Delegada presa em ação contra Ronnie Lessa e Rogério de Andrade escondeu dinheiro no quarto do filho
Cerca de R$ 1,8 milhão foram encontrados na residência de Adriana Belém, ex-titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), denunciada por liberar caça-níqueis apreendidos em troca de propina
Ex-titular da 16ª Delegacia de Polícia (Barra da Tijuca), a delegada Adriana Belém, presa nesta terça-feira (10) na Operação Calígula, do Ministério Público, escondeu dinheiro no armário do quarto do filho, disseram promotores em entrevista coletiva. No dormitório, os investigadores encontraram cerca de R$ 1,8 milhão guardados em malas e bolsas. Também foram apreendidos R$ 60 mil achados na suíte de Adriana.
A delegada foi uma das 12 pessoas presas pela operação deflagrada hoje, que tem como alvos o PM reformado Ronnie Lessa e o bicheiro Rogério de Andrade. Ela foi denunciada por permitir a liberação de máquinas de apostas de Andrade apreendidas em troca de propina. Também foi preso o delegado Marcus Cipriano, da Delegacia de Defraudações, denunciado por intermediar as negociações entre contraventores e policiais.
"Dentro da suíte dela encontramos R$ 60 mil. Ela disse que esse era seu único dinheiro e que ela não ia honrar pagamento das contas", disse na coletiva o promotor Fabiano Cossermelli.
Ele acrescenta que, ao deparar com os valores em negociação no esquema de repasses, o MP resolveu substituir os pedidos de medidas cautelares pelo de prisão preventiva.
"Ela afirmou categoricamente que não tinha dinheiro. No quarto do filho, eles disseram que não se lembravam (se havia dinheiro). Abrimos com uma faca e encontramos duas malas. Após encontrarmos o dinheiro escondido, ela disse que esse dinheiro era de parcerias, da vida inteira, e que ia comprar um apartamento", informou a promotora Roberta Laplace.
A promotora Juliana Amorim disse que foi a apreensão do dinheiro que gerou a comunicação com a Corregedoria Geral da Polícia Civil, e que Adriana Belém provavelmente será indiciada por ocultação de prova.
Vida de luxo
O dinheiro estava em sacos de grifes famosas e dentro de uma mala de viagem em um closet. O montante surpreendeu os promotores; foi preciso levar máquinas para contar as cédulas. Após a apreensão, a Força-Tarefa do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) para o caso Marielle e Anderson obteve a prisão preventiva da delegada, decretada pelo juiz da 1ª Vara Especializada do Tribunal de Justiça, Bruno Monteiro Rulière. Ela está lotada na Secretaria Municipal de Esportes do Rio, no cargo de assessora, e será exonerada nesta terça-feira, segundo a prefeitura.
Para os promotores de Justiça, o valor encontrado na residência de Belém é um forte indício de lavagem de dinheiro. Até o momento, foram contabilizados aproximadamente R$ 1,8 milhão apreendidos. Inicialmente, ela foi denunciada por corrupção em razão da liberação das máquinas caça-níqueis.
Belém entregou a titularidade da distrital que comandava em janeiro de 2020, um dia depois de o chefe do Setor de Investigações (SI) da delegacia ser preso na operação Os Intocáveis II. De acordo com o Ministério Público (MP) do Rio, Jorge Luiz Camillo Alves é suspeito de dar apoio a milicianos que atuam na Zona Norte do Rio, como os da Muzema, alvos de investigação pela qual era responsável. Naquele ano, a delegada chegou a se candidatar para o cargo de vereadora no Rio, pelo PSC, mas não foi eleita.
O Gaeco, em sua denúncia da Intocáveis 2, pediu que cópias do relatório produzido durante a investigação fossem enviadas para a 23ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos, com o objetivo de que seja apurada a conduta da delegada Adriana Belém à frente da 16ª DP (Barra da Tijuca). Além dela, a promotoria também cita o nome do delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello, titular da Delegacia de Defraudações, como suspeito de eventual "prática delituosa".
De acordo com o MP, Camillo — preso em casa — foi flagrado em uma "intensa sequência de diálogos" com Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle e Anderson junto com Élcio de Queiroz. O MP chegou a esse policial civil graças à análise de um telefone celular apreendido na Operação Lume, durante a qual Lessa e Queiroz foram presos.
O policial era tratado por Lessa como o “Amigo da 16”, em referência à delegacia da Barra da Tijuca, informou o MP. Segundo o órgão, o tratamento se repetia em "em vários trechos dos diálogos".
Amiga de jogadores de futebol e artistas
Em fotos e vídeos publicados em redes sociais, a delegada Adriana Belém exibe imagens com amigos famosos, como artistas e jogadores de futebol. Um dos que mais aparece em seu perfil no Instagram é Adriano Imperador, que já atuou no Flamengo e na Seleção Brasileira e que a chama de “madrinha”, mas atletas como Edmundo e Carlos Alberto, os pagodeiros Dudu Nobre e Xande de Pilares e o surfista e ex-BBB Pedro Scooby também figuram nos registros. Há ainda publicações com juizes, como Tula Corrêa Mello, além de advogados e policiais civis.
Nas postagens em seu perfil do Instagram, em que acumula 155 mil seguidores, Adriana Belém mostra também uma rotina social agitada, com festas em casas noturnas, sambas e pagodes, viagens a bordo de lanchas, idas a camarotes na Marquês de Sapucaí e ainda poses na varanda de seu apartamento, com vista para o mar da Barra da Tijuca.
Declaração no TRE
Durante a candidatura, a delegada Adriana Belém declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ter um patrimônio de R$ 1.887.515,34. Desse montante, ela informou ter R$ 180 mil em espécie, além de tem dois apartamentos - um de R$ 750 mil e outro que valeria R$ 370 mil, e um carro no valor de R$ 103 mil. Na última semana, ela fez publicações nas redes sociais mostrando um Jeep Compass avaliado em R$ 175 mil que deu de presente ao filho. O veículo foi enviado a uma blindadora após a compra e recebido ontem, na garagem do prédio onde moram, na orla da Barra da Tijuca, pelo estudante.
De acordo com a Secretaria de Planejamento e Gestão, do Governo do Estado do Rio, a delegada embolsou R$ 27,248.23 no último mês. Ela ainda acumula um cargo de assessora na secretaria municipal de Esportes e Lazer, pelo qual ganhou R$ 8.345,14 também em abril. Adriana foi indicada a pasta pelo ex-secretário Guilherme Schleder, que atualmente é pré-candidato a deputado estadual pelo PSD.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil destacou que “Adriana Belém está afastada de licença” e que “há anos ela está afastada de cargos da Secretaria de Polícia Civil”. A prefeitura do Rio informou que Adriana Belém será exonerada nesta terça-feira, após a deflagração da Operação Calígula.