Após Índia restringir exportações, preço do trigo dispara
Os preços do trigo já subiram aproximadamente 60% este ano
O trigo saltou a uma cotação quase recorde nesta segunda-feira (16) após a Índia ter anunciado que vai restringir exportações, expondo como a oferta de estoques da commodity está apertada em meio à guerra com a Ucrânia, que ameaça elevar ainda mais o preço dos alimentos.
No mercado de futuros de Chicago, a alta chegou a 5,9%, subindo para US$ 12,47 o bushel, o maior valor em dois meses e a apenas US$ 1 da maior alta registrada desde a invasão russa. Os preços do trigo já subiram aproximadamente 60% este ano, elevando o custo de quase todos os alimentos, de pão a bolos, passando pelo macarrão instantâneo.
Em Paris, o trigo moído subiu 5,1%, para € 431,75 (US$ 450) por tonelada, um recorde para os futuros mais ativos.
O surpreendente é que Índia não é um dos principais exportadores de trigo globalmente. O fato de que o movimento do país poderia ter um impacto tão grande apenas ressalta a perspectiva sombria para o mercado global de tribo. A guerra prejudicou as exportações da Ucrânia, e agora secas, inundações e ondas de calor ameaçam as colheitas na maioria dos grandes produtores.
"Se essa suspensão (das exportações pela Índia) ocorresse em um ano normal, o impacto seria mínimo, mas a perda dos volumes de produção da Ucrânia escancaram o problema", diz Andrew Whitelaw, analista do setor de grãos da Thomas Elder Markets, com sede em Melbourne.
A decisão da Índia de interromper as exportações de trigo veio após uma onda de calor recorde ressecou a safra em um período decisivo, impulsionando estimativas de queda na colheita. O risco para a produção criou um dilema para o país, que tentou preencher a lacuna do mercado gerada pela queda nas exportações ucranianas.
A Índia priorizou o mercado doméstico, ainda que isso possa manchar a imagem internacional do país como um fornecedor de confiança.
A decisão do país só faz crescer a onda de protecionismo na produção de alimentos desde o início da guerra na Ucrânia. Globalmente, governos vêm buscando garantir suprimento local de alimentos enquanto os preços disparam no setor agrícola. A Indonésia suspendeu exportação de óleo de palma, enquanto Sérvia e Cazaquistão impuseram taxas sobre embarques de grãos.
A bolsa de futuros de Paris teve alta recorde nesta segunda-feira (16), na sequência ao anúncio feito pela Índia.
As empresas que negociam commodities agrícolas estão decepcionadas com essa política. Um dia antes do anúncio, o governo indiano havia dito que estava enviando missões comerciais a países para explorar a possibilidade de ampliar as exportações de trigo. Isso não vai mais ocorrer.
"Muitos exportadores globalmente têm compromissos de compra de trigo indiano, que deveriam ser honrados", disse Vijay Iyengar, presidente do Conselho de Administração e diretor da Agrocorp International, com sede em Cingapura, que comercializa certa de 12 milhões de toneladas de grãos anualmente.