Casa-Museu Magdalena e Gilberto Freyre reabre as portas para o público
Espaço em Apipucos volta a receber visitantes que poderão contemplar o acervo restaurado do escritor e sociólogo pernambucano
Em meio aos azulejos portugueses que circundam os cômodos, livros. Precisamente mais de 40 mil exemplares – incluindo pelo menos uma edição de cada uma das que já foram lançadas de “Casa Grande & Senzala” e em seus nove idiomas.
Há também quadros de Cícero Dias e Lula Cardoso Ayres, tapetes e almofadas com bordados expostos, feitos à mão pela matriarca. Deparar-se com louças e pratarias faz parte do caminho, que também reserva relíquias épicas como uma das duas edições de “Os Lusíadas” (Luiz de Camões) que vieram para o Brasil, entre 150 que foram distribuídas pelo governo de Portugal mundo afora.
Esses são alguns dos itens afetivos que integram a vastidão histórica e peculiar da Casa-Museu Magdalena e Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife, que volta a abrir as portas ao público a partir de hoje depois de dois anos fechada para um projeto de restauro e conservação do espaço, fomentado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Sob o requinte secular dos objetos de cotidiano do escritor e sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987), a Casa-Museu, criada no mesmo ano da partida de Freyre, passou a abrigar após o restauro uma média de 5 mil peças – antes, constava no acervo 2 mil. Passaram pelo restauro/conservação desde fotografias antigas de família até objetos de vestuário usados pelo próprio escritor e leques da coleção de Maria Magdalena, com quem ele foi casado e dividiu o espaço por mais de 40 anos.
“Eu desconhecia algumas peças antes da restauração. Agora podemos ver a prataria tomando espaço na casa, os quadros totalmente recuperados e com a luz própria de uma obra de arte, além de outras descobertas que ainda podem dar lugar a publicações inéditas, com o restauro que também vamos fazer do acervo documental”, comentou Fernando Freyre Filho, neto de Gilberto e atual presidente da Fundação, que abriga além da residência em si, o Sítio Ecológico, o Memorial Gilberto Freyre, o Laboratório de Restauro e o Espaço Cultural, ambientes que também passaram por intervenções como pintura, revisão da rede elétrica e incremento à acessibilidade com a construção de rampas. Reforço na iluminação para visitações noturnas também integraram o restauro.
Fomento para acessar Gilberto Freyre
Com aporte de pouco mais de R$ 4 milhões do BNDES, o projeto, que viabilizou restauração e intervenções paisagísticas e arquitetônicas, também vai ser direcionado à publicação de um minicatálogo, criação de site que permitirá visitas virtuais em 360 pelos cômodos da casa e uma base de dados para pesquisa, bem como a preservação do acervo documental e bibliográfico.
Para Jamille Barbosa, gerente editorial e de acervos da Fundação, o trabalho, minucioso, vai proporcionar além de tudo, ao feito de desbravar possíveis ineditismos de Gilberto Freyre.
“Temos indícios de originais inéditos, vamos organizar todo o acervo para ter dimensão do estágio de desenvolvimento da obra. Em nenhum outro momento fizemos esse trabalho nos manuscritos dele, então certamente vamos ter novidades acerca disso. E já estamos em vias de assinar um contrato de direitos autorais com textos de Gilberto sobre o que era o Brasil antes da independência e pós o período”, ressalta a gerente.
“Encontrar conteúdos novos que possam trazer publicações, por exemplo, sobre a questão da escravidão a partir da relação e do apreço que ele tinha por Joaquim Nabuco, um dos grandes pensadores da época, é o que esperamos identificar”, complementou Fernando.
Serviço
Casa-Museu Magdalena e Gilberto Freyre (Fundação Gilberto Freyre)
Visitação de segunda a sexta-feira, nos horários das 13h/14h/15h e 16h
Ingressos R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia-entrada)
Rua Dois Irmãos, 320, Apipucos
Informações: 3441-1733