EUA

Biden denuncia supremacismo branco em homenagem a vítimas de massacre racista em Buffalo

O Presidente visitou nesta, terça-feira (17), o memorial das vítimas do atentado

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou nesta terça-feira (17) sobre o massacre racista que deixou 10 mortos em Buffalo, Nova York - SCOTT OLSON / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, denunciou com firmeza nesta terça-feira (17) o "veneno" do supremacismo branco e aqueles que ajudam a propagá-lo, após o massacre racista que deixou 10 mortos em Buffalo no sábado (14).

Nesta cidade do estado de Nova York, um jovem seguidor de teorias da conspiração perpetrou o massacre com um fuzil de assalto, no que o presidente americano descreveu como "terrorismo doméstico".

Um solene e emocionado Biden fez alusão aos seguidores da "Grande Substituição", uma teoria da conspiração de extrema direita segundo a qual a população branca e cristã dos Estados Unidos está sendo sistematicamente substituída por povos de ascendência não europeia.

"Peço a todos os americanos que rejeitem essa mentira e condenem todos os que a espalham para obter poder, votos e dinheiro", disse ele.

"Aqueles que afirmam amar os Estados Unidos alimentaram demais o ódio e o medo", declarou o democrata de 79 anos, sem mencionar nomes ou afiliações políticas.

"Esse veneno, essa violência não pode ser a história de nossos tempos", instou Biden, em referência aos massacres que o país viveu nos últimos anos contra afro-americanos, latino-americanos e judeus.

Morangos e bolo de aniversário
Biden começou seu discurso buscando confortar as famílias das vítimas: "chegará a hora" em que a lembrança daqueles que já não estão mais aqui "desenhará um sorriso nos lábios antes que apareçam as lágrimas", disse o presidente, cuja trajetória é repleta de dramas familiares.

Depois de mencionar cada uma das vítimas do ataque, ele relembrou suas histórias: uma morreu enquanto "comprava morangos para fazer seu doce favorito", outra procurava comida para uma "noite de cinema em família", um pai morreu enquanto comprava um "bolo de aniversário" para seu filho.

Vidas que estavam a serviço de uma comunidade e de suas famílias, como a de uma idosa que ia todos os dias visitar o marido em uma casa de repouso, ou a do segurança que perdeu a vida tentando impedir o assassino, evocou Biden.

Pouco antes, o presidente e sua esposa, Jill Biden, pararam por um momento diante do memorial improvisado no local do massacre.

Sob um forte sol, eles se aproximaram da montanha de flores, mensagens e velas que as pessoas foram deixando ao pé de uma árvore em meio a um silêncio quebrado pelo vento e pelos cliques das câmeras dos fotógrafos.

A primeira-dama depositou um buquê de flores brancas. Joe Biden fez o sinal da cruz depois de tirar os óculos escuros.

O presidente voltou a pedir a regulamentação das armas de fogo: "Não sou ingênuo. Sei que a tragédia vai acontecer de novo (...) Mas há coisas que podemos fazer. Podemos proibir armas de assalto em nossas ruas", afirmou.

O democrata há muito pede ao Congresso que proíba armas de assalto, como as usadas no sábado ou na Nova Zelândia em 2019, no massacre racista contra mesquitas em Christchurch que teria inspirado o suposto assassino de Buffalo, Payton Gendron, de 18 anos .

Além disso, Biden quer tornar obrigatória a verificação de antecedentes criminais e psiquiátricos para compradores de armas de fogo.

Mas todas essas iniciativas se deparam com a oposição republicana, contrária a qualquer regulação.

200 ataques em massa com armas de fogo
A organização Gun Violence Archive registrou mais de 200 ataques maciços com armas de fogo até agora este ano nos Estados Unidos.

Um dos massacres mais graves foi o cometido no último sábado por este jovem branco que se declarou "fascista", "racista" e "anti-semita" em um manifesto de 180 páginas.

Biden lembrou que decidiu concorrer à Casa Branca porque foi insuportável para ele ver as manifestações da extrema direita em agosto de 2017 em Charlottesville, no estado da Virgínia.

Mas desde sua eleição ele só conseguiu constatar que o país está corroído pelo ódio racial e ensanguentado por armas de fogo.

Limitado por sua pequena maioria parlamentar, confrontado por estados conservadores com amplas prerrogativas e cercado por uma Suprema Corte de direita, Biden teve que se contentar em atuar com decretos no controle das armas de fogo.