EUA flexibilizam sanções contra Venezuela para promover diálogo político
Segundo funcionário norte-americano, a flexibilização se refere a uma "licença limitada" concedida ao grupo petrolífero Chevron
Os Estados Unidos anunciaram nesta terça-feira (17) que vão relaxar algumas sanções contra a Venezuela, entre elas uma ligada à petrolífera Chevron, a fim de promover o diálogo entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição apoiada por Washington.
O governo Biden divulga essas medidas envolvendo a Venezuela um dia após levantar uma série de restrições a Cuba. Os dois países, assim como a Nicarágua, são considerados ditaduras pelos Estados Unidos.
Esta decisão está "vinculada a um acordo entre ambas as partes para a retomada das negociações" na Cidade do México e encontrar uma solução para a crise política venezuelana, "que deverá ser anunciada muito em breve", informou a jornalistas uma autoridade americana.
Ela especificou que o governo de Joe Biden tomou essas medidas "a pedido do governo interino venezuelano" liderado pelo opositor Juan Guaidó, que os Estados Unidos consideram o presidente legítimo da Venezuela.
O alto funcionário disse que este "alívio de sanções" à Venezuela se refere sobretudo a uma "licença limitada" concedida ao grupo petrolífero norte-americano Chevron no contexto do embargo ao petróleo venezuelano, imposto por Washington a Caracas em 2019 em uma tentativa de tirar Maduro do poder.
A flexibilização “autoriza a Chevron a negociar os termos de possíveis atividades futuras na Venezuela”, mas “não permite fechar nenhum novo acordo com a PDVSA (companhia petrolífera estatal venezuelana)”, explicou.
O Tesouro americano planeja revelar "outra medida" em uma data posterior, acrescentou. E enfatizou: "Nenhum desses alívios de pressão levaria a um aumento de renda para o regime".
O governo de Maduro, reeleito até 2025 em eleições denunciadas como fraudulentas por vários países, e a Plataforma Unitária da Venezuela, que agrupa a oposição, iniciaram negociações na Cidade do México em meados de agosto para encerrar a aguda crise política e econômica do país.
As conversas estão paralisadas desde outubro, quando Maduro as suspendeu em rejeição à extradição para os Estados Unidos do empresário Alex Saab, acusado de ser seu testa de ferro. Mas uma visita surpresa de enviados do governo Biden a Caracas em março levou à libertação de dois americanos detidos havia anos na Venezuela e à promessa de retomada do diálogo com a oposição.
Apoio ao governo interino
Segundo a imprensa, os Estados Unidos retirariam de sua lista de pessoas sancionadas Carlos Erik Malpica Flores, sobrinho da primeira-dama da Venezuela e ex-funcionário do alto escalão da PDVSA.
"Nenhum desses alívios de pressão levaria a um aumento de receita para o regime", ressaltou o funcionário de Biden. "Nosso enfoque tem sido apoiar o governo interino e a Plataforma Unitária, a fim de que o regime tome medidas para conseguir eleições livres e justas, por meio de negociações".
Nesse sentido, disse o funcionário, a política de sanções será "calibrada" para reduzir a pressão em caso de avanços em direção à restauração democrática, ou aumentada se o processo sair dos trilhos.
A estratégia de Biden, no entanto, gera tensões políticas internas. Bob Menéndez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado e membro influente do Partido Democrata de Biden, declarou-se a favor de uma solução negociada para a crise venezuelana, mas disse que "os Estados Unidos devem considerar apenas recalibrar as sanções em resposta a passos concretos".
"Dar a Maduro um punhado de dádivas não merecidas para que seu regime prometa se sentar para negociar é uma estratégia fadada ao fracasso", afirmou Menéndez, após criticar as medidas anunciadas sobre Cuba. Seu colega republicano Marco Rubio foi além, acusando Biden de "apaziguar" ditadores: "Não podemos seguir permitindo que os simpatizantes marxistas do governo Biden dirijam a política externa dos Estados Unidos."
Dezoito congressistas da ala esquerda do Partido Democrata pediram na semana passada a Biden que levantasse as sanções contra a Venezuela e continuasse o diálogo com o governo de Nicolás Maduro, após o "compromisso construtivo" da Casa Branca com a viagem a Caracas em março.