincular da pecha de empresário rico, ele passou a evitar o terno e a gravata e a usar roupas mais despojadas, além de agora adotar apenas o nome "João" na propaganda partidária do PSDB.

Se Tebet havia declarado que não era "candidata a vice" de ninguém, Doria afirmou recentemente, ao colunista Lauro Jardim, que "nunca disse que seria ou aceitaria ser vice da Simone". Ainda que haja ceticismo quanto à definição de um pacto de centro por uma candidatura única, o PSDB ainda trabalha por uma aliança com o MDB. Esse movimento hoje é estimulado principalmente por uma ala que pressiona Doria a retirar sua pré-candidatura porque sua alta rejeição nas pesquisas de opinião prejudica a eleição de deputados e governadores. O grupo contra Doria decidiu migrar seu apoio à senadora Simone Tebet após ver o ex-governador Eduardo Leite se afastar da disputa presidencial. Nas próximas semanas, as atenções estarão voltadas para uma decisão do MDB sobre bancar ou não a pré-candidatura de Tebet até o fim.

Embora enfrente resistência de caciques do Nordeste que apoiam o ex-presidente Lula, a senadora tem o aval da maior parte dos diretórios do MDB. Caso o nome de Tebet seja avalizado pela cúpula emedebista, a avaliação dos tucanos é que Doria se enfraqueceria. Nesse cenário, há possibilidade de que o partido chegue à convenção nacional, entre julho e agosto, tendo que decidir entre Doria e a aliança numa chapa encabeçada por Tebet. Por outro lado, se a senadora não tiver o endosso da cúpula emedebista, Doria poderia ganhar peso na disputa. Não por acaso, já há um grupo no partido que sinaliza na direção de uma candidatura única. O maior temor na sigla é que a manutenção de uma candidatura de Doria traria consequências negativas para a reeleição do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia — hoje prioridade para a sigla.